quarta-feira, agosto 02, 2006

Smile

Todo dia ele passa cambaleando. Segue rindo, tropeçando nas próprias pernas. Para, estufa o peito, respira fundo e continua. Às vezes cai na gargalhada. Fala com todo mundo como se fosse íntimo. O rosto escalavrado. Inchaços, manchas roxas, as bochechas rosadas. Já o vi, em mais de uma oportunidade, com o braço na tipóia. Judiado. E então se atrapalha, parece que esquece o caminho, curva o corpo todo para a direita, surfando uma onda imaginária, endireita-se para a esquerda, retomando o equilíbrio precário, resmunga alguma coisa. Manhãzinha, fim de tarde, parece estar sempre voltando. Sujo, razoavelmente vestido. Rindo, rindo muito.
Quem vê aquele sujeito trôpego, ri com ele. E gritam, aconselham do outro lado da calçada:
- Vai pra casa, Givanildo, é tarde!
E ele rindo, rindo muito.
- Você não toma jeito, Givanildo!
E ele rindo, rindo mais.
- Toma é cachaça!
Então cai na gargalhada, endireitando o corpo, segurando a barriga.
Quando dou por mim estou me divertindo também, achando graça. De repente meu sorriso congela no rosto, amarela. Cantarolo a música de Charles Chaplin:
Sorri,
Quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos, vazios
Sorri,
Quanto tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador, sorri
Quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados, doridos
Sorri,
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

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