segunda-feira, agosto 21, 2006

Praying Silently

Almoço sozinho. Não gosto de comer em silêncio, mastigando as idéias. O alimento cresce na boca indigesto, difícil de engolir.
Senta-se em minha frente um senhor grisalho também desacompanhado. Apoia a bandeja sobre a mesa. Aperta os olhos franzindo o senho e coloca as mãos na testa. Talvez esteja mal, cansado, alguma coisa doendo. Engano-me. Fica um tempo naquela posição. Os lábios movendo-se vagarosamente emitem pequenos e suaves estalos, delicados muxoxos. Termina a prece com um sinal da cruz distraído. Suspira profundamente livrando-se de boa quantidade de ar. Abre espaço para atacar o prato, subitamente interessado no feijão, ávido, talheres em punho.
Percebo gratidão pelo alimento. A cena é velha conhecida dos filmes americanos. Imagem que fora da tela grande, porém, me assusta.
Olho desconfiado para o que escolhi: escarola refogada, carne assada no molho, arroz integral, batatas coradas. Não houve gratidão antecipada, apenas cotidiano prazer apressado. O pão meu de cada dia.
Creio em mim, nada poderoso, criador de pequenas coisas entre o céu e a terra.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lord,
Comer com os olhos e saber interpretá-los é um dom. E neste texto você consegue passar toda essa emoção. Kisses, Lady Madonna

Lord Broken Pottery disse...

Lady,
Não entendi o que você diz com comer com os olhos.
Kisses

Anônimo disse...

Lord,
Comer com os olhos é observar tudo que nos cerca. A pessoa que está na nossa frente, o ambiente, o prato do cardápio e ao mesmo tempo pedir a conta pro garçon. Kisses porque está na hora do meu tea. Vou beber com olhos... Lady Madonna

Lord Broken Pottery disse...

Saúde!
Kisses