Pendurado em meio ao aglomerado de pessoas no vagão do metrô ele segue feliz. Pode sentir os músculos trabalhados pela manhã na academia. O trapézio e o deltóide estão levemente doloridos, avisando ao corpo que estão ali, saudáveis. Respira fundo, estufa o peito, sente-se bem, vivo.
Sentado à sua frente um rapaz, ipod nos ouvidos, balança-se em cadência dolente, cenho franzido, o som devia ser triste. Tem os cabelos revoltos, espetados, reflexos dourados brilham emergindo de sua cabeça. Mochila apoiada no chão entre os joelhos rasgados das calças jeans.
Os dois olhares, abaixando-se e elevando-se, cruzam-se num relance. O menino, educado, imediatamente faz menção de levantar-se, oferecendo o lugar:
- O senhor quer sentar?
Ele nega, embaraçado. Não esperava o oferecimento.
- Vou descer no próximo, explica.
Sorriem.
O auto-falante anuncia o destino. O trem dá um tranco, reduzindo a velocidade. Ele sente o ombro, faz uma careta. Na estação seguinte dirige-se à porta encurvado, lentamente, sentindo-se velho.
52 comentários:
ai, sir, esse desencontro...
as vezes olhando no espelho eu me pergunto: quem é esse corpo que me possuiu?
o 'velho' bombado e o garotão sedentário. eu sou você amanhã? Ou você sou eu ontem?
Anna,
Eu também.
Beijo
Marcio,
No caso, os dois. Bom te ver por aqui.
Grande abraço
Lord Caco,
reviravoltas inevitáveis, na vida e no texto.
Muito bom!
Beijo da
Vivina.
O que se estima e o que a realidade
ostenta inapelavelmente.
Muito bem colocado, Lord.
A Narrativa Breve tem um ás em seu elenco de seguidores.
Abraço.
Milord, passei por algo parecido outro dia. Eu estava com um curativo sobre a pálpebra esquerda e uma moça(!) me ofereceu lugar no metrô. Ainda bem que ela não insistiu!
Basta um olhar e toda a falsa euforia desmorona.
É duro manter a auto-estima...
beijos, boa semana para você.
Vivina, querida,
Preferia que fosse só no texto.
Grande beijo
Magaly,
Adorei a frase: o que se estima e o que a realidade ostenta...
Obrigado pelo carinho,
Beijo
Jayme,
Na hora dá vontade de sumir, não é mesmo?
Abração
Saramar,
Talvez por ser, essa euforia, apoiada em um castelo de cartas.
Boa semana pra você também,
Beijo
Lord, o tempo é implacavel. A gente percebe na pele!(para não falar nos músculos)....
Ainda não passei por essa, Lord. Deusmilivre!
Meu maior choque foi quando uma linda menina na qual estava interessado como voyeur (sim, estou sendo sincero), me chamou de "tio".
Tio é a PQP!
Esse Milton aí é Milton Ribeiro.
Lord, estamos todos na era do "tio". Alguns renitentes, são "tio sukita". Triste, mas real.
Um abraço grande
Eduardo, meu caro,
Pois é. Só que a gente não percebe no espelho.
Grande abraço
Milton,
Eu tinha percebido pelo sotaque. Essa história me lembrou de uma que aconteceu, também no metrô, com um amigo meu. Ele estava olhando insistentemente para uma menina, deliciosa, segundo ele, sentada. Olhou tanto que ela se tocou. Levantou-se oferecendo:
- Quer sentar, tio!
Grande abraço
Valter,
Freqüentemente esqueço dessa triste realidade. Por dentro ainda me sinto jovem. E... por fora também. Devo estar ficando cego.
Abração
nada como uma sacudida para nos colocar dentro da verdadeira perspectiva.
Ricardo,
Me pegou despreparado.
Abraço
isso que dá se apoiar em trapézios e deltóides. Euforia de trapezista. Altos & baixos.
Perfeito, pra variar.
...ou "Há 'malas' que descem no Belém(zinho)." ahahah
Lord,
Já aconteceu comigo e com o meu marido também, é comum, o trauma do tio sukita. Porém lembre-se:
- para os jovens,homens e mulheres passados dos 30 são velhos.
-depois dos 50,forte, malhado,são
considerados charmosos, veja Richard Gere (totalmente galã).
Bjs
Ô dóoooooooooo! Quer saber? Quando eu tinha 4 anos e estudava música, lá na minha cidade de origem, eu pedi para uma menina de uns 8 ou 10 anos abrir o portão de ferro para mim e a chamei de senhora!!!!!! Minha Mãe, do outro lado da rua, quase morreu de rir. Bjkª. Elza
Dias melhores virão.
Você não é cego não. É que acabamos acostumando com nosso corpo, mesmo com o passar do tempo, acabamos gostando do que vemos.
São eles, os jovens, que ainda não aprenderam a ver as coisas como elas são.
E são belas sim, olhe atentamente.
Um beijo
O tempo é inexorável, dizemos entre nós, as Alvarengas, que insistem em não envelhecer ...
mas agora mesmo vejo ele nas minhas mãos... o tempo!...
Lord, até que pra idade( rss) vc esta muito gato!... ( vi na foto do seu livro!)
Bjão!
Há que saber envelhecer. Com dignidade e sem olhar para trás. Não há mais nada lá...
fico tudo brasileiro agora? ou "brasileirão"? (não vá brigar comigo, só pq é o mais ve... antigo!)
Ah!
É 'passageiro', exatamente como diz o texto: solavancos, né, Lord?
Não é o tempo todo.
Ok, confesso, não sei o que dizer.
Penso em mim e me dói isso.
um beijo
Ah!por favor, leia um comment no auto-retrato;-)
M.
Guga,
Perfeitas são suas observações. Incrível como você consegue ser criativo e viajar no texto, títulos, etc. Me diverti demias.
Grande abraço
Maria Helena,
Obrigado pelo consolo. Estou bem longe de ser um Richard Gere. Em comum a idade. Acho até que ele é mais velho do que eu. Essa é a minha vingança.
Beijão
Elza,
Pois é, tudo é relativo. Essa relatividade, porém, às vezes cansa, dói.
Beijão
Aninha,
Dias melhores virão? Sei não... Daqui pra frente é só ladeira, pra baixo.
Beijão
Marilia,
Você tem em mãos livros de 92 e 96. Mudei um pouco de lá para cá. Caíram muitos cabelos, os que ficaram embranqueceram quase que totalmente. Só estou mais forte, hoje malho mais.
Grande beijo
Sandra,
Você tem razão. Com dignidade, embora nada mais indigno do que a velhice.
Beijo
Eliana,
Bem mais antigo. Você é um broto.
Beijo
Meg,
É bem por aí. Envelhecer dói. Li outro dia um pequeno trecho de um texto da Raquel de Queirós, magnífico, em que ela falava sobre a velhice. Dizia, mais ou menos assim, que ela vinha aos poucos, enfraquecendo o sujeito, minando-lhe as forças, bem lentamente, para tornar a morte menos bruta. Não está certo?
Beijão
Lord, o espelho é cumplice...
De uma passada no Varal de ONTEM e apanhe outro mimo, antes que vá para o arquivo.
Último aviso...
(;-))
Forte abraço.
Lord, ainda ontem li um panfleto que apanhei numa farmácia, campanha da Secretaria de Saúde do governo do Paraná, orientando a "terceira idade" quanto aos cuidados com as doenças sexualmente transmissíveis. Fiquei entusiasmado por dois motivos: primeiro, o público-alvo da campanha cresceu, bela constatação do aumento da longevidade; segundo, e mais importante, os velhinhos continuam mandando bala. É um belo incentivo para aderir aos conselhos ali mostrados sobre uma vida intensa e participativa para que a velhice se transforme em algo digno.
Eduardo,
Cúmplice? Talvez... Estou indo lá.
Abraço
Ery,
Não esquecendo, é claro, de tomar a azulzinha.
Abraço
Só mesmo o espelho me convence do contrário do que me vai contando o coração para quem o tempo não parece passar.
Oi,querido Lord
Já sentia sua falta no meu blog...
Pensei que só eu sentia esse peso,mas não....rs
Mas,não se preocupe ,pois os jovens andam tão cansados ,tão velhos....sou mais a gente...
bjs
Ah! Lord, que saudade agora me deu da dona Rachel.
Ah! um dia lhe conto.
Mas ela tem toda a razão. Vocês escritores sabem realmente tornar bonito o que é uma ... o que?
Não, não lido bem com a velhice.
Confesso.
Eu me antecipo logo, e digo que não é por motivos estéticos, embora eu seja vaidosísima, pater peccavit.
O que me incomoda na velhice, é a vilania. Sim é bonto o que D. Rachel escreveu (ela escreve sempre lindo, em todos os livros e todas crônicas que deixou)mas é isso,
sejamos filosóficos e portanto objetivos: é um prenúncio do fim.
Sabe do que mais, outro dia ouvi e não guardei bem, a essência de um pensamento que glorificava a velhice e dizia mais ou menos assim: ame a velhice, a alternativa a ela é o não existir.
Vou penar, ou melhor, não pensar nisso.
Um beijo
M.
P.S Encontri aqui alguns discos da coleção Marcus Pereira.
Falamos depois disso, então?
M.
Essas minhas andanças no metrô são ótimas,você vê e ouve de tudo!
Por ser umqa menina educada minha mãe ensinou que devo ceder o lugar aos mais velhos,tem muito tiozinho que aceita na boa,outros ficam p!Mais fala sério Lord,eu me amarro nos tiozinhos ''quarentões e cinquentões ''que nos oferecm o lugar,uns cavalheiros!rs
Ainda vou escrever no meu blog umas das minhas andanças no metrô!
beijos!
Silvares,
O problema é que o espelho, muitas vezes, nos mente. Ele teima em ser bondoso demais.
Abraço
Anne,
Eu é que estava sentindo falta de ler a sua saga. É das coisas que leio com mais curiosidade. Você tem razão, os jovens andam principalmente caretas. Incrível como ficaram conservadores.
Grande beijo
Meg,
Também gosto muito da Rachel (não sei a razão de ter escrito com "que", coisa de gente estúpida). Lembro do carinho com que meu pai se referia a ela: "minha tia". Você deve saber que ela foi muito amiga de Graciliano, o que provocava um cero ciúme em minha avó.
Não tenho medo da velhice, tenho medo da morte. Nesse caso o ponto final me assusta demais.
Discos ou CDs?
Grande beijo
Alice,
Gostei. Sou um tiozinho cinqüentão. Acho que mais um tiozão do que zinho, pois não sou assim tão pequeno. E cedo meus lugares freqüentemente: grávidas, idosos, gente com criança no colo. Acho que também sou bem educado.
Beijo
Lord! Meu auto-retrato sai nesta semana (embora o blog tantas vezes já o seja [pisc] ;)). Estava te devendo uns posts. Também serão atualizadinhos hoje e amanhã. Consegui arranjar um tempo para fazer direito o que devia.
Ontem Ruy Espinheira falou de seu avô, de sua tia Heloísa. Contou uma história na palestra. Depois vou contar no blog. Um beijo
Ah, interessante essa de senhor e senhora... eu tinha apenas 18 aninhos quando me percebi 'velha'. Uma criança polida e educada me pediu algo na prateleira de um supermercado: "a senhora pode pegar isso para mim?" Nesta hora, eu entendi que já não era eu mais a adolescente (imagina só) . E bateu crise... ahahaha.
Alena,
O Ruy deve ter se confundido. Heloísa era minha avó, mulher do Graciliano. Minha tia, filha dele, çasada com o James Amado, chama-se Luísa. Talvez esteja aí a confusão. A proximidade sonora entre os nomes Luísa e Heloísa.
Hoje em dia, quando me chamam de senhor, já aceito. Agora dói menos.
Aguardo o auto-retrato.
Beijo
Já presenciei muitas cenas como esta.
Às vezes,eu mesmo pego-me olhando para meus cabelos brancos no espelho e perguntando-me qdo foi a grande mudança?
Abração!!
Do,
A gente não percebe. O branco chega aos poucos.
Abraço
Meu querido amigo, é assim mesmo meu caro. Quando nos damos conta, já estamos longe de ser o mesmo que um dia fomos.
A juventude passa, mas traz a cada um de nós os valores com os quais o tempo nos premia pela nossa resistência: valores internos, lembranças felizes e lições da infância que volta gradativamente.
Envelhecemos para voltarmos a sermos crianças mais sábias do que aquela que um dia fomos.
Adoro os seus textos, Lord.
Abraços.
Mário, me velho,
Trocaria tudo pra ter minha juventude de volta. Como disse a Meg, em post recente, those were the days. Não pude deixar de viajar no que você disse. Envelhecemos para voltarmos a sermos crianças: fazer xixi na cama, usar fralda, esse tipo de coisa.
Abração
Meu querido Lord!
No comentário vc disse achar simpática, mas juvenil a postura!!!
Ah, amigo, um pouco de esperança, de excitação pela idéia, quiça ideal, nos move, nos dá forças para acreditar que ainda se luta, se rebela, se revolta.
vigor....
Eu sou impulsiva, naturalmente , adolescentemente rebelde!
Dom quixote das gerais,paradoxo eterno de Cervantes..
sou eu.
por isso vou postar Miamar amanhã!
bjos
Que jovem seu olhar jovem. Que jovem, seu olhar. Olhar que, olhar seu. Jovem que, jovem seu jovem que quer olhar.
Beijo.
hahahahahaha excelente. nem só de musculos....
Quando eu tinha 26 anos, perguntei quantos anos meus alunos achavam que eu tinha,
Um deles disse:
- sei lá, tia, 40?
-.............
Dependendo do referencial,toooodo mundo está no bico do corvo...rs
Quem se confundiu fui eu!! Ele falou certo: Luísa e Heloísa, certinho. Tsc tsc tsc Alena Cairo.
Beijos!
Quer saber,adoro quando me dão lugar;pra mim uma das poucas vantagens de envelhecer.E morro de rir intimamente quando rapazes e moças lindos,saudáveis e bem educados me chamam de tia.No inicio me dava vontade de dizer-lhes,só pra chocar:quem é tua mãe ou teu pai,não conheço esse ou essa irmã,ou outra bobagem qualquer,só pra deixá-los sem graça;mas achei que era maldade minha,os pequenos não merecem.Coloco-me no meu lugar e aceito as oferendas,alegre e com os ombros medianamente eretos.Depois que se encara olho no olho,a realidade com bom humor,a vida flue melhor.
Marilia, querida,
Não sei se me expliquei bem. Acho maravilhosa a postura. Juvenil no sentido da experança, do acreditar em mudanças. Infelizmente perdi essa fé além de ser, por temperamento, avesso a movimentos coletivos. Se tenho alguma luta pra lutar, prefiro lutar sozinho, "a la cowboy".
Beijo
Sibila,
Gostei!
Beijo
Leila,
Pois é! Tive que rir de mim mesmo.
Beijo
Vivien,
Cada vez mais para um número maior de pessoas, tia.
Beijo bem-humorado
Alena,
É que o engano é freqüente.
Beijo
Anunciação,
É assim que se deve ser. Você está certa.
Beijo
Me senti assim quando uma moça bonitona, cheia d epeitos, coxas e bundas veio baançando o cabelão em minah direção, toda sorrisos.
- Ai, eu adoro você cantando!
Um sorriso feliz na minha cara.
-Minha mãe te assitia quando estava grávida de mim, sabia?
Quis dar na cara dela.
Mas fingi bem pra cacete!
broto não, brota. mas a Marise ganha de mim. já arranjou quantos namorados?
Tatiana,
Nesse caso foi bem um bem que veio para o mal. Dava vontade de dizer:
- Puxa, sua mãe deu ainda menina, não é mesmo?
Grande beijo
Eliana,
Nenhum que ela é uma mulher de respeito. Tem um filho que a protege.
Beijo divertido
e os outros irmãos fazem o que? já sei, deixam ela d e s e s p e r a d a! já vi a Marise reclamar assim: "é tudo louco" ela diz ... com todo respeito; só não chamo de tia Marise, sempre me negei e tive razão, tá brôta para sempre.
Eliana,
Está, sim. Muito bem conservada, inteira.
Beijo
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