terça-feira, outubro 31, 2006

To Call To Mind

Quem gosta de política tem que saber perder. Ontem, segunda-feira, foi um dia triste para mim. Relembrei outro dia doído, em 1985, quando Jânio Quadros venceu Fernando Henrique Cardoso, tornando-se prefeito de São Paulo. Senti mais ou menos a mesma coisa com a segunda eleição de Lula para presidente.
E foi exatamente ao analisar essas duas dores tão próximas, que percebi o quanto Jânio e Lula são parecidos. O populismo tem várias faces.
Jânio chegava ao coração dos mais simples de um jeito particular. Não era simpático. Austero, tresloucado, arrogante, fazia-se respeitar via temor reverencial. Intimidava através da erudição. Era o pai severo, capaz de punir, multar. Fazia e acontecia. Fazia, aliás, por querer fazer. Não dava satisfações. Lembram de: fi-lo porque qui-lo? Dava bem idéia de sua independência ditatorial. Não vem ao caso a correção gramatical da frase que deveria ser: fi-lo porque quis. O que interessa é perceber a grande autoridade que lhe davam os humildes. Um cheque em branco para os maiores desmandos. O povo acreditava piamente, achava que ele, com sua vassoura, qual um bruxo, varreria toda a corrupção para longe.
Lula é parecido, pelo lado esquerdo. A outra face da mesma moeda. O pai carinhoso que conhece o povo como a um filho. Faz-se respeitar através de sua história, e de um passado distante que há muito abandonou. Quando convém é o ex-retirante, o sertanejo, o ex-operário. Se um faz por que quer, o pernambucano faz melhor. Nenhum outro nesse país está mais interessado em acertar, nem tem mais capacidade, ninguém, desde que o país foi descoberto, teve mais boa vontade. Para aproximar-se dos menos favorecidos fala errado, muitas vezes, propositalmente. Usa o futebol, paixão popular, como simbologia sempre ao alcance das mais toscas comparações. A corrupção passa ao largo dele, nem precisa de vassoura, mente que não sabia, entrega os amigos e tudo bem, a maioria acredita.
A dificuldade que ambos têm ou tiveram com a imprensa é outro ponto de encontro. Os líderes populistas detestam ser contestados, impacientam-se quando questionados, são os donos da verdade. Tornam-se cada vez mais vaidosos, cheios de caretas. É só olhar o Lula de agora.
A História não trata bem os populistas. Há pouco charme nessa forma de exercício do poder que mistura plebeísmo, autoritarismo e dominação carismática. Representantes maiores dessa corrente, à esquerda e à direita, como: Vargas, Perón, Lázaro Cárdenas, Adhemar de Barros e Paulo Maluf, tendem a cair no esquecimento. Ouve-se cada vez menos falar de Jânio. Qual será o futuro óbvio de Lula?

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