quarta-feira, outubro 18, 2006

Letter to Arnaldo Jabor

Caro Jabor,
Li seu artigo do Estadão ontem e a lucidez dele me tirou o sono. Fiquei rolando na cama de madrugada. Morto de inveja, como sempre, por não ter sido eu quem escreveu o texto. Freqüentemente suas palavras me deixam nesse estado lamentável.
As manchetes de hoje parecem apontar para uma decisão do jogo. Falam que a não ser que aconteça um fato extraordinário, o Lula estará eleito. Como se já não existissem escândalos suficientes. A maioria, porém, parece não se importar com eles. Viramos um país onde a ética vale muito pouco.
Sem a paciência e erudição que parecem ser qualidades que lhe sobram, minha análise torna-se mais pobre, simples e direta. Um presidente que teve seis ministros envolvidos em toda sorte de crimes, não mereceria ser reeleito. Foi o que me disse, aliás, amiga cidadã britânica. No país dela Lula e seus companheiros estariam fadados ao esquecimento. Onde há educação as questões relacionadas com a livre interpretação da lei, tirar proveito dos cargos, e má condução da coisa pública, são levadas a sério. Os culpados são punidos e o povão os esquece.
Aqui é diferente, não é mesmo? Até porque, como você bem analisou, não é só uma questão de educação, tem muita gente instruída defendendo o lulismo. Intelectuais e artistas, que aprendemos a admirar, parecem fazer um exercício todo especial de raciocínio para perdoar tudo o que ocorreu. O Lula herdou o "rouba mas faz" do Maluf e a esquerda incorporou essa máxima como virtude. Não que achem que o presidente tenha roubado, sabem que ele não sabia de nada, têm certeza disso. Quando pressionados, na linha do "sou, mas quem não é?", escapam dizendo que o outro lado também fez, ou fará. Tudo em nome dos rótulos, não gostam deles só nas garrafas. O Lula, por definição, é de esquerda. Precisa ser defendido, é da nossa turma.
E rolando feito pirulito na cama, tentando encontrar maneiras de conciliar o sono, procurei aventar a possibilidade de estarmos errados. Seria ótimo. Sei que você registrou seu artigo para provar mais tarde sua previsão, desculpe-me. Mas já imaginou? O Chico, o Gil, o Cândido, o Betti, a Chauí, esses caras são feras. Será que eles arriscariam seus nomes e passados em nome de um conceito errado? Tem professor nesse grupo, caras que ensinam. Será que serviriam a propósitos diferentes do que mandam as suas consciências? Ou será que a fama é tanta e a memória do povo tão curta que tanto faz? Todos já têm a vida ganha, não é mesmo?

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