quinta-feira, fevereiro 21, 2008

As Time Goes By

O tempo passa nos trazendo surpresas. O futuro quase inexiste tão intimamente está ligado ao presente. O ritmo frenético dos acontecimentos vomita, diariamente, novidades difíceis de digerir. Sem muito questionamento abraçamos tudo, moderninhos, loucos para parecermos atuais, perfeitamente adaptados ao existir-tecnológico. Tudo isso tão naturalmente arraigado ao nosso cotidiano, que vez em quando nos surpreendemos, se o inusitado acontece.
Estar desplugado é condição assustadora, virou pesadelo.
Fico sabendo de um escândalo em família. Minha sobrinha, estudiosa, chegou em casa programando realizar um trabalho para o colégio. Encontrou, desespero dos desesperos, o computador sem acesso à Internet. Fez o que sempre faz, correu para casa de minha mãe, a avó, pretendendo chorar as pitangas em colo quente. Lá, acalmada a gritaria de queixas, mergulhada em carinho abundante, ficou sabendo de uma coisa estranha, a existência de enciclopédias. Foi apresentada aos livros que os tios utilizavam quando tinham a sua idade. Mal pode acreditar. Aqueles tomos amarelados possuíam tudo o que precisava. Índice, acesso rápido, independência total de eletricidade, comodidade, podiam ser carregados para todo o canto. Sentou-se, acomodou o grande volume sobre a mesa da sala, pesquisou, achou o que desejava. Com letra bonita e caprichada, exigência de quem é obrigada a evitar o velhaco copiar-colar, escreveu a lição.
Adoro quando o passado chega de mansinho pregando peças.

sábado, fevereiro 09, 2008

Words

A Ana Vidal, do excelente Porta do Vento, lançou-me o desafio de enfileirar doze palavras que façam a diferença para mim, das quais eu goste muito.
Esse tipo de coisa tem o dom de mobilizar-me. Passei o dia pensando nisso, seria possível escolher? O que faria um ajuntamento de letras ser especial?
Ao mesmo tempo que amo a possibilidade de dizer as coisas de forma bem dita, e gaste muito tempo procurando o jeito mais exato de incluir nas frases os vocábulos mais adeqüados ao pensamento, capazes de tornarem as idéias precisamente elaboradas, não acredito na beleza das palavras isoladas da moldura de um contexto. Elas são vaidosas, femininas, gostam de um entorno bem produzido, exibidas criaturas. Sozinhas, sem companhia, perdem boa parte do valor.
Como não pretendo fugir ao desafio, ficando sobre o muro, tentei algum critério que me ajudasse. Substantivos, verbos, quais seriam mais exuberantes, poderia caminhar por aí? Bobagem. Até os adjetivos, muitas vezes frívolos e desnecessários, têm, conforme a hora, seus encantos.
Fiquei um tempo na janela do quarto, sentindo a brisa que vinha lá de fora, gostosa, quase esquecendo dessa tarefa difícil. Agarrei, porém, a resposta que me fugia. Concluí, satisfeito, que meu gosto pelas palavras é imediato, enfeitiçam-me as que uso em meu último texto. Foi só retroceder e marcar, em cor diferente, as atuais preferidas.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Carnaval

Tinha prometido a mim mesmo aproveitar esses dias de folga produzindo um texto sem fantasia, desprovido de purpurina, confete, o menos eufórico possível. Não consegui. Sento aqui com a aflição de quem sabe que incorreu num grave erro para quem quer escrever: deixei escapar a disciplina. Mergulhei no cotidiano corporativo de cabeça e permiti que a distância das palavras, e o afastamento do ritmo produtivo, me fizessem estranhar a dificuldade encontrada agora. O vazio de idéias era esperado, fruto da falta de treino. Não devia estar surpreso. Escrever, como qualquer atividade, só é possível se respeitamos o ritual pertinente ao ato em si. Da mesma forma que sexo de boa qualidade exige preliminares, esporte aquecimento e trabalho rotina, o esforço literário precisa de dedicação. Deveria ter mantido a constância. Como fui relapso, sinto-me um pouco enferrujado, perdido.
E para não fugir ao tema, ficando mais à vontade nessa temporada de folia, vou logo despindo o verbo. Até quando veremos a mesma festa repetida? Embora o quesito originalidade seja um dos pontos de avaliação, nossa festa mais popular deixou de apresentar novidades. Todo ano é a mesma coisa. Gente desimportante demais ocupando a mídia por tempo demais.