sexta-feira, novembro 10, 2006

Whales

Sempre que leio notícias sobre baleias me interesso. É curiosidade antiga, vinda da adolescência, tempo em que me deliciei com as páginas de Moby Dick, de Herman Melville. Poucos livros me despertaram fascínio igual. Lembro que cheguei a sonhar com o cachalote branco enfurecido, saltando em frente a um barco onde eu navegava, ameaçando afundá-lo. Pesadêlo terrível. A força e tamanho do bicho sempre me assustaram. Até hoje, quando vejo o mar em dias cinzentos e misteriosos, tenho a sensação de que o velho e descomunal mamífero de minha juventude vai saltar, todo espetado de arpões, do meio das ondas.
Mas o tempo, de certa maneira, muda nosso interior. A imagem que ainda me resta é pura fantasia, momentânea, se afasta da realidade. Somos agora um mundo de capitães Ahab bem sucedidos. O homem, com relativa facilidade, apressa-se em extingüir o belo animal, apesar das campanhas de recuperação que permitiram que um reduzido número nadasse por aí. Não existe, porém, futuro para os filhos de Moby Dick. Além de nossa usual capacidade destruidora, enfrentam outros inimigos. De repente, sozinhos, encalham e morrem.
As manchetes de hoje, vindas da Nova Zelândia, mostram uma espécie de suicídio coletivo que me encheu de remorso e pena. Cerca de oitenta baleias enfileiradas, encalhadas em uma praia.
Houve uma inversão conceitual na maneira como passei a olhar o tamanho. O grande, que para mim já foi forte, tornou-se fraco. Tive a oportunidade de ver outro dia, andando na Av. Paulista, o gigante chinês Xi Shun, carregando os seus 2,36 metros, 117 quilos, sapatos tamanho 57. Apoiava-se bambo em uma bengala, andava vagarosamente com cuidado extremo, como se estivesse prestes a desmoronar. Nada mais assustadoramente frágil. Como são as baleias agora.

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