quinta-feira, dezembro 14, 2006

Ill-Mannered

Uma das coisas que observo no comportamento humano é a estreita relação que há entre falta de educação e sensibilidade. A grosseria, geralmente, parte de quem é insensível, pouco atento às nuances do bem conviver. Uma regra simples é freqüentemente esquecida: há que se repeitar para ser respeitado.
Nos vestiários masculinos a nudez revela-se além dos corpos. É quando marmanjos tornam-se moleques pelados. Riem, tripudiam sobre os outros, dizem piadas, brincam, mostram-se. Muitas vezes, porém, perde-se o limite. Há quem ultrapasse, lamentavelmente, a fronteira imaginária que separa o que é aceitável do torpe. A palavra perde então a compostura e a agressão, travestida de pilhéria, insinua-se covarde, sem razão aparente. Os risos agora, fluindo por inércia, descontextualizam-se.
Rudes detestam diversidade. Mais cedo ou mais tarde insurgem-se contra ela. Têm no preconceito a forma mais primitiva de expressão.
Banho tomado, sentado no banco de madeira enxugando os pés, percebi que o ar ao redor se adensava. Aporrinhavam o pobre do faxineiro gay. Injuriado, digno, ele recusava peremptoriamente o convite que lhe faziam. Não tinha interesse na balada, sair com duas meninas, terminar a noite na cama com elas. Declarava, com a voz feminina de sempre, que já tinha encontrado seu amor. O outro insistia, falava sobre as delícias do programa, entrava em detalhes íntimos da anatomia do sexo oposto. Retirou-se rindo, falando alto, prometendo que voltava à noite para levar o rapaz para a farra.
Continuei sentado, acabrunhado, cabeça baixa, olhando para um unha doente que tenho.

Nenhum comentário: