sexta-feira, dezembro 21, 2007

Brainwork

Outro dia, conversando com a amiga Denise Rangel, do Sturm and Drang, falamos brevemente sobre questão que me fascina há tempos. Haveria inspiração quando escrevemos, estaríamos submissos à ela?
Não conseguimos levar a conversa até o fim, concluir nosso raciocínio. Lançava-se o livro do Valter Ferraz, do Perplexoinside: Capão, outras histórias, e precisávamos dar atenção aos presentes.
Escrever é trabalho. Requer método, disciplina, planejamento, vontade de se fazer bem feito. As palavras não brotam, longe de serem plantas. Escolhidas como em um quebra-cabeça, jamais caem do céu. A busca do melhor dizer precisa nortear o percurso criativo.
Devemos bater ponto diariamente, ter hora para sentar em frente ao texto. Só assim dominaremos completamente as idéias. Elas devem ser instigadas, cutucadas, provocadas até resolverem colaborar. E então, docilmente, felizes em surpreender, abrirão um leque de possibilidades ao escritor. Escolher é um ofício duro.
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Inspiração é desculpa de quem tem preguiça.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Coral De Natal

Há uma praça perto de casa repleta de pinheiros transportados. Sabe-se lá de onde cortaram esses patéticos vegetais. Com tamanhos variados competem lado à lado, oferecendo-se aos que passam. Existem pessoas que os compram, ansiosas por enfeitá-los com bolas coloridas. Quando diariamente tomo meu café da manhã, na padaria em frente, contemplo essa paisagem triste, natureza morta. Fico ali sentado, segurando a xícara com as duas mãos, observando, através da fumaça do leite quente, esse estranho exército verde tremulando, perfilado, bem comportado, disposto como em um coral. Os mais altos atrás, os médios no meio, os bem pequenos na frente. Se aquelas árvores soubessem cantar entoariam uma canção triste, tão cheia de mágoa e dor, que as pessoas desistiriam do Natal para sempre.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Failing To Develop Properly

Sexta-feira, na casa de minha mãe, à noite, o papo rolava solto. Minha irmã, surpresa, contava da discussão que envolveu a garotada, no último final de semana, em sua casa na praia, Barra do Saí. Meninos e meninas, aguerridos, todos querendo se expressar ao mesmo tempo, queimados de sol, falavam sobre o aborto. Uns contra, outros favoráveis, argumentavam com muita propriedade e paixão sobre o tema. Mariana estava entusiasmada por vários motivos. Ver que de forma expontânea aquele debate brotara, despertando interesse naquela faixa etária, era no mínimo surpreendente. Verificar que cada um tinha opinião formada, até os mais novos, grata constatação. Perceber que todos, sem excessão, eram capazes de se situar, defendendo suas posições, com boa lógica e vocabulário apropriado, motivo de admiração. Aquela turminha subira no seu conceito.
Não causou espécie para mim saber que minhas duas sobrinhas, Joana e Manoela, tinham posições antagônicas. A primeira, mais velha, favorável e a segunda, caçula, contra. Normalmente irmãos buscam acomodar-se ocupando espaços separados.
Os adultos presentes ficaram tão entusiasmados que propuseram duas novas questões: pena de morte e eutanásia.
Achei bobagem. Tratava-se de repetição do assunto, variações sobre o mesmo tema. Pena de morte é uma espécie de aborto atrasado, deveria ter sido feito antes. E eutanásia é um aborto autorizado pelo próprio feto desenvolvido, cansado de sofrer.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Bye Bye!

Sei que meu pai vai se revirar no túmulo, franzir a testa para o filho primogênito, ovelha negra nesse caso, mas adoro esporte. Tudo bem, meu velho, aceito que seja coisa de gente burra, visto a carapuça.
Vejo muita alegria nessa coisa da disputa, acho lúdico e sadio. Vale tanto para quando competimos com nossos limites, como quando, coletivamente, enfrentamos um adversário. Futebol, vôlei, tênis, corridas, natação, tudo desperta meu interesse, chama minha atenção. Gosto de acompanhar na frente da tevê, torcendo.
E sou tão fanático, por exemplo, pelo nobre esporte bretão, que torço para mais de um time. Sério, não estou brincando. Tenho em minha casa, na parede de um quarto, dois quadros. Um do Aldemir Martins em homenagem ao Corinthians, e outro da Monique Deheinzelin, celebrando o Santos. Tenho por esses esquadrões um carinho enorme. Eles, de maneira igual, aquecem meu coração, send0 capazes de me transmitir enorme felicidade. Digo, com a maior convicção, que não sei distingüir qual deles mexe mais com minha emoção. A mesma excitação boa, exaltação extrema, que o Peixe me traz quando ganha, sinto quando vejo o Timão perder.
Ainda ouço emocionado, as palavras vindas da arquibancada ontem:
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AQUI TEM UM BANDO DE LOUCO
LOUCO POR TI CORINTHIANS!
AQUELES QUE ACHAM QUE É POUCO
EU VIVO POR TI CORINTHIANS!
EU CANTO ATÉ FICAR ROUCO
EU CANTO PRA TE EMPURRAR
VAMOS VAMOS MEU TIMÃO
VAMOS MEU TIMÃO,
NÃO PARA DE LUTAR
EU NUNCA VOU TE ABANDONAR
POR QUE EU TE AMO!
EU SOU CORINTHIANS!
*
Aqui sentado, transbordando de alegria, aceno meu lenço branco para os mosqueteiros do parque São Jorge. Bye bye!