quarta-feira, dezembro 20, 2006

Sidney Miller

Sidney Álvaro Miller Filho nasceu em 18 de abril de 1945 e morreu em 1980, por vontade própria, aos trinta e cinco anos de idade. Foi dos maiores compositores que tivemos. Não tem a fama que merece. Alguma de suas músicas deveriam ser festejadas, estudadas e revisitadas periodicamente.
Lembrei de Sidney Miller por uma questão de justiça. Em tempos de muita quantidade e qualidades raras, faço questão de manter, pelo menos aqui nesse blog, um certo padrão de bom gosto.
A maioria das canções do poeta carioca tem letras extensas e bem elaboradas. Quando eu era rapaz ouvia tanto, tanto... Fiz sucesso em minha juventude por cantá-las sem esquecer os versos. Conhecia de cor: A Estrada e o Violeiro; Pois É, Pra Quê?; O Circo e Meu Violão. Ainda hoje me arrepio quando ouço qualquer uma delas, seja com o MPB4, com a Nara Leão, ou com o Caetano.
Presto minha homenagem ao grande artista, quem souber que leia cantando:

Pois é, Pra Quê?
Sidney Miller

O automóvel corre, a lembrança morre
O suor escorre e molha a calçada
Há verdade na rua, há verdade no povo
A mulher toda nua, mais nada de novo
A revolta latente que ninguém vê
E nem sabe se sente, pois é, pra quê?

O imposto, a conta, o bazar barato
O relógio aponta o momento exato
da morte incerta, a gravata enforca
o sapato aperta, o país exporta
E na minha porta, ninguém quer ver
Uma sombra morta, pois é, pra quê?

Que rapaz é esse, que estranho canto
Seu rosto é santo, seu canto é tudo
Saiu do nada, da dor fingida
desceu a estrada, subiu na vida
A menina aflita ele não quer ver
A guitarra excita, pois é, pra quê?

A fome, a doença, o esporte, a gincana
A praia compensa o trabalho, a semana
O chope, o cinema, o amor que atenua
O tiro no peito, o sangue na rua
A fome a doença, não sei mais porque
Que noite, que lua, meu bem, prá quê?

O patrão sustenta o café, o almoço
O jornal comenta, um rapaz tão moço
O calor aumenta, a família cresce
O cientista inventa uma flor que parece
A razão mais segura pra ninguém saber
De outra flor que tortura, pois é prá quê?

No fim do mundo há um tesouro
Quem for primeiro carrega o ouro
A vida passa no meu cigarro
Quem tem mais pressa que arranje um carro
Prá andar ligeiro, sem ter porque
Sem ter prá onde, pois é, prá quê?

4 comentários:

Anônimo disse...

Ei, ei, aqui estou,
Olha quem eu encontrei olha o que encontrei;_)
Um lugar no passado.
beijos
M.

Lord Broken Pottery disse...

Meg,
Puxa, você chegou bem longe, não é mesmo? Quando vi você e a Vivina falando sobre o Sidney Miller, nem lembrava que já tinha escrito sobre ele. É, sem dúvida, dos autores que mais gosto da MPB.
Grande beijo

Anônimo disse...

Caro Lord,
Primeiro, parabéns por postar a mais bela melodia e letra de Sidney Miller, "Pois é prá quê?".A angústia, melancolia e desilusão desta música são incomparáveis. O estranho é o mistério que ronda o suicídio dele. Como ocorreu? Por quê ocorreu? E algumas fontes relatam que ele morreu de enfarte(!). O site da editora "Outras Letras" (www.outrasletras.com.br)está tentando angariar recursos de leis de incentivos culturais federais para publicar um songbook-biográfico dele. O portfólio que consta no site mostra a qualidade deste trabalho, com biografia, fotos raras de Sidney, partituras,letras, etc. No país em que Ivete Sangalo e afins imperam, é difícil conseguir recursos para um livro essencial como este. Passe por lá e veja com seus próprios olhos e, quem sabe, dê uma força moral a esta editora que, quem sabe, no futuro próximo, a sorte muda.
Um grande abraço e, mais uma vez, obrigado e parabéns pela ótima lembrança do genial mas esquecido Sidney Miller.
Cordialmente,
Cássio Queirós
Belo Horizonte - Minas Gerais

Anônimo disse...

muito lixo na música é imposto pela grande mídia, globo, gravadores e fm's. Desde o melô brega chique de ivete sangalo até o breganejo universitário. Tenho pena de nossa juventude, que sequer teve a oportunidade de ouvir e conhecer o melhor da nossa riquíssima MPB. Edmilson Botéquio - advdotrabalho@hotmail.com