O poder é mesmo uma condição das mais atrativas. Quem o tem não deseja largá-lo, faz de tudo para mantê-lo. Acontece mundo a fora, em todos os países. Deve ser uma delícia ser presidente, um grande emprego, por sinal. Salário razoável, estabilidade renovada por mais um período, desde que a Constituição permita, e se não permitir sempre há a possibilidade de se alterá-la, mordomias, prestígio, um séqüito de empregados, e turismo, muito turismo. Não me venham dizer que é por patriotismo, altruísmo, ou qualquer outro "ismo", que o fulano decide se candidatar. Para acreditar nisso teria que ser mais jovem, ter um pouco mais de fé na condição humana, o que perdi, sabe-se lá quando, pelos caminhos que percorri.
Vejam o caso do Chávez. O desejo dele todos conhecemos, e onde há vontade, há um jeito. Caminha para, sem o menor acanhamento, perpetuar-se. Bom para ele.
Na vizinha Argentina, e não me venham dizer que implico com os hermanos, aconteceu mais ou menos a mesma coisa. Adotaram, porém, uma solução caseira. Saiu o marido, entrou a patroa: Madame Cristina Fernández Kirchner. As despesas continuarão sendo pagas pelas antigas vias, o salário idêntico, prestígio à família garantido, nem foi preciso mexer na Carta Máxima daquele país, talvez o casal tenha um pouco mais de pudor que o coronel venezuelano. E fato parecido, anos depois, está em vias de ocorrer nos States, onde a senhora Clinton poderá eleger-se matando as saudades do poder, e da Casa Branca. Quem sabe não arranja o equivalente masculino da Monica Lewinski e devolve o par de chifres ao velho Bill?
Dia desses, no segundo aniversário do Lula, ele tem dois e comemora ambos, coisa de gente feliz, já que um só, no meu caso, é de amargar, lançaram, ou deram-lhe, uma nova candidatura, a terceira, embrulhadinha pra presente. É claro que ele negou, disse que não seria bom para a nação, afirmou todas as vantagens da alternância política. Só que ele era contra a reeleição e está no segundo mandato. Ser presidente deve viciar. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Como sei que todos adoram o currículo dele, não cansando de elogiar o histórico desse operário vindo de Pernambuco, e como respeito muito esse bonito percurso, morro de medo que seja conspurcado. Lanço então, com toda humildade, uma candidatura alternativa: a da Galega. Acho que poderíamos, com algumas vantagens, eleger dona Marisa Letícia Lula da Silva.