terça-feira, maio 27, 2008

Smell

Sou dos que vai atrás de seus direitos, sem orgulho. Se posso receber salário desemprego, por exemplo, verifico o que preciso fazer, faço.
Essa semana andei de metrô. Ando sempre, mas cumpri um trajeto mais longo, com troca de trens, baldeamento para linhas diferentes, distantes. Sentado, raramente o faço pois sempre desço logo, minha vida acontece entre estações próximas, ia quieto, resignado, em busca de um passe grátis para trabalhadores demitidos. Com ele poderei andar três meses sem pagar, achei razoável .
E então o passado entrou por minhas narinas. Uma fragrância que nunca mais tinha sentido insinuou-se, invadiu meus sentidos. Revi, dentro daquele vagão, sem mais nem menos, minha infância no Rio de Janeiro. Eu menino, no apartamento de meu bisavô Américo, no bairro do Flamengo. A manhã chegando ensolarada, minha tia-avó Helena entrando no quarto para me acordar, o café da manhã gostoso esperando. Rindo, feliz, carinhosa com o sobrinho-neto ali hospedado. Eles sempre me cobrindo de cuidados amorosos. E, com a presença dela, aquele mesmo perfume que agora sentia, no meu caminho estranho, inundava o ambiente e meu início de dia, férias escolares. Percebi-me, talvez pela fragilidade do momento que vivia, aquela viagem inusitada, mais emocionado que de costume. Alguém, quem sabe aquela senhora de vestido florido, preparando-se para desembarcar, estava usando Leite de Rosas.

terça-feira, maio 06, 2008

Dear Friends

Queridos amigos,
A minha sensibilidade é meio estranha. Demoro um certo tempo para poder falar de determinados assuntos, principalmente quando eles me ferem. É como se fosse necessário deixar a ferida quieta, criando casca, antes de conseguir tocá-la.
No final de março, depois de trinta anos ininterruptos trabalhando no mesmo lugar, com algumas mudanças sutis decorrentes de terceirizações, mas basicamente atendendo ao cliente de sempre, fui demitido. Tive que enfrentar essa experiência nova com as armas que tinha, muito poucas. Basicamente decidi, antes de tudo, manter-me com o moral elevado, bem disposto, motivado, acreditando que enfrentaria a situação de maneira adeqüada. Difícil foi encontrar o botão onde todas essas determinações pudessem ser ativadas, mas de alguma forma consegui.
Como, não sendo mais o jovem que fui, em um mercado saturado e carente de profissionais baratos, com a área de processamento de dados cada vez mais em processo de extinção, virando comódite, acharia recolocação ganhando o suficiente, sem me humilhar? Embora com muito medo não desanimei.
Resolvi então diversificar. Ao invés de ter todos os ovos na mesma cesta corporativa, resolvi sair um pouco da área de informática, com a qual já não me encanto, e dirigir o olhar para outras habilidades que possuo. Estou dando consultoria na área de recursos humanos, sempre gostei de lidar com gente, mais do que com máquinas, deverei dar aulas em algumas faculdades, voltei a estudar, começarei, no semestre que vem, um mestrado na área de literatura na USP, garimpo alguma coluna em jornal ou revista, preciso aumentar minha produção literária. Embora deva lançar dois livros ainda esse ano, é no volume que o direito autoral começa a fazer diferença. Somando aqui e ali, acho que vou conseguir recompor meu orçamento, percebendo quase o mesmo que recebia, fazendo coisas que me deixam melhor.
A história, ao que parece, se encaminha para um final feliz. Talvez tenha premido aquele botão forte demais.
Tudo isso, por incrível que pareça, faz com que tenha menos tempo. Vivo em treinamentos, trabalhos avulsos, sempre correndo atrás de pequenos ganhos que, somados, possam fazer a diferença. Já não tenho uma sala em uma empresa. Lá, sempre me sobrava um espaço.
O blog, embora importantíssimo, deverá ter uma presença menos cotidiana. Não pretendo, de maneira nenhuma, sou fiel aos meus amores, desativá-lo, mas não conseguirei, como não venho conseguindo há algum tempo, ser assíduo.
Era a explicação que precisava dar aos meus amigos.
Beijos e abraços!