quarta-feira, janeiro 17, 2007

Having A Word With Myself

Alguns sentimentos me tomam de surpresa, tenho dificuldade em entender a razão deles já que são absurdos, deveriam inexistir.
Diariamente, a caminho do local onde almoço, passo por um morador de rua. É um negro gordo, sério, silencioso, que passa a maior parte do tempo sentado em um banco de um ponto de ônibus. Aquela é mais ou menos a sua casa. Quando tem sono deita-se por ali mesmo e dorme seu sono despreocupado. Gosta de cozinhar a própria comida, faz questão dela quente. Quando tem fome dobra a esquina, caminha até um canto da ruazinha estreita, acende modesta fogueira, prepara o cardápio do dia e come. Não se afasta consideravelmente daquela pequena área. Muitas vezes, quando passo mais tarde, encontro-o palitando os dentes e fumando um cigarrinho satisfeito. Parece de bem com a vida.
O problema é que implico interiormente com o marginal. Tento entender o motivo. Deve ser bom viver sem obrigações. Ele não tem contas a pagar. Arranja o alimento no restaurante em frente, há sempre algum sobrando. Nada de horários, não usa relógio. Colesterol, câncer, pressão alta, stress, nada disso o incomoda. Não há espelho onde vive, ganha peso sem culpa.
Passo por ele correndo atrás do rabo como sempre. O olhar que lhe dirijo é de inveja, está claro, ela aparece onde e quando menos esperamos.

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