sexta-feira, março 09, 2007

On The Tube

Tenho um amigo que é excelente contador de histórias. Tem tamanha capacidade em captar nuances do cotidiano ao redor de si que poderia, caso se empenhasse seriamente nessa bobagem, tornar-se escritor. Vai além da simples descrição. Interpreta, imita, é verdadeiro artista. Nos mais de vinte anos que convivo com ele, já que trabalhamos juntos, na avenida Paulista, venho me divertindo freqüentemente com seus relatos. Os melhores, os mais divertidos, detalham momentos vividos no interior do metrô e do trem, diariamente, indo e voltando do bairro de Quitaúna, em Osasco, onde reside.
Outro dia chegou rindo, sem se conformar. Encontrara um canadense no trem. Ele seguia branquinho, apertado, suando, quase desmanchando, dava para ver que era gringo. Como estavam próximos começaram a conversar. Falava com sotaque carregado. Trabalhava em uma empresa multinacional e estava alocado aqui no Brasil. Cumpria aquele trajeto, naquela condução, diariamente, por achar mais barato. Não esqueço o comentário:
- Cara mais pão-duro e sem sorte, sair de Montreal pra trabalhar em Osasco!
Teve a vez que chegou desconfiado, no maior mau humor. Insisti para saber o que houve e ele não resistiu. Contou-me que entrou no vagão e parou de pé em frente a um filezinho, uma delícia. Toda bronzeada, cabelão na cintura, barriga de fora, não conseguia tirar o olho dela, o maior avião. Talvez atraída pelo seu olhar ela parou de ler a Caras e encarou-o. Ficaram um tempo se estudando, na paquera. E então ela levantou-se e ofereceu:
- Quer sentar, tio?
Ontem chegou amassado e imaginei logo as dificuldades, dia de Bush aqui no país, a cidade agitada. Então ele começou dizendo que jamais vivera experiência igual. Na estação Consolação entrou um cara vestido todo de preto, sobretudo abotoado de cima até quase os sapatos, apesar de todo o calor. Sentou-se ao seu lado com um livro parecendo uma bíblia. Curioso, tentou ver o que estava escrito e encontrou aquelas letrinhas árabes estranhas, assustadoras, seria o Alcorão? Disse que nunca sentira tanto medo na vida. Desceu na próxima parada, quase correndo, em pânico.
- E se o cara resolvesse explodir aquela bagaça?

9 comentários:

Anônimo disse...

Com sua CORREÇÃO no blog do Valter, vim para conhecer o seu blog certo de encontrar um Ingles escrevendo sobre a melhor gastronomia da terra!Claro, Rigatonne é Rigatonne, mas o que importa é que gostei do seu texto e voltarei com , muito mais, vagar! Abçs.

GUGA ALAYON disse...

O que tá pintando de Osamas pelas ruas é hilário.

Anônimo disse...

Eu também fteria feito o mesmo, Lord! Já fiz por cenas menos suspeitas (rsrsrsrs). Seu amigo, a par de como o descreve, teria mesmo muito sucesso se escrevesse. Incentive-o. Abraços.

valter ferraz disse...

Lord, teu amigo não tem um blog?
Abraço

Lord Broken Pottery disse...

Eduardo,
A melhor gastronomia da Inglaterra vem da Índia. Seja bem vindo. Você tem um blog?

Guga,
E a gente com medo de Osamas, pode?

Mani,
É mesmo um amigo especial.

Ery,
Não sei se ele escreveria, ele lê muito pouco.

Valter,
Perguntei para ele, disse que a onda ainda não chegou em Osasco.

Ticcia,
Que o frio não demore, tá difícil de agüentar.

Beijos e abraços gerais.

valter ferraz disse...

Lord, em Osasco já chegou. Minha filha mora lá e está pensando em fazer o seu. Aperta que êle vai acabar confessando que já tem um.
Abração

Anônimo disse...

Lord, cá estou eu de volta, como prometido, e para confirmar a linkagem lá no VARAL e agradecer a nossa aqui. Muito gentil, próprio de um LORD. Abraços,

Lord Broken Pottery disse...

Valter,
Embora não seja muito de apertar homem, falei com ele. Disse-me que tem "menas" vontade de escrever do que eu penso. Será que ele pode virar escritor?
Abraço

Eduardo,
O link para o seu blog é um compromisso que tenho com a qualidade.
Abraço

Anônimo disse...

Sua resposta e agradecimento só confirma o Lord que és!
Forte abraço.