terça-feira, outubro 31, 2006

To Call To Mind

Quem gosta de política tem que saber perder. Ontem, segunda-feira, foi um dia triste para mim. Relembrei outro dia doído, em 1985, quando Jânio Quadros venceu Fernando Henrique Cardoso, tornando-se prefeito de São Paulo. Senti mais ou menos a mesma coisa com a segunda eleição de Lula para presidente.
E foi exatamente ao analisar essas duas dores tão próximas, que percebi o quanto Jânio e Lula são parecidos. O populismo tem várias faces.
Jânio chegava ao coração dos mais simples de um jeito particular. Não era simpático. Austero, tresloucado, arrogante, fazia-se respeitar via temor reverencial. Intimidava através da erudição. Era o pai severo, capaz de punir, multar. Fazia e acontecia. Fazia, aliás, por querer fazer. Não dava satisfações. Lembram de: fi-lo porque qui-lo? Dava bem idéia de sua independência ditatorial. Não vem ao caso a correção gramatical da frase que deveria ser: fi-lo porque quis. O que interessa é perceber a grande autoridade que lhe davam os humildes. Um cheque em branco para os maiores desmandos. O povo acreditava piamente, achava que ele, com sua vassoura, qual um bruxo, varreria toda a corrupção para longe.
Lula é parecido, pelo lado esquerdo. A outra face da mesma moeda. O pai carinhoso que conhece o povo como a um filho. Faz-se respeitar através de sua história, e de um passado distante que há muito abandonou. Quando convém é o ex-retirante, o sertanejo, o ex-operário. Se um faz por que quer, o pernambucano faz melhor. Nenhum outro nesse país está mais interessado em acertar, nem tem mais capacidade, ninguém, desde que o país foi descoberto, teve mais boa vontade. Para aproximar-se dos menos favorecidos fala errado, muitas vezes, propositalmente. Usa o futebol, paixão popular, como simbologia sempre ao alcance das mais toscas comparações. A corrupção passa ao largo dele, nem precisa de vassoura, mente que não sabia, entrega os amigos e tudo bem, a maioria acredita.
A dificuldade que ambos têm ou tiveram com a imprensa é outro ponto de encontro. Os líderes populistas detestam ser contestados, impacientam-se quando questionados, são os donos da verdade. Tornam-se cada vez mais vaidosos, cheios de caretas. É só olhar o Lula de agora.
A História não trata bem os populistas. Há pouco charme nessa forma de exercício do poder que mistura plebeísmo, autoritarismo e dominação carismática. Representantes maiores dessa corrente, à esquerda e à direita, como: Vargas, Perón, Lázaro Cárdenas, Adhemar de Barros e Paulo Maluf, tendem a cair no esquecimento. Ouve-se cada vez menos falar de Jânio. Qual será o futuro óbvio de Lula?

sexta-feira, outubro 27, 2006

Hier Encore

Recebo mensagem eletrônica com uma canção de Aznavour anexada. Nada mais romântico. Ponho os fones de ouvido e ouço imediatamente. Covardia. Em pouco tempo estou todo arrepiado, as lágrimas querendo pular, emocionadíssimo. Saudade dos meu vinte anos.
Ainda ontem jovem.
Ainda ontem belo.
Ainda ontem eu.
Ainda ontem nós.
Ainda ontem mãe.
Ainda ontem pai.
Ainda ontem bom.
Ainda ontem forte.
Ainda ontem paz.
Ainda ontem só.
Ainda ontem mel.
Ainda ontem sono.
Ainda ontem vó.
Ainda ontem beijo.
Ainda ontem pão.
Ainda ontem festa.
Ainda ontem sim.
Ainda ontem mano.
Ainda ontem sóbrio.
Ainda ontem não.
Ainda ontem show.
Ainda ontem mana.
Ainda ontem noite.
Ainda ontem canto.
Ainda ontem jogo.
Ainda ontem riso.
Ainda ontem muito.
Ainda ontem pouco.
Ainda ontem ontem.
Ainda ontem hoje.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Football

Eu era menino e passava férias em Itanhaém na época da Copa do Mundo da Inglaterra. Ganháramos o primeiro jogo contra a Bulgária por dois a zero, gols de Pelé e Garrincha. Depois demos vexame perdendo para a Hungria. Chegamos ao último jogo da fase eliminatória precisando vencer.
Lembro bem do dia 19 de julho de 1966. Grudado no radinho de pilha imaginava as jogadas daquele jogo difícil. Fiori Gigliotti insistia: O Tempo passa torcida brasileira! Portugal nos dava um suadouro e o zaqueiro Vicente derrubava o Rei sempre que ele tocava na bola. Através do locutor sentíamos a revolta que a violência desperta. Jamais um jogador apanhara tanto. Naquela época não havia substituições. Caçado em campo, Pelé chegou ao segundo tempo mancando, mal conseguindo andar, sem a menor condição. Torcedor fanático do Santos, eu não conseguia entender por que não colocavam o Edu, jogador de dezesseis anos, o mais jovem convocado, craquíssimo do meu time. Feola, meio perdido, escalara o Paraná, ponta-esquerda do São Paulo.
Aquela seria a Copa do Eusébio, que fez dois na partida. Junto com outras feras lusas como: José Augusto, Torres, Jaime Graça e Coluna, acabaram ganhando o jogo, por três a um, com Simões marcando mais um e Rildo fazendo o nosso, de honra. E assim acabou-se a história, fomos despachados para casa.
Poucas vezes uma derrota me doeu tanto. Aos doze anos, ainda não tinha estrutura para agüentar aquela frustração. Chorei muito, inconsolável. Minha tia, impressionada com o descontrole de emoção que via, colocou a mão em minha testa. Percebeu que eu estava com febre, alta. Fui para cama tiritando, infeliz.
Depois vieram outras derrotas. A tragédia de Sarriá em 1982 também foi sofrida. O empate que deu o campeonato ao Botafogo em 1995, com o Marcio Rezende de Freitas roubando o meu Peixe, foi dificílimo de engolir. Nada, porém, me feriu tanto como a Copa de 1966. Foi a primeira vez que chorei por causa do futebol.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Wishes Of The Electorate

Nada mais conservador que o eleitorado. Ninguém segue mais as leis da inércia que o povo votando. Deixam como está para ver como é que fica. A vontade de ser enganado é explícita. O eleitor, de preferência, quer ser ludibriado, gosta disso.
O jogo está jogado. Aparentemente, salvo algum milagre, o Lula será reeleito. Defendeu-se, mentindo, das seríssimas acusações que pesam sobre seu governo. Para ele, o que se vê é fruto das investigações. Quem ouve de maneira incauta, a maioria, esquece-se do papel relevante da imprensa e da oposição tanto na apuração, como na divulgação dos fatos. Nada teria aparecido sem esse esforço dos setores extragoverno.
O candidato Alckmin e seus aliados também erraram. Aceitaram a campanha contra as privatizações, acuados. Não souberam tornar o assunto indigesto para Lula, e poderia ser devastador. É só pegar o caso da Vale. Tornou-se ontem a segunda maior empresa de mineração do mundo. Os acionistas, felizes, viram seu patrimônio valorizar-se da noite para o dia. Nada disso ocorreria se a companhia ainda fosse estatal. O Brasil, para poder crescer, precisa investir no exterior, tanto quanto investem aqui.
O que quer o eleitorado? Pouco. Como disse no início, que as coisas não mudem. Gostam do Lula mentindo, dizendo suas frases feitas, vestindo os mais variados bonés, citando os conselhos da mãe.
De minha parte sou mais exigente. Espero um terceiro turno. Desejo continuidade nas apurações. Sem acordos. Os culpados punidos doa em quem doer. Quero a perda de mandatos. Que a ética deixe de ser retórica.

terça-feira, outubro 24, 2006

Didn't Read But I Like It

Nunca li Paulo Coelho nem pretendo ler. Recentemente, em deliciosa entrevista dada ao jornal curitibano Rascunho, José Mindlin declarou que tinha lido, para poder falar mal. Afirmou discordar da famosa frase de Oswald de Andrade: "Não li e não gostei". Para o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras a crítica tem que ser fundamentada. Não poderia esperar nada diferente de alguém tão sério e erudito.
Gostaria, porém, de avançar um pouco nessa análise. Além das duas primeiras posições existe uma terceira: "Não li Paulo Coelho mas gostei".
É importante que exista um autor brasileiro capaz de atrair tantos leitores. Talvez seja excesso de otimismo, mas acredito que o hábito da leitura pode ser adqüirido por caminhos tortos. Muita gente começou lendo o Mago e migrou, depois, para autores de melhor qualidade. É sempre preferível ler do que não ler. Assim, mesmo que o escritor em questão padeça da falta de maiores méritos literários, estará contribuindo para a formação de alguém. Quem sabe amanhã, ao ler outras obras, o fã de primeira hora de O Alquimista consiga evoluir? Nesse sentido é que avalio que aqueles que atraem grande público têm importância. Ao caírem no gosto popular, ou por serem fáceis, ou por descobrirem algum tipo de fórmula, possibilitam um mundo novo que seus leitores não teriam. Ampliam universos.
É por isso que admiro tanto J. R. Rowling. Muitas crianças nunca teriam aberto um livro na vida se não fosse o Harry Potter. Nem interessa analisar se a obra é boa ou ruim. O benefício já foi feito.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Paradise

O escritor argentino Jorge Luís Borges declarou certa feita, que a idéia que fazia de paraíso se aproximava bastante de algum tipo de biblioteca. Jamais esqueci essa comparação por considerá-la uma das mais bonitas declarações de amor aos livros que já ouvi.
Fico imaginando a expectativa de nosso presidente. É claro que seria completamente diferente. O digníssimo declarou recentemente que não gostava de ler. Mais um grande exemplo que deu aos nossos jovens. Acredito que a última obra que teve em mãos, embora sem conseguir dar conta dela inteira, tenha sido Caminho Suave. Qual seria então a idéia de paraíso para o Lula? Como seria o lugar para onde iria caso se comportasse direitinho? Difícil de imaginar.
Um sujeito que tem um churrasqueiro particular deve gostar muito de carne. Talvez o lugar ideal para ele fosse uma grande grelha escaldante. Maminha, lingüiça, picanha, frango, coração, fraldinha, tudo queimando sobre o carvão. Aquele calorzinho agradável, o cheirinho inebriante das carnes assando, cerveja descendo redonda. E pagode, jamais faltaria pagode. Tudo de muito bom gosto.
Já sei. Vocês querem que eu diga qual seria o meu paraíso. Em que lugar a felicidade seria para mim completa? Fácil! Algum tipo de Brasil sem o Lula.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Little Old Lady From Pinheiros

Vocês lembram da Velhinha de Taubaté? Era uma deliciosa personagem que o Luis Fernando Veríssimo criou, a última criatura no Brasil que acreditava. Defendia o governo, as instituições e até os ministros da área econômica.
Existe em São Paulo, no bairro de Pinheiros, uma senhora que é o reverso dessa personagem de ficção. Sofreu um desgosto profundo quando o Lula venceu as eleições, batendo o José Serra, e ganhou o primeiro mandato para presidente. Discrê do governo atual por definição. É contra o PT, com tamanho fervor, que poucos se arriscam a contestá-la. Não é agradável discutir com a distinta. A exaltação com que defende suas verdades é tamanha que teme-se por sua saúde. Grita, espuma, arregala os olhos, argumenta em tom tão exarcebado que assusta sempre o oponente. Gente famosa nesse terreno, lutadoras profissionais como Heloísa Helena, Ideli Salvatti ou Zulaiê Cobra, são criancinhas perto dela, não teriam a menor chance.
Pois bem, nossa Velhinha de Pinheiros anda desesperada. Emagreceu, vive suspirando pelos cantos, dorme pouco, a imagem perfeita do desgosto estampada no rosto. Não consegue aceitar a idéia de que "aquele idiota do Lula" possa vencer o Geraldinho. Botou para fora de casa, aos berros, pedindo para que sumisse e não pisasse mais o chão de sua sala, um filho que ousou confessar que anularia o voto. E, pouco depois, comentando o ocorrido com outro filho pelo telefone, afirmou que não admitia que gente de sua família votasse errado, contra ela. Dava pena ouví-la.
Outro dia entregou os pontos. Tomada por uma crise aguda de pessimismo lamentou-se muito. Reclamou, para meu espanto, já que faz muito tempo que é viúva, a ausência do falecido marido. Disse que era triste acompanhar o resultado das eleições sem a companhia dele. Teriam chorado juntos a derrota do Guilherme Afif Domingos e a reeleição "da múmia do Suplicy". Contou que quando o Jânio ganhou do Fernando Henrique, tinham pegado o carro e viajado a noite inteira em direção ao Rio de Janeiro. Ficaram um tempo lá até que a raiva de São Paulo passasse. Pediu-me, com a voz pouco firme, que a ajudasse. Não viveria mais no Brasil caso "o idiota do Lula" vencesse, o que parecia bastante provável. Queria se mudar para Montevideo. Eu, "craque nessas maluquices da Internet", deveria fazer o obséquio de procurar estadia para ela no estrangeiro. "O idota do Lula cá e eu lá", afirmou, "longe dessa terra".
Estou, nesse momento, pesquisando. O país é tão perto e o câmbio tão vantajoso, que morro de inveja da Velhinha de Pinheiros. Adoraria poder fujir junto com ela. Esquecer esse " idiota do Lula" aqui, mentindo à vontade.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Privatization

Agora só falta o Lula, o presidente que fez o governo mais sem ética que esse país já teve, repetir o Zagalo: Vocês vão ter que me engolir! Parece que sim, embora não tenha ainda perdido as esperanças. Otimista que sou, tenho sempre a saudável impressão de que no final, os eleitores acabarão por decidir contra a corrupção, o dinheiro na cueca, os mensalinhos e os mensalões. Agora precisamos distingüir. Mensalinho é aquele que o Roberto Jeferson denunciou. Mensalão é o que se pagou ao Blairo Maggi, em troca de apoio político.
E o demônio da vez parece ser a privatização. O Grande Mentiroso resolveu faturar uns votinhos atacando o que foi privatizado e decidindo, por ele mesmo, que mais empresas seriam passadas nos cobres caso optássemos pela candidatura tucana.
Embora, pessoalmente, seja totalmente favorável ao Estado fora do controle da maioria das empresas, tenho certeza que a Petrobrás não seria vendida. De resto faturava tudo. Não vejo porque banco e correio, por exemplo, tenham que ser estatais. Só se for pra desviar dinheiro, nomear diretor em troca de apoio, conseguir emprego para a família, esses tipos de práticas tão comuns no mundo petista.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Letter to Arnaldo Jabor

Caro Jabor,
Li seu artigo do Estadão ontem e a lucidez dele me tirou o sono. Fiquei rolando na cama de madrugada. Morto de inveja, como sempre, por não ter sido eu quem escreveu o texto. Freqüentemente suas palavras me deixam nesse estado lamentável.
As manchetes de hoje parecem apontar para uma decisão do jogo. Falam que a não ser que aconteça um fato extraordinário, o Lula estará eleito. Como se já não existissem escândalos suficientes. A maioria, porém, parece não se importar com eles. Viramos um país onde a ética vale muito pouco.
Sem a paciência e erudição que parecem ser qualidades que lhe sobram, minha análise torna-se mais pobre, simples e direta. Um presidente que teve seis ministros envolvidos em toda sorte de crimes, não mereceria ser reeleito. Foi o que me disse, aliás, amiga cidadã britânica. No país dela Lula e seus companheiros estariam fadados ao esquecimento. Onde há educação as questões relacionadas com a livre interpretação da lei, tirar proveito dos cargos, e má condução da coisa pública, são levadas a sério. Os culpados são punidos e o povão os esquece.
Aqui é diferente, não é mesmo? Até porque, como você bem analisou, não é só uma questão de educação, tem muita gente instruída defendendo o lulismo. Intelectuais e artistas, que aprendemos a admirar, parecem fazer um exercício todo especial de raciocínio para perdoar tudo o que ocorreu. O Lula herdou o "rouba mas faz" do Maluf e a esquerda incorporou essa máxima como virtude. Não que achem que o presidente tenha roubado, sabem que ele não sabia de nada, têm certeza disso. Quando pressionados, na linha do "sou, mas quem não é?", escapam dizendo que o outro lado também fez, ou fará. Tudo em nome dos rótulos, não gostam deles só nas garrafas. O Lula, por definição, é de esquerda. Precisa ser defendido, é da nossa turma.
E rolando feito pirulito na cama, tentando encontrar maneiras de conciliar o sono, procurei aventar a possibilidade de estarmos errados. Seria ótimo. Sei que você registrou seu artigo para provar mais tarde sua previsão, desculpe-me. Mas já imaginou? O Chico, o Gil, o Cândido, o Betti, a Chauí, esses caras são feras. Será que eles arriscariam seus nomes e passados em nome de um conceito errado? Tem professor nesse grupo, caras que ensinam. Será que serviriam a propósitos diferentes do que mandam as suas consciências? Ou será que a fama é tanta e a memória do povo tão curta que tanto faz? Todos já têm a vida ganha, não é mesmo?

segunda-feira, outubro 16, 2006

Questions

Recebi as questões abaixo em meu e-mail. Vou tentar respondê-las. Faz de conta que sou o Alckmin.


ATIRE A PRIMEIRA PEDRA !
Será que o Jornal Nacional teria coragem de fazer estas perguntas ao Alckmin no Domingo?

Se esta mensagem circular de maneira vigorosa, o Jornal Nacional vai ter que enfrentar o Alckmin e perguntar aquilo que todos nós queremos saber.

Queremos que Bonner e Fátima façam as perguntas ao Alckmin.

1) O senhor que promete um banho de ética, não percebeu que sua filha trabalhava com a maior quadrilha de contrabandistas de roupas, a Daslú?

Quando se trabalha em uma empresa, se é funcionário de uma organização, é difícil saber o que acontece na administração dela. Tenho um amigo que trabalhou vinte e seis anos em um banco. Seria culpado pelas falcatruas, caso existissem, feitas por alto executivos do lugar que lhe pagava o salário? Minha filha era vendedora de roupas.

2) O Senhor não percebeu que sua esposa recebeu 400 vestidos de luxo, em troca sabe-se lá de que, e depois, sem jeito, ela declarou que havia doado para instituições de caridade, o que foi negado pela instituição?

Houve realmente a doação. Em troca de nada, absolutamente nada.


3) O senhor ao assumir o segundo mandato, afirmava que a segurança pública era o maior problema do Estado. Porque menosprezou o PCC, e permitiu que a população vivesse dias de pânico com os ataques?

A segurança continua sendo um dos maiores problemas do Estado. O PCC, como outros grupos criminosos: Comando Vermelho e Amigos dos Amigos, só para citar mais dois, nasceu e se desenvolveu em condições muito especiais. A falta de perspectivas sociais, as drogas e a ausência de justiça efetiva, tem levado os jovens à completa marginalização. É um problema sério e muito amplo que deveria ser abordado, discutido, pensado, em âmbito nacional, até mesmo por não se limitar só a São Paulo ou ao Rio de Janeiro. Outras grandes cidades também sofrem dessa mesma incapacidade de lidar com a criminalidade. A solução passa por um planejamento amplo que envolve: educação, emprego, fiscalização das fronteiras, legislação mais eficaz, presídios mais justos e eficientes. Temos aqui um problema para ser atacado no país como um todo.


4) O que o senhor acha a respeito dos secretários do seu Governo negociarem com bandidos durante os ataques?

Nada contra se for em nome da solução dos problemas. Para usar uma frase que a mãe do Lula certamente usaria: "Melhor prevenir, do que remediar".

5) Enquanto Governador, por que a bancada de seu partido não permitiu a criação de nenhuma CPI, o senhor não acha que as CPIS são importantes?

As CPIS são importantes. É também importante e usual, em grande parte das democracias, que os governos que fazem a maioria de suas Câmaras usem essa força para governar. Sem essa habilidade política é muito difícil que os governos obtenham sucesso. O governante precisa de tranqüilidade para governar. O Lula também barrou as CPIS que conseguiu barrar. Não barrou mais por ter tido dificuldade em compor maioria, houve aqui uma dificuldade política muito grande. Agora quando for crime, quando for importante, tem que ter CPI, tem que investigar. Sou favorável.

6) Por que o senhor e seu partido privatizaram todas as empresas estatais de São Paulo, como as estradas, que cobram pedágios astronômicos, com as empresas elétricas, o Banespa... Se assumir a presidência o senhor vai rivatizar a Petrobrás como FHC fez com a Vale do Rio Doce, e até hoje ninguém sabe onde foi parar o dinheiro?

Recentemente houve uma pesquisa que mostrou que as estradas de São Paulo são as melhores do país. Antes do governo FHC telefone era um artigo de luxo, alguns ricos viviam da negociação de linhas. Hoje existem celulares até nas favelas. O progresso foi enorme e muito rápido. Não há necessidade de se privatizar a Petrobrás. A privatização da Vale do Rio Doce foi um caso de sucesso. Aliás, se todas essas empresas privatizadas fossem o problema que alegam ter sido, creio que teriam sido reestatizadas pelo governo Lula.

7) Se o senhor for Presidente, vai invadir a Bolívia com o exército e se alinhar aos EUA, liderando a política de opressão aos povos da AL?

Não. Mas serei firme com contratos assinados. Contrato assinado tem que ser respeitado por todo mundo, inclusive por governos. Negociamos muito mal essa questão.

8) Por que o senhor gastava tanto dinheiro com publicidade numa revista insignificante, que por coincidência era de seu acupunturista?

Nada se provou sobre isso. Aliás, isso de se gastar dinheiro com publicidade sempre me lembra o Gushiken.

9) Por que o senhor superfatura o pagamento para os empresários que exploram os restaurantes de comida a R$ 1,00, pagar mais R$ 3,50 por prato para o dono do restaurante, que tem uma clientela garantida de mais de 1.000 refeições por dia, além de algumas benesses do Estado, não é um assalto ao bolso do contribuinte?

Engraçado que uma iniciativa que fornece refeições de boa qualidade, baratas, à população carente, seja criticada. Certamente seria aplaudida se fosse iniciativa do Lula. Não existe superfaturamento.

10) O senhor que fala tanto em choque de gestão, por que está deixando um rombo de 1 bilhão e duzentos mil no estado de São Paulo, que pode levar seu vice, Cláudio Lembo, para a cadeia? Ainda neste tema, o que o senhor achou da declaração do recém eleito José Serra, dizendo que vai cancelar a privatização da Nossa Caixa, iniciada na surdina pelo senhor durante seu governo?

De onde vocês tiraram esse rombo? O Claúdio Lembo, para alegria dele, logo estará entre os seus livros. Não ouvi o José Serra dizer isso, mas se disse está certo. Eu também cancelaria.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Stark Naked

Vocês devem estar impressionados com a quantidade de assuntos que encontro sempre que tomo café da manhã na padaria. Talvez por ser ainda cedo, momento que me é mais favorável, quando estou sempre atento e receptivo a qualquer tipo de informação. No início do dia sinto-me mais inteligente, o raciocínio livre. Fico bem humorado e pronto para o que vier.
Hoje, quando chegamos para o nosso desejum, na hora de escolhermos a mesa, minha mulher reparou que um ex-jogador de futebol famoso estava lá, isolado em um canto mais escondido. Idolatrado também devido à sua beleza ainda jovem, embora avô, era alvo de olhares enternecidos do mulherio. Quando a garçonete, nossa velha conhecida, veio nos servir, comentou sobre o quanto ele era bonito. Concordei tranqüilamente, já que não tenho acanhamento com esse tipo de reconhecimento que não afeta minha masculinidade. Aproveitei para, provocando a moça, afirmar que ela não vira nada, já que eu já tinha tido a oportunidade de enxergá-lo nu, em pêlo. Ante o olhar incrédulo que recebi, apressei-me em explicar que no vestiário do clube que freqüento, depois de uma partida de tênis, tomando banho.
A média veio quente como sempre, o pão torradinho, delicioso. Nada como começar uma jornada estando bem disposto. Então uma outra servente se aproximou, com um sorriso no canto dos lábios, querendo saber onde era o clube. Acabamos todos rindo, dirigindo olhares furtivos ao craque. Não deve ser fácil ser estrela.

terça-feira, outubro 03, 2006

He Had a Narrow Escape Today

Sempre que um avião cai, ouvimos histórias sobre alguém que desistiu de voar no último instante, ou foi impedido de embarcar por algum motivo. Os comentários, invariavelmente, falam a respeito da sorte do fulano. O povão, sabiamente ingênuo, prefere repetir que ainda não tinha chegado a hora dele. Parece ser senso comum que existe um momento, previamente determinado, para que passemos dessa para outra, rotineiramente chamada de melhor. Agora não foi diferente. A televisão chegou a exagerar, descobrindo quem esteve em duas ocasiões nessa mesma situação e sobreviveu. Não adianta, quando não está escrito no destino, não há o que consiga causar dano, dizem.
No caso em questão temos mais um argumento a favor da tese. Um avião grande, enorme, choca-se contra um pequenino jato. Autêntico caso de David contra Golias. O maior despenca lá de cima, morrem todos os passageiros e tripulantes. O menor recupera-se, consegue estabilizar-se, descobre uma pista de pouso no meio da mata e aterriza. Sete sobreviventes. Mais uma vez a questão àcima. Não há registro de quem tenha sobrevivido a um choque aéreo entre aviões. A lógica não é clemente com dois corpos que se chocam a oitocentos quilômetros por hora cada, frontalmente, no ar. Desengana todos. Não era o dia dos americanos.
Difícil analisar essas questões de sorte e azar. Esforço-me bastante para não pensar nelas, desacreditando o mais que posso. Preferiria poder dizer que não existem, até por serem conceitos totalmente desvinculados da justiça. Não há justiça na sorte, nada mais injusto que o azar. Se realmente for uma questão temporal, se estivermos no local, naquele momento, por ter chegado nossa hora, que parem todos os relógios.