segunda-feira, agosto 14, 2006

Snapshot

Também vou em festas, quando não consigo evitar. É muito divertido. Gente rindo e falando alto, música bombando a ponto de deixar qualquer cristão surdo, e um caminhão de comida. Na última em que fui estava previamente bem humorado. Prometi a mim mesmo que iria tentar me integrar, ser simpático, aproveitar aquela oportunidade maravilhosa de me sociabilizar com as pessoas. Minha analista, um dia antes, convencera-me de que seria o comportamento adeqüado. Se conseguisse relaxar, olhar direitinho para o tempo presente em volta de mim, sair do controle neurótico que sempre quero exercer sobre as coisas, certamente iria passar por momentos agradabilíssimos. Vesti uma roupa que fazia uma presença legal e fui à luta. Cheguei muito cedo, por volta de meia noite. A maioria, mais experiente, começaria a aparecer depois.
Procurando lembrar de sorrir comecei a conversar com as pessoas. Embora não conseguisse ouvir quase nada do que dissessem, meio que na base da intuição, concordei e discordei, simpaticamente seguro de mim. Imagino ter feito bonito papel já que a galera me queria em suas fotos. Máquinas das mais variadas marcas surgindo em todos os cantos. Difícil imaginar o número de pixels presentes. O dono da festa quis me registrar com os seus filhos. Para isso entrei numa espécie de fila. Primeiro esperamos que a cunhada fotografasse os meninos com os avós, depois com os primos, em seguida com os pais, com a cachorrinha, e então chegou minha vez. Como já tinha fixado a alegria no rosto com indevida antecedência, senti um pouquinho de câimbra no queixo. Depois um casal conhecido me convidou para posar junto com um grupo: os garotos, já não tão garotos, da escola. Tudo muito emocionante. Uma dezena de senhores abraçados, apoiando-se. Quando saboreava delicioso canapé de camarão puxaram-me pelo braço. Devo ter sido reproduzido mastigando.
Hoje em dia, felizmente, não perdemos mais nossos momentos emotivos. As nossas câmeras, democraticamente distribuídas, interrompendo, intrometendo-se, registram centenas, milhares de situações digitais inesquecíveis. As festas parecem-me mais divertidas. Fleches espocando, pessoas correndo para todo canto ajeitando os cabelos, retocando a maquiagem, naturalmente satisfeitas. Um barato!

4 comentários:

Anônimo disse...

Lord,
Very funny, very funny... Kisses, Lady Madonna

Lord Broken Pottery disse...

Querida Lady,
Obrigado pela companhia. Ando me sentindo meio só nesse blog. Não fosse o seu carinho...
Kisses,
Lord

Anônimo disse...

Lord,
Escrever é muito solitário mesmo. Até num blog!Mas tenho a certeza que Londres inteira ou será Hasting está te lendo. Kisses, Lady Madonna

Lord Broken Pottery disse...

Lady,
I hope so!
Kisses,
Lord