sexta-feira, agosto 11, 2006

Departures

Ouvi certa vez de um professor de literatura que devemos evitar escrever sobre amor. O tema é desgastado, difícil dizer o que já não foi dito. Melhor falar, lembro bem do exemplo que deu, sobre um serrote. Pouco, ou quase nada, já se alinhavou sobre a ferramenta.
Não aprendi direito a lição. Escolho terrorismo como tema. Embatuco. Fico olhando o teclado sem saber para onde ir. Imagino o aeroporto de Heathrow, tão meu conhecido, em pandemônio. Policiais enormes, e como são grandes na Inglaterra, revistando meticulosamente todo mundo. O medo materializando-se em cada bagagem, palpável nos rostos aflitos, em estado sólido, contrastando com o líquido que não pode ser embarcado. É preciso evitar que as bombas escorram para dentro das aeronaves.
O nosso cotidiano é explosivo. Acordo com um estrondo no meio da noite. Mais uma agência voou. Readormeço sem paz.
Matar é preciso. Estamos perdendo a paciência. Precisamos andar mais rápido, pular etapas, atingir diretamente as pessoas, não apenas o meio ambiente.
Procuro e não encontro as causas. Não há justificativa no corpo infantil que aparece na foto, pendurado nos braços do pai, inerte. O rostinho acinzentado sem vida comove. Será que doeu?

Nenhum comentário: