sexta-feira, outubro 20, 2006

Little Old Lady From Pinheiros

Vocês lembram da Velhinha de Taubaté? Era uma deliciosa personagem que o Luis Fernando Veríssimo criou, a última criatura no Brasil que acreditava. Defendia o governo, as instituições e até os ministros da área econômica.
Existe em São Paulo, no bairro de Pinheiros, uma senhora que é o reverso dessa personagem de ficção. Sofreu um desgosto profundo quando o Lula venceu as eleições, batendo o José Serra, e ganhou o primeiro mandato para presidente. Discrê do governo atual por definição. É contra o PT, com tamanho fervor, que poucos se arriscam a contestá-la. Não é agradável discutir com a distinta. A exaltação com que defende suas verdades é tamanha que teme-se por sua saúde. Grita, espuma, arregala os olhos, argumenta em tom tão exarcebado que assusta sempre o oponente. Gente famosa nesse terreno, lutadoras profissionais como Heloísa Helena, Ideli Salvatti ou Zulaiê Cobra, são criancinhas perto dela, não teriam a menor chance.
Pois bem, nossa Velhinha de Pinheiros anda desesperada. Emagreceu, vive suspirando pelos cantos, dorme pouco, a imagem perfeita do desgosto estampada no rosto. Não consegue aceitar a idéia de que "aquele idiota do Lula" possa vencer o Geraldinho. Botou para fora de casa, aos berros, pedindo para que sumisse e não pisasse mais o chão de sua sala, um filho que ousou confessar que anularia o voto. E, pouco depois, comentando o ocorrido com outro filho pelo telefone, afirmou que não admitia que gente de sua família votasse errado, contra ela. Dava pena ouví-la.
Outro dia entregou os pontos. Tomada por uma crise aguda de pessimismo lamentou-se muito. Reclamou, para meu espanto, já que faz muito tempo que é viúva, a ausência do falecido marido. Disse que era triste acompanhar o resultado das eleições sem a companhia dele. Teriam chorado juntos a derrota do Guilherme Afif Domingos e a reeleição "da múmia do Suplicy". Contou que quando o Jânio ganhou do Fernando Henrique, tinham pegado o carro e viajado a noite inteira em direção ao Rio de Janeiro. Ficaram um tempo lá até que a raiva de São Paulo passasse. Pediu-me, com a voz pouco firme, que a ajudasse. Não viveria mais no Brasil caso "o idiota do Lula" vencesse, o que parecia bastante provável. Queria se mudar para Montevideo. Eu, "craque nessas maluquices da Internet", deveria fazer o obséquio de procurar estadia para ela no estrangeiro. "O idota do Lula cá e eu lá", afirmou, "longe dessa terra".
Estou, nesse momento, pesquisando. O país é tão perto e o câmbio tão vantajoso, que morro de inveja da Velhinha de Pinheiros. Adoraria poder fujir junto com ela. Esquecer esse " idiota do Lula" aqui, mentindo à vontade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Recolocando os fatos no lugar, trocaria o quarto período do terceiro parágrafo por: "Totalmente enlouquecida por não aceitar o voto nulo de um filho, e aos berros de ambos, o filho teve que sair de sua casa dizendo não mais lá pisar - pela manhã, nossa Velhinha baixou a bola e ligou ao filho se desculpando."

Lord Broken Pottery disse...

Não entendi o Belém...