terça-feira, janeiro 23, 2007

Dullness!

Uma das coisas que mais me custa aturar é gente folgada. Vocês já repararam como o mundo está cheio deles? É o cara que fica sentado no ônibus e deixa a velhinha de pé, que empurra e não pede desculpa, fura fila, fala alto, fuma onde não deve, o mal educado, enfim. Todos os dias cruzamos com pencas deles, os imbecis de plantão.
É tão grande o universo dos folgados, que admite nuances. Temos os que são superlativos, sentam-se com as pernas abertas coçando o saco quando querem, e os discretos, silenciosos, incapazes de conversarem no cinema. É desses que tenho medo.
Incluo entre os folgados reservados aqueles que se dizem poetas. Nunca viram? Eu já, sou mesmo infeliz. É o que no meio da conversa insinua-se e diz que escreve umas coisinhas. Imediatamente mudo de assunto, macaco velho. Geralmente pergunto se assistiu ao último jogo do meu time, digo que o Luxemburgo sabe das coisas, comemoro os recentes resultados. Nem sempre, porém, dá certo. O folgado renitente sempre consegue me enrolar. Diz que o futebol que o Tabata jogou foi pura poesia, vê-se logo a má intenção do indijitado, e aproveita para se declarar poeta. Tem sempre por perto suas obras completas e as oferece, já que entendo das coisas. Pede que as leia, dê minha valiosa opinião. Acabo entregando os pontos e recebo o calhamaço, cheio de páginas, com cara de parvo, sorrindo amarelo. E o folgado, à vontade como de praxe, impõe-me prazo, adianta que liga no dia seguinte, para saber o que achei. E afasta-se sorrindo, missão cumprida, afirmando ter certeza que vou adorar.
Perco meu tempo. Meu São Fernando Pessoa, ajude-me! Os folgados pretensos poetas sempre desconhecem o que são versos. Invariavelmente metem-se a sobrepor frases sem critério, métrica ou ritmo. O resultado inevitável são obras completas de asnos.
O telefone toca e ouço um zurro. É ele acordando-me para ouvir elogios. Se eu fosse folgado...

2 comentários:

Anônimo disse...

Lord,
A formiga aqui adorou estar indicada na página do seu blog,um formigueiro de idéias, ao lado de tão distintos seres da mesma espécie. O nosso alimento? as palavras, nham,nham,nham... Beijos, Marise

Lord Broken Pottery disse...

Marise,

Você merece ser lida!

Beijos