terça-feira, agosto 01, 2006

There Is No Accounting For Tastes

Em casa meu pai sempre dizia que gosto é o que mais se discute. Cresci ouvindo essa afirmativa e não costumo negar minhas origens. Nada mais discutível e diferente do que o gosto das pessoas.
Tomo o desejum na padaria. Gosto do pão quentinho, da conversa dos balconistas aporrinhando uns aos outros, de encontrar as pessoas do bairro, mais ou menos conhecidas. Adoro ver os cachorros latindo injuriados, aguardando seus donos, do lado de fora. Quando termino levanto e vou embora, sem ter que lavar a louça. Belíssimo jeito de se começar o dia. É quando percebo, com mais intensidade, a diversidade. Impressionante como conseguimos ser diferentes. Servir a freguesia, cada vez mais, me parece um trabalho fantástico, supremo exercício de paciência. Ali, naqueles vinte minutos que gasto, percebo o quanto somos exigentes.
Pessoalmente, peço que me sirvam a mistura de café com leite cremosa, bem quente, nem forte, nem fraca, com pouca manteiga na bisnaga. Como estou lá diariamente, espero que conheçam minha preferência para que não tenha que explicá-la toda hora. Digamos que me considero um cliente especial.
Tem um velhinho que chega trazendo a própria geléia. Pede um pãozinho francês sem juízo (miolo) com cheiro de (pouca) manteiga, além de uma faca. A média dele é sem leite, o que significa apenas café. Já a mocinha que trabalha no centro, não muda o cardápio, uma canoa na França (pão francês sem miolo) simples (sem nada), e um copo de leite desnatado morno. E continuam as variações impossíveis. Média quente, quentíssima, morna, quase fria, com espuma, sem espuma, coada, clara, escura, normal, cremosa, com canela, sem canela. Pães de todos os tipos com requeijão, manteiga, uma fatia de queijo prato, só presunto, queijo branco, mortadela, margarina, na chapa, frio, torrado, bem torrado, torradíssimo. Todos, fregueses antigos como eu, gostam que conheçam de cor suas opções. Ofendem-se quando o funcionário idiota não lembra.
Hoje apareceu gente nova no pedaço. Uma senhora agasalhadíssima, estava muito frio, chamou o Roque de lado e pediu, sem perder o rebolado:
- Traga-me uma xávena (eu ouvi xávena) de chocolate bem quente e um pãozinho francês. Peça para por margarina em uma banda e manteiga na outra.
Levantei, paguei, e fui embora.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lord,
Delícia de texto, delícia de padaria.
Eu sempre peço um café cheio e um queque. E um copo d'água sefazfavoire! Kisses, Lady Madonna

Lord Broken Pottery disse...

Lady,
Desculpe-me a ignorância, o que é um queque?
Kisses,
Lord

Anônimo disse...

Lord,
No problem...Queque vem do inglês cake, ora pois!
Kisses, Lady Madonna

Lord Broken Pottery disse...

Lady,
Então é um bolinho, a little cake, que maravilha!
Kisses,
Lord