segunda-feira, dezembro 11, 2006

Gracias A La Vida

Viver é bom. O tempo arrastando-se mais ou menos rápido oferece-nos, conforme a distância do olhar, reparo. Acabou Pinochet. Tenho o hábito de celebrar internamente as mortes que desejava. Não faço alarde. Sujeito pacífico, incapaz de matar, consolo-me sabendo que verei alguns trastes partirem. Quando são mais velhos apoio-me, esperançoso, na probabilidade de que isso aconteça. Sendo a morte a maior das desgraças, sinto-me de alguma forma vingado. Não me venham dizer que o ditador terminou velho, locupletado pelo dinheiro que roubou, rodeado pela família em leito quente. Morreu, não existe castigo pior. Eu lhe sobrevivi.
Desde 11 de setembro de 1973, quando começou uma das mais sangrentas ditaduras que já existiu, mergulhando o Chile em horror, comecei a alimentar antipatia por esse generalzinho. Cresci ouvindo Violeta Parra, Joan Baez e Mercedes Sosa. Quando volvo a los diecisiet, idade aproximada que tinha na época, na verdade dois anos a mais, relembro o clima do período. As ditaduras têm um dom curioso, o de enriquecer as músicas. Cantávamos em espanhol o nosso repúdio à violência dos militares. Comentávamos assustados o que acontecia no Estádio Nacional do Chile. Éramos locos por ti America. Foi quando prenderam Víctor Jara, um dos mais famosos cantores e compositores chilenos. Esmagaram-lhe as mãos a golpe de coronhadas para que não tocasse, mataram-no calando sua voz. Um dos 3000 mortos, 30.000 torturados desse período negro.
Pronto. Pinochet, já era! Gracias a la vida. Enquanto isso recordarei quem não pode ser esquecido:

Te Recuerdo Amanda
Texto y música de Víctor Jara

Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.

La sonrisa ancha,
la lluvia en el pelo,
no importaba nada,
ibas a encontarte con él.

Con él, con él, con él, con él.
Son cinco minutos. La vida es eterna en cinco minutos.
Suena la sirena. De vuelta al trabajo
y tœ caminando lo iluminas todo,
los cinco minutos te hacen florecer.

Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.

La sonrisa ancha,
la lluvia en el pelo,
no importaba nada
ibas a encontrarte con él.

Con él, con él, con él, con él.
Que partió a la sierra,
que nunca hizo daño. Que partió a la sierra,
y en cinco minutos quedó destrozado.
Suena la sirena, de vuelta al trabajo
muchos no volvieron, tampoco Manuel.

Te recuerdo, Amanda,
la calle mojada,
corriendo a la fábrica
donde trabajaba Manuel.

Nenhum comentário: