segunda-feira, janeiro 08, 2007

Vers Le Sud

Cinema é uma de minhas paixões. Como não sou especialista na matéria freqüentemente me pego tentando definir critérios que deveria utilizar para classificar um filme como bom ou ruim. Queria poder ir além do simples gostar ou não, possuir bagagem concreta capaz de ajudar nas opiniões que emito. Na falta de melhor embasamento apelo para a duração da emoção. Explico, percebo que em matéria de qualidade, a obra que me faz pensar mais tempo, que permanece um período maior estimulando meu sentimento, geralmente merece conceito elevado.
Baseado em três romances do escritor haitiano Dany Leferrière, esilado pela ditadura Duvalier, dirigido por Laurent Content, com produção franco-canadense, o filme Vers Le Sud (Em Direção ao Sul), provocou-me desde o início. Ainda hoje, três dias depois de assistí-lo, pego-me tocado por algumas das cenas.
A história até certo ponto é simples. Três americanas cinqüentonas passam férias no Haiti, espécie de paraíso idílico, no final dos anos setenta. Em um universo de muita pobreza, o país já era pobre nessa época e só piorou, e de muita violência comandada pelos tontons macoutes, trocam prazeres sexuais por presentes e dinheiro. Disputam a virilidade do jovem Legba, consciente de seu papel de prostituto.
O perturbador para mim foi perceber a outra penúria extrema, não a propriamente dita, que incomoda mas com a qual, infelizmente, já nos acostumamos. Falo da miséria afetiva. Jovens senhoras desesperadas em busca da ternura que o mundo exterior lhes recusa. A solidão dos grandes centros, o abandono em que a mulher, ao perder o frescor exigido pelos padrões de uma sociedade que cultua juventudes ciliconizadas, se encontra. Nesse sentido o argumento é triste, duro como um soco no estômago. O contraste entre a juventude negra de quem se vende para ser livre e de quem, amodrontada pela imagem menos lisongeira que o espelho revela, exterior e internamente, paga para ter amor.
Há que se elogiar, mais uma vez, o excelente trabalho de Charlotte Rampling vivendo a arrogante Ellen, professora de Boston.
Embora goste de sair com a alma leve do cinema, o dinheiro foi bem empregado.

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