quarta-feira, janeiro 31, 2007

Bicho do Mato

Já escrevi que gosto de novelas, um de meus sonhos seria escrevê-las. São das poucas coisas que sabemos fazer bem. Costumo acompanhar com vários interesses: roteiro, argumento, atuação dos atores, linguajar, usos e costumes. Considero que retratam bem o nosso país, cultura, o que somos. Sempre que posso reservo um tempo para acompanhá-las.
Não sou de desistir das coisas no meio. Quase nunca abandono um filme na metade, por pior que seja, mesmo procurando assistir de tudo, já que sou cinéfilo. Jamais largo um livro pela metade, apesar de ler bastante. Acabo de jogar a toalha com uma novela quase no fim.
Quando comecei a acompanhar Bicho do Mato, da Record, novela de Cristianne Fridman, foi de caso pensado. Acho importante que não exista monopólio em nenhuma atividade. O fato de termos mais um canal fazendo trabalhos de qualidade, ampliando o mercado de trabalho para os atores, me pareceu louvável.
No começo até que gostei. Mostrava o Rio lindamente, tinha toques de Pantanal com seu núcleo fazendeiro, as coisas iam bem.
Novela na Globo, na Record, em qualquer canal ou parte do mundo, sempre trata da luta do bem contra o mal. É uma guerra com várias batalhas vencidas pelos bandidos, o mocinho se dando bem em algumas poucas, ganhando e casando no fim. Não foge muito disso. Temos que ter paciência para ver os melhores atores, que geralmente interpretam os maus, judiarem diariamente dos bonzinhos. No final, sabemos, irão se dar mal. É o que nos prende. A convicção de que um dia, diferentemente da vida real, com certeza, o bem vencerá. Temos assim nossa catarse.
A escritora de Bicho do Mato se perdeu. Ao envenenar Cecília (Renata Dominguez), submetendo-a a uma hepatite medicamentosa fulminante, que a levará a um transplante de fígado, antecipou a vitória do mal. Por mais que o marginal psicopata Ramalho (Jonas Bloch) perca, mesmo que morra no final, na média terá vencido. Fora todas as mortes que causou, terá deixado doente e dependente de remédios, para o resto da vida, a heroína. Perdi a paciência. Cansei de ver personagens mal resolvidas como o Mariano (Almir Sater), por exemplo. De perceber erros de continuidade de um capítulo para outro, de assistir, passivo, à ginástica mirabolante para esticar os capítulos ao máximo. Desliguei a televisão.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Old Friends

No que tange a amigos me considero um sujeito de sorte. Os que fiz pela vida mantenho, embora não os veja sempre, ou conviva cotidianamente com eles. Volta e meia os encontro e é sempre uma celebração. O carinho se renova, velhas histórias são relembradas, afastamo-nos felizes, realizados, corações aquecidos por esse carinho antigo que vem, muitas vezes, ainda dos tempos de colégio.
É um sentimento diferente. Certeza de que aquele amor nascido lá atrás, em momento especial da existência, não irá se acabar. É por isso mesmo, por essa convicção, que esse estar junto fortuito é tranqüilo, prazeroso, desprovido de ansiedade. Podemos festejar animados, remoçados pelas conversas que mantemos, o passado voltando para nos acarinhar.
Aconteceu novamente essa semana. Um amigo que não via desde que saí da escola, em 1972, telefonou-me. Inicialmente confundiu-se, relevou o Filho que carrego no nome, discou para casa de minha mãe e perguntou, atrapalhado, por meu pai. Informado de que havia falecido faz tempo explicou-se, desfez as dúvidas e chegou, finalmente, ao meu número.
Lembramos de quando, nas vésperas de provas, trancados no quarto para estudar, saíamos pela janela e ganhávamos a rua, indo empinar pipas. Era meu vizinho de quarteirão, colega de classe, estávamos sempre juntos. Vive agora em Juiz de Fora, morou cinco anos na Itália, casou, tem um casal de filhos, trabalha com eletrônica. Falo também de mim. Conta-me que engordou, pesa agora 90 quilos. Ficamos bons minutos conversando. Recordar é viver!

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Lightless

Calor e chuva. É de endoidecer qualquer um! Toda hora cai um toró na cidade. Saímos fechando janelas, vitrôs, as portas. Raios, trovões e pronto, cai a energia, basta uma garoa para isso, nem precisa ser tempestade. O ventilador que havíamos ligado brocha. Presos, abafados, no escuro, molhando o pijama e os lençois de suor, lembramos que o despertador, elétrico, não irá funcionar caso a Eletropaulo reestabeleça o serviço, ficará piscando. Levantamos procurando na gaveta aquele velho, barulhento, de corda, que havíamos aposentado. Para acertá-lo precisamos enxergar os ponteiros, consultar as horas no relógio de pulso. Corremos então para a cozinha atrás de vela e fósforos. Assim que acertamos o horário, no momento em que voltamos para o suadouro do travesseiro, a força volta. A luz do banheiro, que esquecemos acesa, ilumina o quarto, inconveniente. Resmungando, nesse momento já estamos reclamando baixinho, levantamos para apagá-la. O zumbido do ventilador já recomeçou, é o preço que pagamos por um pouco de ar circulando no quarto, o barulhinho ruim. Deitamos, fechamos os olhos, viramos para o lado. Em nossa frente, na cabeceira, o rádio relógio alterna sua luz verde, apagando e acendendo um horário falso. Tentamos ignorá-lo já que o antigo está do seu lado, correto, marcando adeqüadamente o momento em que aquele inferno terminará, quando despertos e bem dispostos, iremos trabalhar. Viramos para o outro lado. O tique tac cresce em nossos ouvidos, não nos embala. Desistimos. Acendemos o abajur, ajustamos o despertador elétrico e guardamos o barulhento no fundo da gaveta. Não adianta. Continuamos a ouvir o áspero som agora abafado. De pé, praguejando, reclamando em alto e bom som, transportamos aquela porcaria para a cozinha, bem longe do quarto. Voltamos correndo para a cama, enfezados. Tropeçamos nas sandálias que esquecemos de calçar. Deitamos. Raios, um trovão nos assusta, traz o coração para nossas bocas. E a luz acaba novamente. Assim gastamos a noite.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

In Two Minds

Leio que a Sociedade Zoológica Inglêsa recebeu 75.000 euros para tentar impedir a extinção da formiga vermelha (Myrmica sabuleti). Fico dividido. Para que diabos servem as formigas? Vivo às turras com esse bicho. Em meu apartamento, volta e meia, aparecem sem convite. São, porém, de outra família, sulamericanas e subdesenvolvidas. Minúsculas, andam em cima da pia da cozinha à procura de alimento, doidas, como eu, por doces. Gasto, semestralmente, um dinheirinho com dedetização. Só assim consigo que resolvam ir pregar em outra freguesia. Mas voltam, sempre voltam, logo que o efeito do veneno termina.
A história do iminente sumiço da formiga britânica encarnada é interessante. Curioso analisar as sacanagens que rolam no mundo animal. A sua grande escassez provocou a extinção da borboleta Inglêsa (Maculinea arion), também conhecida, pelos mais íntimos, como grande azul, em 1979. A lagarta dela, depois de crescer vegetariana, deixava a planta onde vivia e, vai ser ardilosa lá longe, disfarçava-se de larva de formiga vermelha. Como conseguia, através de glândulas químicas, atrair as verdadeiras, era transportada para o formigueiro onde, verdadeiro cavalo de Tróia, tornava-se carnívora, alimentando-se dos ovos e larvas de seus hóspedes. Eventualmente, mais tarde, tornava-se pupa e emergia como borboleta.
Não se deve desrespeitar o ecossistema. E sabem o motivo da diminuição das formigas vermelhas do Reino Unido? Tem a ver com menos ovelhas nos pastos. A formiga precisa de calor, logo a vegetação tem que ser rasteira. Com a menor quantidade de ovelhas, não me perguntem a razão, o capim tornou-se alto, prejudicando o habitat ideal para o bichinho rubro.
Pois é, fico realmente entre dois polos. Certo que não me agradam as formigas. Certíssimo que as grande azuis, embora bonitinhas, são ordinárias, mereceram o destino que tiveram. Mas... E esse equilíbrio tão precário?

terça-feira, janeiro 23, 2007

Dullness!

Uma das coisas que mais me custa aturar é gente folgada. Vocês já repararam como o mundo está cheio deles? É o cara que fica sentado no ônibus e deixa a velhinha de pé, que empurra e não pede desculpa, fura fila, fala alto, fuma onde não deve, o mal educado, enfim. Todos os dias cruzamos com pencas deles, os imbecis de plantão.
É tão grande o universo dos folgados, que admite nuances. Temos os que são superlativos, sentam-se com as pernas abertas coçando o saco quando querem, e os discretos, silenciosos, incapazes de conversarem no cinema. É desses que tenho medo.
Incluo entre os folgados reservados aqueles que se dizem poetas. Nunca viram? Eu já, sou mesmo infeliz. É o que no meio da conversa insinua-se e diz que escreve umas coisinhas. Imediatamente mudo de assunto, macaco velho. Geralmente pergunto se assistiu ao último jogo do meu time, digo que o Luxemburgo sabe das coisas, comemoro os recentes resultados. Nem sempre, porém, dá certo. O folgado renitente sempre consegue me enrolar. Diz que o futebol que o Tabata jogou foi pura poesia, vê-se logo a má intenção do indijitado, e aproveita para se declarar poeta. Tem sempre por perto suas obras completas e as oferece, já que entendo das coisas. Pede que as leia, dê minha valiosa opinião. Acabo entregando os pontos e recebo o calhamaço, cheio de páginas, com cara de parvo, sorrindo amarelo. E o folgado, à vontade como de praxe, impõe-me prazo, adianta que liga no dia seguinte, para saber o que achei. E afasta-se sorrindo, missão cumprida, afirmando ter certeza que vou adorar.
Perco meu tempo. Meu São Fernando Pessoa, ajude-me! Os folgados pretensos poetas sempre desconhecem o que são versos. Invariavelmente metem-se a sobrepor frases sem critério, métrica ou ritmo. O resultado inevitável são obras completas de asnos.
O telefone toca e ouço um zurro. É ele acordando-me para ouvir elogios. Se eu fosse folgado...

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Mário Quintana

Uma cara amiga de Barcelona, conhecedora das coisas brasileiras, que estudou a nossa língua e fala com sotaque de Portugal, manda-me um e-mail curiosa para saber sobre Mário Quintana. Quer saber quem é, se eu o considero bom.
O que dizer desse poeta de Alegrete? Informo que é ótimo, dos melhores que temos por aqui. Talvez menos reconhecido do que deveria, como tantos da terrinha.
Ele não precisa de espaço para dizer muito. Seus textos mais curtos guardam enormes significados.
Não sei se acontece com vocês mas adqüiri estranho hábito em minhas conversas. Sempre que ouço alguém falar de sentimentos, contar sobre as agruras por que tem passado, na hora de emitir opinião concluo afirmando que a dor é de quem tem. Não dá para ir muito além disso. Por mais que entendamos, por mais que sejamos simpáticos ao que nos está sendo dito, as dores são particulares. Mário Quintana, pelo visto, achava a mesma coisa, embora melhor:

Dos nossos males
A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Venezuela

Reencontro um conhecido que acaba de voltar de férias na Venezuela, é filho da terra. Conta-me que ficou pouco tempo, o suficiente para rever os pais, já que tem procurado diminuir os períodos de estadia por lá. Analisa a situação atual do país com tristeza. Afirma que o processo democrático, e a popularidade do atual presidente, proporcionaram um estado de coisas que o assusta. Prefere estar longe do solo natal.
Hugo Chávez acaba de pedir ao Congresso dezoito meses de poderes absolutos. Precisa dessa "boa vontade" para começar, sem que o atrapalhem, o socialismo bolivariano. Os deputados de lá certamente, já que a maioria apoia o chefe do governo, irão dar-lhe carta branca. Aceitarão a tese, das mais esdrúxulas, que para se melhor governar é necessário um legislativo passivo, de preferência calado.
Há poucos dias incluí o histriônico dirigente entre os ditadores de plantão no pedaço. Aliás, buscando precisão, disse que ele engatinhava, aprendia, tinha tudo para evoluir. Só que o cara é esforçado e de lá para cá cresceu muito, irá bem mais longe. Chama-me a atenção o fato de colocarem-no como produto de uma escolha democrática. Será que o regime político, baseado nos ideais iluministas, aceita o dito cujo populista como representante? Acho que não. Gente como Hugo Chávez, tanto quanto outros mandatários que estão por aí, são tipos de cobras, sabem hipnotizar o povão. A escolha nunca é consciente.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Vikas Swarup

Vikas Swarup, 43 anos, indiano de Allahabad, é diplomata de carreira, vive em Nova Deli e estreou como escritor com o livro: Sua Resposta Vale Um Bilhão, ed. Cia das Letras.
Conta a história de um jovem garçom, Ram Mohammad Thomas, que vence um programa de perguntas na televisão, arrecadando um prêmio de um bilhão de rúpias (cerca de 22 milhões de dólares).
A televisão recusa-se a pagar o prêmio por considerar que o vencedor, um ignorante órfão sem estudo, não teria como saber as respostas sem algum tipo de fraude. O poder da emissora inadimplente, que não tem como pagar o que o rapaz ganhou, além da corrupção policial, levam Ram para a cadeia. Uma advogada consegue soltá-lo e passa uma noite ouvindo a história da vida do moço. Cada uma das doze questões respondidas por acaso, pura sorte, está diretamente ligada com acontecimentos da vida do indiano. Temos de tudo: humor, emoção, ação e curiosidades. Entretenimento dos mais agradáveis.
É muito interessante encontrar nas páginas do romance o cotidiano da Índia contemporânea, universo por nós totalmente desconhecido.
Como já disse tantas vezes por aqui, considero-me um sujeito invejoso. Achei a idéia do livro, e a maneira como foi elaborado, genial. Pena que não fui eu quem idealizou. Os direitos çinematográficos já foram vendidos. Logo, quem sabe, estaremos acompanhando essa bela história na telona.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Having A Word With Myself

Alguns sentimentos me tomam de surpresa, tenho dificuldade em entender a razão deles já que são absurdos, deveriam inexistir.
Diariamente, a caminho do local onde almoço, passo por um morador de rua. É um negro gordo, sério, silencioso, que passa a maior parte do tempo sentado em um banco de um ponto de ônibus. Aquela é mais ou menos a sua casa. Quando tem sono deita-se por ali mesmo e dorme seu sono despreocupado. Gosta de cozinhar a própria comida, faz questão dela quente. Quando tem fome dobra a esquina, caminha até um canto da ruazinha estreita, acende modesta fogueira, prepara o cardápio do dia e come. Não se afasta consideravelmente daquela pequena área. Muitas vezes, quando passo mais tarde, encontro-o palitando os dentes e fumando um cigarrinho satisfeito. Parece de bem com a vida.
O problema é que implico interiormente com o marginal. Tento entender o motivo. Deve ser bom viver sem obrigações. Ele não tem contas a pagar. Arranja o alimento no restaurante em frente, há sempre algum sobrando. Nada de horários, não usa relógio. Colesterol, câncer, pressão alta, stress, nada disso o incomoda. Não há espelho onde vive, ganha peso sem culpa.
Passo por ele correndo atrás do rabo como sempre. O olhar que lhe dirijo é de inveja, está claro, ela aparece onde e quando menos esperamos.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Claustrophobia

Alguma coisa aconteceu, só que não consigo localizar no tempo. A impressão que tenho é que ganhei um medo novo. Bom, não?
Antigamente não prestava atenção quando entrava em ambientes fechados, sem saída. Agora fico preocupado, respiro fundo, analiso maneiras de fugir dali. Elevadores cheios, por exemplo, são lugares de onde quero me afastar o mais breve possível.
Aterrorizei-me com o episódio da linha 4 do metrô de São Paulo. Não pude deixar de me imaginar em uma van, espremido, no escuro, enterrado, sem escapatória. Será que foi assim? Será que a morte demorou para chegar, o ar acabando aos pouquinhos, lentamente? Coisa horrível!
Ontem à noite foi difícil conciliar o sono. Na solidão de meu travesseiro, no momento em que estou mais comigo, vinham-me as imagens do noticiário televisivo que acabara de desligar. E o pavor foi chegando lentamente. Um buraco imenso em Pinheiros, bairro onde moro, abriu-se no meu coração. Tristeza... Como aceitar essa loteria da vida que apaga quem passa na calçada distraído? Viver é cada vez mais um jogo, roleta-russa. A morte deveria ser menos criativa.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

As A Toucan

Ser oposição é mais fácil do que governar. Mesmo assim ainda metem os pés pelas mãos. Acho que os tucanos deveriam respeitar quem os elegeu. Nem Aldo, nem Arlindo, o Chinaglia, que os analfabetos pronunciam Xinalha.
Para os deputados do PSDB que consideram optar por um dos dois, faço alguns reparos. O Aldo é o candidato do homem. Representa o perdão dado aos corruptos, a safadeza, um dos períodos mais negros de nossa Câmara, a gordinha de amarelo dançando. Já o Arlindo é quase a mesma coisa. O segundo candidato do homem. O partido dele no poder, o PT outra vez, dando a volta por cima, perdoando os mensaleiros, anistiando Zé Dirceu.
Será que não haveria uma terceira via?
É claro que há. Política é sentar e discutir. Escolher um candidato limpo, com um passado que o recomende, sem compromisso com toda a nojeira que se viu é o que qualquer opositor decente deseja. E temos, tenham certeza, muitos quadros com essa característica. Se o Jutahy Jr. pisou na bola, que vá pregar em outra freguesia, não é o líder que queremos, não nos representa. Que seja precipitado em outro posto.
Vamos escolher o nosso candidato?

quinta-feira, janeiro 11, 2007

You Tube

Há uma profunda contradição entre a necessidade que os artistas têm de preservar sua intimidade e, ao mesmo tempo, usar todos os canais possíveis para manterem-se em evidência. Se o cara é famoso, se está diariamente na telinha, no rádio, nas revistas e jornais, precisa tomar alguns cuidados básicos. Não dá para agir como se fosse um simples mortal.
A retirada do ar do site do You Tube, atendendo a determinações legais, é para mim um atentado às liberdades. Sou, e sempre fui, contra qualquer tipo de censura. Existe toda uma questão que precisa ser discutida, não é o caso de apenas se proibir. A praia é um local público. Ninguém entrou na casa da artista em questão, ou de seu namorado, e os registrou transando, sorrateiramente. O ato se deu ao ar livre, para quem quisesse ver. Foi filmado sem planejamento, por acaso, como um capítulo apimentado de novela. Trouxe benefício aos protagonistas, que ganharam divulgação grátis inimaginável. O resto é arbitrariedade e, como desde o início, mais um golpe publicitário.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Detective Stories

Cresci lendo livros de mistério. Muito cedo aprendi que a fórmula para que nos mantenhamos bons leitores passa pela diversificação. Sempre alternei literatura pesada, séria, com textos mais palatáveis, digestivos. Aproveito, imediatamente, para fugir de uma classificação superficial. Não considero, em termos de qualidade, o romance policial menos importante.
A Inglaterra de Conan Doyle nos deu Sherlock Holmes, o início do gênero. Apareceram depois, ainda no Reino Unido, outros mestres: Agatha Christie, P.D. James e Ruth Rendall. Curiosamente senhoras, em universo violento, criando e solucionando, com muita competência, intrincados crimes. Personagens queridos e bem delineados ganhando forma e fama: Hercule Poirrot, Miss Marple e Comandante Adam Dalgliesh, por exemplo. O raciocínio dedutivo à serviço da nossa diversão. E ainda na Europa, mais especificamente na França, a genialidade de Georges Simenon e seu Comissário Maigret.
Dos Estados Unidos outras feras. Mais crus, violentos e sexualizados, os argumentos desenvolvem-se com igual força. Lembro de meu fascínio, ainda muito jovem, pelos livros de Rex Stout. O detetive Nero Wolf, gordo, desprovido de humor e criador de orquídeas que, sem nunca sair de casa, resolvia os casos baseado nas informações trazidas pelo mulherengo Archie Goodwin. E o que dizer de Dashiell Hammett e Raymond Chandler? E como se não bastasse, ainda, a excelente texana Patrícia Highsmith, criadora do anti-herói Tom Ripley, assassino totalmente amoral.
E como falo de gente que li e gostei, aproveito para sugerir mais um autor americano: Ross Thomas. Acabo de ler Espinheiro, que saiu pela Record. Conta a história da luta de Benjamin Dill para descobrir quem matou sua irmã Felicity, investigadora policial. É excelente pedida, de pegar e não largar até o fim, digno de todos os citados anteriormente.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Negligence

Outro dia afirmei que procuraria ser mais tolerante com o homem esse ano. E dá?
O assunto seca não é propriamente novo em nosso país. O escritor Graciliano Ramos escreveu em 1938 um livro inteiro com essa temática. No excelente e indispensável Vidas Secas coloca uma família de retirantes: Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais Velho e Menino mai Novo, pelejando em um mundo esturricado pela falta de água. Temos portanto, quase setenta anos sem grandes novidades em matéria desse horror que assola nossos irmãos nordestinos.
Talvez fruto do mau humor com que a natureza tem devolvido as ofensas que lhe fazemos, vivemos mais um ano sem chuvas na região nordeste. Cerca de 220 municípios decretaram estado de calamidade pública.
E o homem?
Deixamos ele trabalhar e resolveu tirar férias. Embora goste de esculhambar os ricos e a classe média, procurou o lugar símbolo dos abastados paulistas: foi para o Guarujá. Espera, pacientemente, que o tempo melhore para poder pescar.
Enquanto isso os conterrâneos do presidente, aqueles que lhe deram um novo mandato, anseiam por um novo programa. Quem sabe um Sede Zero?
O homem não tem com os brasileiros lá de cima, o mesmo carinho que a cachorrinha Baleia teve com sua família, caçando preás para os alimentar. O homem foi reeleito e está descansando. Deixa o homem descansar em berço esplêndido.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Vers Le Sud

Cinema é uma de minhas paixões. Como não sou especialista na matéria freqüentemente me pego tentando definir critérios que deveria utilizar para classificar um filme como bom ou ruim. Queria poder ir além do simples gostar ou não, possuir bagagem concreta capaz de ajudar nas opiniões que emito. Na falta de melhor embasamento apelo para a duração da emoção. Explico, percebo que em matéria de qualidade, a obra que me faz pensar mais tempo, que permanece um período maior estimulando meu sentimento, geralmente merece conceito elevado.
Baseado em três romances do escritor haitiano Dany Leferrière, esilado pela ditadura Duvalier, dirigido por Laurent Content, com produção franco-canadense, o filme Vers Le Sud (Em Direção ao Sul), provocou-me desde o início. Ainda hoje, três dias depois de assistí-lo, pego-me tocado por algumas das cenas.
A história até certo ponto é simples. Três americanas cinqüentonas passam férias no Haiti, espécie de paraíso idílico, no final dos anos setenta. Em um universo de muita pobreza, o país já era pobre nessa época e só piorou, e de muita violência comandada pelos tontons macoutes, trocam prazeres sexuais por presentes e dinheiro. Disputam a virilidade do jovem Legba, consciente de seu papel de prostituto.
O perturbador para mim foi perceber a outra penúria extrema, não a propriamente dita, que incomoda mas com a qual, infelizmente, já nos acostumamos. Falo da miséria afetiva. Jovens senhoras desesperadas em busca da ternura que o mundo exterior lhes recusa. A solidão dos grandes centros, o abandono em que a mulher, ao perder o frescor exigido pelos padrões de uma sociedade que cultua juventudes ciliconizadas, se encontra. Nesse sentido o argumento é triste, duro como um soco no estômago. O contraste entre a juventude negra de quem se vende para ser livre e de quem, amodrontada pela imagem menos lisongeira que o espelho revela, exterior e internamente, paga para ter amor.
Há que se elogiar, mais uma vez, o excelente trabalho de Charlotte Rampling vivendo a arrogante Ellen, professora de Boston.
Embora goste de sair com a alma leve do cinema, o dinheiro foi bem empregado.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Birthdays

Tenho sérios problemas com meu aniversário, em janeiro, hoje. Geralmente começo a murchar um pouco antes. Passo pelo Natal e Ano Novo amuado, desconfiado, triste. Não acho bom ficar mais velho. Sei que tudo é uma questão de ponto de vista, simbologia, não se está pior agora do que ontem. Na verdade, desde o instante de nosso nascimento, caminhamos para o inexorável, o encontro com a morte. Então, quando chega o dia dos meus anos, lembro que somei um no contador da minha idade e a coisa pega, dói.
É claro que é bom quando os parentes e os amigos festejam, cumprimentam, lembram a data de forma carinhosa. Quem não gosta de um agrado? Eu gosto, muito.
Voltando ao terreno da relatividade poderia comemorar, fazer o jogo do contente. Estou em boa forma física, pratico esportes regularmente, não fumo, não bebo, tenho emprego, sou resolvido afetivamente, não deveria pensar em bobagens. Gastei mais um período de minha cota mas em compensação tudo indica que meus bons hábitos, dentro da normalidade, esticarão para um pouco mais tarde o indesejado momento do fim.
Resumindo falo do medo que sinto. Assusto-me com a velhice.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Asking For Trouble

Tem gente que devia se mancar. O nosso prefeito, desconhecido por cerca de 45% da população, é um exemplo típico. O Sr. Gilberto Kassab, idealizador da lei que proíbe: outdoors, anúncios luminosos, propagandas em fachadas de prédios, telões eletrônicos, panfletos e até propaganda nos taxis, devia estar louco ou querendo, através da polêmica, melhorar um pouco sua porcentagem de conhecimento quando decidiu apresentar o projeto.
Embora não seja publicitário tenho grande simpatia pela classe. Duas das pessoas que mais admirei na vida, meu pai e meu tio, atuaram no ramo e fizeram nome nele. Fico, portanto, revoltado quando agridem o setor. A medida estúpida, e sem o menor sentido prático causará, sem a menor sombra de dúvida, demissão no meio.
Dá vontade de voltar ao início do Tropicalismo e sair gritando: "É proibido proibir!". Como toda lei extemporânea deverá ser contestada na justiça, liminares serão impetradas, tem tudo para não pegar. No Brasil é assim, tem lei que pega e que não.
Leio com muita revolta as explicações de uma síndica de um prédio do centro. O enorme anúncio afixado em uma de suas paredes, permitiu que todo o edifício fosse reformado além de redução expressiva no valor do condomínio. Com a nova lei, os idosos que lá habitam terão majoradas suas mensalidades.
É isso, tem sempre um inventor de plantão querendo aparecer às custas dos outros. A medida é inócua, entristece a cidade ao privá-la das cores dos anúncios, favorece o desemprego. Qual seria o interesse escondido atrás disso tudo? É o que dá ter prefeito de plantão que não foi eleito.

terça-feira, janeiro 02, 2007

New Year's Resolution

Começou o ano bom, como se dizia no passado. Os antigos tinham mais razões para serem otimistas. Acostumei-me no momento da virada, pouco antes do barulho infernal dos fogos de artifício, a prometer silenciosamente, com razoável emoção, coisas que nem sempre cumpro, mas que desejaria ser capaz de. Esse fim de período não foi diferente.
Vou bater menos no homem, deixá-lo trabalhar para ver o que acontece. Como prova de boa vontade, elogio as palavras dele com relação à execução de Saddam Hussein. O homem falou bem, disse o que havia para ser dito. Declarou-se ser contra por razões religiosas e políticas. Também sou, embora não pelos mesmos motivos. E daí? Cada um escolhe seu jeito de condenar a ação. Isso aqui é um país democrático, ou não? Talvez alguém me explique algum dia o que é ser contra a pena de morte por razões políticas. De qualquer forma deve ser alguma coisa muito séria, o homem não ia falar besteira.
E falando nele, lembrei-me de outra decisão, pretendo ler mais. Tenho andado dispersivo. Isso de muita televisão, computador em casa, devedê, acaba emburrecendo a gente. Quero reler Proust, vou duplamente em busca do tempo perdido.
Resolvi continuar magro, agora que o homem emagreceu tenho mais uma razão para não me descuidar, um exemplo positivo a seguir. Muita academia, corridas mais ou menos freqüentes, spinning quatro vezes por semana, assim chegarei em forma para mais uma São Silvestre lá na frente.
Reclamar menos das coisas, acreditar mais, ter uma atitude menos pessimista, viajar mais, melhorar o meu humor, rejuvenescer. E trabalhar, até por não haver quem me atrapalhe. Sempre me deixam trabalhar muito mais do que mereço.
Feliz ano novo!