sexta-feira, janeiro 23, 2009

Words Again

Implico com algumas palavras, dificilmente as utilizo. Por mim aproveitaria a revisão ortográfica para excluí-las de nosso vocabulário. Jamais me ouvirão dizer ou escrever que minha "esposa" fez alguma coisa. Pior só a versão masculina: "esposo". Usá-las é feio, brega, de profundo mau gosto. Digo "mulher", ou "marido", bem mais elegantes e sofisticados. Não gosto daquelas que entram na moda. Hoje em dia tudo é "emblemático", vivia muito bem antes das coisas serem assim. Gostam também de "clarificar" os pensamentos, no sentido de explicá-los, esclarecê-los. Para mim ficaria melhor em roupa. Caso fosse publicitário produzindo uma campanha diria, criando um neologismo, que determinado sabão em pó "clarifica" mais as roupas. Ainda vai demorar um tempo para que aceite o "deletar", mas aí já é uma outra longa história, que não gostaria de "estartar" agora.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Cinema

Gosto de ir ao cinema sozinho. Não programo com antecedência o que vou assistir. Prefiro ir a um local com muitas salas, chegar na hora que mais me agrada, entrar na primeira sessão que irá começar. É o tipo de programa que me cura de tudo. Acabo vendo coisas boas e ruins, mas o saldo é positivo. O bom sempre permanece e o descartável vai para o lixo, esqueço. Como repito esta rotina semanalmente, enfileirando sempre mais de um filme, consigo manter-me atualizado com o que está passando. Além disso, à noite, antes de dormir, diariamente, escolho mais unzinho na televisão. Vício, paixão, não sei definir. Enquanto estou alí, observando a vida fictícia que passa na tela, não me preocupo com nada. Gasto mais um tempo, igualmente prazeroso, escrevendo minhas próprias histórias. Outro dia, num estalo, dei-me conta de que talvez prefira a ficção à realidade. Será?

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Quero-quero

Domingo acordei um pouco triste. Meu pai, caso existisse além de minhas lembranças, completaria oitenta anos. Meio sem saber a razão fui ao cemitério, costume que foi se espaçando, rareando, até tornar-se um ritual distante e meio sem sentido. Senti vontade de ir e obedeci ao impulso. Lá chegando gostei de ver a lápide bem cuidada, as placas de cobre dele e de minha avó brilhando, a grama bem aparada ao redor da pedra. Desconfiado, achava que podia estar jogando dinheiro fora ao pagar o serviço de manutenção. Como não freqüento o túmulo, acabo não fiscalizando os trabalhos. Fiz mau juízo da empresa responsável, ou será que eles capricharam por causa da data?
Um casal de quero-queros e seus dois filhotes bem bonitinhos, me recebeu com estardalhaço. Não gostaram de ver um intruso invadir sua privacidade silenciosa. É o que dá enterrar nossos entes queridos em campos relvados, habitat natural desses pássaros. Cada vez que tentava me aproximar, levar o vaso de flores ao seu destino, avançavam com as asas abertas, protetores. Agora, relembrando a cena, não consigo deixar de rir. Imagino que meu velho, se perguntando porque eu não havia trazido uma garrafa de uísque ao invés de flores, presente estranho para se dar a um alagoano, também deva ter se divertido. Na hora fiquei meio desarvorado, sem saber o que fazer. Minha sorte, porém, foi que um dos nenéns afastou-se dali e a família, sempre muito unida, foi atrás.
Pude então me emocionar um pouco, menos do que nas outras vezes, e conversar sobre literatura com o Ricardão. É como eu rezo, falo com ele sobre livros.