quinta-feira, julho 30, 2009

Bullying

O menino ficou nu na frente do espelho. Fechado em seu quarto, procurou em cada pedaço da carne exposta. Olhou debaixo dos arranhões, apalpou os vergões, seguiu com o dedo a ferida purulenta mais antiga, a casca começando a se formar. Sentiu na boca o gosto amargo do coração machucado de morrer. Limpou do rosto, com a palma da mão cortada, o sangue diluído nas lágrimas. Engoliu um soluço que teimou em subir, invadindo a garganta rouca de gritos. E antes que o corpo se desfizesse, insistiu em buscar onde desligar a dor. Nada encontrou. Solitário, resolveu desistir. Abriu a janela e voou para longe dali, arrepiado de frio.

sexta-feira, julho 24, 2009

Reforma Ortográfica

- Cadê o seu chapeuzinho,
x
não me diga que perdeu?

x
- Quem, eu? Fui mais é roubado,
x
só me deixaram o nexo.

x
- Sigo agora meu voo,

x
estranhamente pelado,

x
saudoso do circunflexo.

segunda-feira, julho 20, 2009

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Em uma de suas músicas Cazuza diz: "adoro um amor inventado". Outro dia peguei-me pensando nestes versos. Os bons poetas nos fazem refletir sobre as palavras. Não seria todo amor, antes de qualquer coisa, fruto de nossa imaginação? Creio que sim. Primeiro acreditamos que gostamos e somos correspondidos, encontramos então quem tenha a mesma fé com relação a nós mesmos e, inspirados, antecipamos em nossos corações as mais variadas alegrias: teremos a melhor transa, receberemos o mais belo sorriso, passearemos de mãos dadas, ouviremos, apaixonados, os sinos tocarem junto da mulher amada, até que morte nos separe. A emoção nos afastando da realidade, plenos de expectativas criadas e recriadas, felizes. O bom do amor é que é irreal em sua origem. E permanece, para sempre, se for verdadeiro, inventado, e inventando-se.