segunda-feira, janeiro 21, 2008

Wine Tasters

Agora todo mundo entende de vinho. É fácil observar isso em qualquer reunião que se vá. Logo aparecem copos enormes, autênticos aquários providos de pés. As pessoas então se perfilam, lançam olhares apaixonados para as garrafas, utilizam-se de ferramentas caras para abrí-las e servem-se. Ficam chacoalhando a pequena porção que lhes coube por um bom período, como se o recipiente de vidro contivesse substâncias que necessitassem ser misturadas. Falam então de vapores libertos. Com caras de idiota sorvem o conteúdo e põe-se a agitar o líquido na boca, movimentando a cabeça para cima e para baixo, olhares sonhadores, buscando na memória sabores escondidos. Encontram, e dão o veredito final. A bebida é de boa qualidade, sempre. Jovem, leve paladar frutado, entre o seco e o meio-doce, não muito encorpado, com eflúveos amadeirados, toque aveludado de cereja. A turma é boa, percebe tudo isso naquela rápida bochechada. E eu fico olhando esse teatro, abestalhado, morrendo de inveja. Minha língua é um desastre, mal separa o doce do salgado. No tempo em que bebia, e o fazia com tamanho entusiasmo que minha cota nessa encarnação já esgotou, beber era mais simples. Eu dava um trago, fazia uma careta, jogava um pouquinho para o santo e continuava o papo: cinema, mulher e futebol. Nada muito complicado.

sábado, janeiro 12, 2008

I´m In A Pet

Não sou especialmente afeiçoado a animais. Cresci, porém, em casa com muitos. Meu irmão, vocação perdida de veterinário, deveria ter cursado, vivia trazendo bichinhos de estimação. Cachorros, passarinhos de todos os tipos, papagaio, tartarugas, peixes, hamsters, convivi com toda essa fauna. Por ser egoísta demais, totalmente voltado para meu próprio umbigo e para as coisas que me interessavam, nunca dividi minha afetividade com esses amiguinhos do Rogério. Não pertenciam ao meu mundo.
Outro dia, passeando em um shopping, fazendo hora para ir ao cinema, parei em frente a uma loja. Percebi na vitrine uma bola de pêlos desgrenhados dentro de uma gaiola. Poderia ser um rato, um coelho, sem dúvida um ser estranho, média aritmética perfeita entre os dois, quem sabe um "ratelho". Espremia-se empurrando o rosto nas grades como se quisesse passar entre elas. O movimento franzia-lhe as feições, arreagaçando-lhe a boca, provocando a exibição crua dos dois dentões da frente que encostavam no metal da prisão. Olhar melancólico e furioso ao mesmo tempo, cansado. É triste ver a vida ser agredida de forma tão ignóbil. Quem poderia querer comprar aquilo?

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Made In Brazil

Não sou patriota. Isso das nossas aves gorjearem melhor do que as de lá de fora carece de lógica. Aqui, ou no Haiti, passarinho canta bonito, desde que em horário adeqüado. Meu país é estar bem comigo mesmo. Minha terra é onde encontro felicidade. Só quem não conhece o mundo, nunca viajou, pode insistir nesse orgulho tolo comparativo. Festejar ser brasileiro, viver declarando que somos o melhor lugar que existe, soa-me antigo.
Dentro desse espírito, debaixo dessa ótica, surpreendeu-me outro dia uma jovem que por mim passou. Trazia no dorso tatuado: Made In Brazil. Grande coisa!
Já disse, e repito, que nada tenho contra tatuagens. Meu sentimento com relação a elas é curioso. Oscilo entre achá-las bonitinhas e vulgares. Depende, é claro, da pessoa que as ostenta. Só não entendo quando escrevem. Nome de filhos, mensagens religiosas, vãs filosofias, tanta besteira... Pobre pele. Prefiro o corpo nu.