sexta-feira, dezembro 05, 2008

Unlawful

Outro dia recebi censura meio pesada. Acusaram-me de criticar demais o país, ser pouco brasileiro. Embora as palavras tenham ficado ecoando, e a gente deve prestar atenção quando isto acontece, fiquei feliz. Nacionalismo é uma das coisa mais burras conhecidas. Já disse outro dia, e repito, preferir me considerar um cidadão do mundo. Minha casa é onde estou bem. O Brasil tem coisas irritantes demais, não consigo ficar calado. Como viver em um lugar onde a observação das leis tem segundas intenções? De um tempo para cá resolveram colaborar para a lotação dos cárceres. Juízes, imbuídos de grande vaidade, fazendo alarde de seus pareceres, resolveram deitar sentenças a torto e a direito. Mandam prender, fazem e acontecem. Sem peso e sem medida. E assim, quando a interpretação da lei é tão livre e criativa, o povo acaba preso injustamente. Na minha lógica canhestra, devo ter aprendido na escola, há muito tempo, as prisões teriam sido feitas para protegerem a sociedade. Lá deveriam ser colocadas pessoas perigosas, ameaçadoras de nossa segurança. Será? Muitos assassinos estão por aí, beneficiados por serem réus primários e terem bons advogados. Leves e soltos. Botar na cadeia, porém, quem foi encontrada pichando a Bienal, dá IBOPE. Esta moça, a tal da Caroline, se considera uma artista. Declarou ser a forma de expressar-se, criticar a sociedade. Para mim não passa de uma topeira completa, mas poderia pagar o seu delito limpando paredes. Enfiá-la em uma cela, acompanhada de gente perigosa, é um crime pior. A sua arte é literalmente uma porcaria, mas caso insistamos em seguir por aí, precisaríamos tolher a liberdade de todos os cantores de música sertaneja.

segunda-feira, novembro 24, 2008

A Blissful Life

Já fui mais feliz, concluo com certa tristeza. Se olho para trás, e retomo o passado, não há como tapar o sol com a peneira. Antes que meus amigos corram para me acudir, alarmados com o que talvez considerem sintomas depressivos, chamo a atenção para o entendimento correto da frase inicial. Ter sido mais feliz, não significa ser infeliz. É apenas a constatação de uma gradação. Alguns fatores talvez contribuam para esta perda de fôlego de meu bem estar interior. Envelhecer, sem dúvida, é um deles. O passar dos anos tem várias características amargas. Chega um determinado momento em que passamos a fingir que não vemos o que o espelho mostra. Enxergamos alho, onde há bugalho. Meio que atordoados constatamos o encolhimento de nosso universo pessoal afetivo. Falo de amores. A morte, que acabará por nos levar, carrega antes aqueles de quem mais gostamos. O que sobra é saudade. Palavra única de nosso vocabulário, cujo sentido considero dúbio. Existem dois tipos: aquela que podemos matar, e a que será eterna, enquanto durarmos.
Cresci ouvindo de meu pai que a obrigação maior do ser humano era tentar ser feliz. Será que ele conseguiu? Aprendi, contudo, direitinho. Sempre fui um cara alegre e bem disposto, e continuarei sendo, pois sou renitente. Nada tenho, porém, de cego. A curva da felicidade é descendente.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Driving Away

Apenas um vislumbre, troca fortuita de olhares, e as sombras anuviaram meu caminho. Cena fortíssima, mereceria ser fotografada. Pendurada, tombada para frente, ela ainda segurava o telefone, esticando a espiral enrolada em seu pescoço. Ali, no meio da rua, em plena marginal Pinheiros, sob a cúpula do orelhão, ajoelhada na calçada úmida, chorava em desespero. Os espasmos de sua dor mostraram-se em questão de segundos, num trocar de marchas. Imaginei coisas tantas e tamanhas, duras de suportar. Morte, desamor, solidão. Talvez doença na família, câncer de fígado. Dívida de jogo, vício, saudade. Cidadezinha do nordeste e um filho distante, criado longe. Ou será que, tão rápido quanto nos avistamos, aquela infelicidade crua e a minha curiosidade mesquinha, eu já tinha começado a escrever? Melhor seria ter parado o carro.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Felpo Filva



Felpo Filva
De Eva Furnari
Ed. Moderna, 2006


Já faz um tempinho venho pensando em escrever sobre o Felpo Filva, publicado em 2006. Livro admirável, desses de se ficar cheio de raiva por não termos escrito. Gostei tanto, terminei tão apaixonado pela história, que imaginei possuir um desvio de simetria auricolar, sentindo-me como um dos homenageados pela Eva Furnari, já que a obra foi dedicada aos possuidores de orelhas diferentes. Cheguei a correr para o espelho e passar alguns instantes observando, medindo, comparando, incrédulo e insatisfeito com a igualdade das minhas. Talvez em outra vida, nas fábulas infantis tudo é possível, eu tenha sido um bicho com uma orelha maior do que a outra. Tomara!
Não deixa de ser engraçado ver um coelho ganhar um Jabuti. Mas é justo, muito justo, presente merecidíssimo, como foram todos os outros recebidos pela ótima publicação da editora Moderna. Essas páginas tão bem escritas e ilustradas parecem gostar de colecionar prêmios.
Fico sempre agradecido ao ver as coisas serem feitas de forma simples. Sou possuidor de certo fraco por resultados elaborados sem exageros. Quando as idéias se juntam e, combinadas, conseguem formar um todo despojado de excessos, o bom gosto e a beleza parecem ganhar força, impondo-se. Podemos notar isso quando lemos o texto em questão, basicamente uma historinha de amor, muito bem imaginada. Tudo está na dose certa. A criança que experimentar esse pequeno volume amarelo terminará enriquecida. Lembrará para sempre de Charlô e Felpo, simpático casal de coelhos intelectuais. Diversão e aprendizado garantidos. Ou há alguma outra razão para a garotada ler?

quarta-feira, outubro 15, 2008

Flying

Tem gente que nasce sabendo tocar um instrumento. No jargão mais popular, acompanham a música de orelha, sem nenhuma formação anterior. Nada conhecem de sifras, solfejos, jamais viram uma clave de sol. Eu sou assim, escrevo de ouvido. Cometo, por isto mesmo, erros que depois me encabulam. Minha gramática é fraquíssima. Perco-me em meio a vírgulas, crases, careço de um conteúdo formal que sustente o que escrevo. Já houve época em que ficava muito incomodado com a minha falta de substância acadêmica, chegava a desistir de alinhavar algumas palavras. Depois perdi os bloqueios, o que significa dizer que me tornei um escritor sem vergonha. E a razão é muito simples, escrever é a maneira que encontrei de voar.

terça-feira, outubro 07, 2008

Publishing Books

A vida às vezes toma rumos surpreendentes. A minha, este ano, sem dúvida mudou muito. Capricorniano dos mais convictos, capaz de fazer as mesmas coisas diariamente, sem mudar uma vírgula, ando um pouco perdido. Antes, quando me pediam exemplo de um dia feliz, eu surpreendia as pessoas revelando que era aquele exatamente igual ao anterior, idêntico. Talvez por ser excessivamente controlador, problema que anos de análise não resolveu, a possibilidade de surpresas, a ausência de rotina, sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. Depois que virei consultor tudo mudou. Já não tenho mais horário nem para ir ao banheiro. Durmo em cidades diferentes, como troços estranhos, faço e desfaço malas. Consulto aflito minha agenda procurando alguma coerênca. Nenhuma. E o mais estranho é que estou gostando. Trabalho, escrevo, faço esporte e, principalmente, lanço livros. Virei máquina de publicar. E para não fujir ao novo hábito, estarei unindo duas de minhas novas aptidões no próximo sábado, dia onze de outubro. Viajarei para Campinas para lançar, na FNAC de lá, às 16:30, o Sobre O Telhado Das Árvores.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Vale A Pena


Não posso me queixar deste ano em termos de produção literária. Dos mais produtivos que já vivi. Além de ter lançado, pela ed. Globo, o Sobre Telhado Das Árvores, bastante festejado por aqui, consegui escrever e publicar mais dois livros. Um deles é o Vovô É Um Cometa, publicado pela Positivo, editora de Curitiba, terra do meu querido Ery, que ainda não tem lançamento previsto. Está à venda nas melhores livrarias. Para que tenham idéia do que se trata, coloco um link do site da editora, com algumas informações. O outro, Vale A Pena, editado pela Scortecci, escrito com meu amigo de infância, Ricardo Betti, foge um pouco às minhas características, por não se tratar de texto infantil. Terá festa de lançamento, coloquei o convite aí em cima para que compareçam, e me façam ainda mais feliz.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Lyrics

Tenho uma prima que se chama Janaina. Gosto muito dela e do nome. Ela acaba de inventar um blog, o link está aí ao lado. Visitem, vale cada palavra escrita desta excelente escritora. Sua última postagem fala de uma letra do Caetano. Pensando aqui e alí, lembrei de uma do Martinho, não me perguntem a razão. Não é particularmente meu estilo de compositor preferido. Talvez pela surpresa que me causaram as palavras, quando prestei mais atenção. Leiam e me digam o que acham:
.
Ex-amor
Martinho da Vila
.
Ex-amor
Gostaria que tu soubesse
O quanto que eu sofri
Ao ter que me afastar de ti
Não chorei
Como um louco eu ate sorri
Mas no fundo só eu sei
Das angústias que senti
Sempre sonhamos
Com o mais eterno amor
Infelizmente eu lamento
Mas não deu
Nos desgastamos
Transformando tudo em dor
Mas mesmo assim
Eu acredito que valeu
Quando a saudade
Bate forte é envolvente
Eu me possuo e é na sua intenção
Com a minha cuca
Naqueles momentos quentes
Em que se acelerava meu coração
.
Tem onanismo neste sambinha, não tem?

sexta-feira, agosto 15, 2008

Water

Não sou um ser ecológico. Estou me lixando para o lixo. De maneira geral considero aqueles que se preocupam demais com a natureza uns chatos. Com relação à questão da água, tendo a pensar como Maria Antonieta. Se faltar pão, que se virem com brioches, bebam refrigerante, tomem banho de leite.
O mundo está no fim, e não há muito o que possamos fazer para salvá-lo. A destruição que causamos já é irreversível. Hipocrisia e, mais uma vez, arrogância, considerarmos que podemos corrigir o que mal feito foi. Não somos deuses. Até porque, se conseguíssemos voltar no tempo, tornaríamos a cometer os mesmos desatinos. A humanidade é cabeça dura, burra, tem muita dificuldade em tirar ensinamento das catástrofes que provoca. O nosso fim é virar passa. Terminaremos secos, esturricados. E o pior de tudo é que teremos muita dificuldade, será quase impossível chorar. Nosso pranto será desidratado.

domingo, agosto 03, 2008

Don´t Worry, Be Happy

Felicidade se compra, eu também dou esmolas. Evito mas nem sempre consigo. Quando o sentimento de culpa é maior, acabo cedendo. Por ter mesa farta e poder me vestir, além de possuir cama com lençóis limpos para dormir, freqüentemente fico impactado com a desgraça dos outros, os desvalidos. A diferença é que sou crítico. Assistencialismo está na moda mas não me convence. Melhor ensinar a pescar, o que significa um monte de coisas: educação, segurança, emprego, saúde, infra-estrutura adequada. Evidentemente ítens mais pertinentes à seara governamental. Para isso pagamos impostos. A argumentação mais comum insiste no fato de que precisamos fazer alguma coisa. Concordo. Mas tem gente que faz e sai abanando o rabo, feliz da vida. São os salvadores do mundo, têm ar de santo, vivem rindo. Botam no currículo a ajuda que dão, cumprem seus deveres cívicos e dormem em paz. São pessoas especiais. Levemente preconceituosas, patriotas, um quase nada arrogantes, exibem gostos diferentes do meu. Se vão ao cinema preferem comédias românticas. Consideram o lado espiritual muito forte em suas vidas, às vezes até rezam. Fazem turismo em lugares quentes e ensolarados. Eventualmente ficam de pilequinho, mas bebem apenas socialmente, nas festas cotidianas. Detestam Amy Winehouse, um péssimo exemplo. Adoram Ivete Sangalo, acham Miami bárbaro. Não lembram o úlimo livro que leram, mas gostam muito de estudar. A memória, aliás, parece não ser o forte deles. Esquecem fácil, perdoam imediatamente, não guardam rancores. São amigos de todo mundo. Anunciam aos quatro ventos a data de seus aniversários, e celebram os presentes que recebem com os olhinhos brilhando, emocionados. São todos gente boa, como nunca serei.

terça-feira, julho 15, 2008

The Best Place In The World

O mundo inteiro presta bem pouco, não há otimismo que nos faça crer em melhora a curto prazo. Violência, fome e dor parecem ser ainda os lugares mais comuns em nosso cotidiano. Achar horizontes diferenciados é difícil e tolo. Contentar-se com paisagens bonitas pequeno. Turismo? Prefiro a ventura do pensamento. IMAGINAÇÃO! O melhor lugar do mundo somos nós, espiando-nos.

segunda-feira, junho 30, 2008

Day After

Voltamos à nossa programação normal. O título não poderia ser mais adequado. Vivo uma intensa ressaca pós lançamento. Para os que não sabem, ela existe. A gente fica feliz, até meio aéreo, bobo com tudo o que aconteceu, e um pouquinho triste, por ter aproveitado quase nada a presença dos amigos. Não deu para conversar, curtir o carinho que levaram à livraria, todos queridíssimos. Só fui saber que teve bufê, serviram bebida e salgadinhos, em casa, à noite, pela minha mulher.
Quando fui deitar, desmunhecado pelo excesso de autógrafos, aflito por saber ter esquecido de registrar o que precisava, lamentando ter dito menos do que devia, consciente da pobreza de meu repertório, insatisfeito com os garranchos que macularam as páginas do livro, tão bonito, e com os prováveis erros que cometi ao escrever tão rápido, encostei a cabeça no travesseiro e sorri.
Vocês são o máximo!

segunda-feira, junho 09, 2008

Sobre o Telhado das Árvores



Lançar um livro é sempre uma alegria. Todos os meus amigos estão convidados. Certamente irão me encontrar feliz, muito.

terça-feira, maio 27, 2008

Smell

Sou dos que vai atrás de seus direitos, sem orgulho. Se posso receber salário desemprego, por exemplo, verifico o que preciso fazer, faço.
Essa semana andei de metrô. Ando sempre, mas cumpri um trajeto mais longo, com troca de trens, baldeamento para linhas diferentes, distantes. Sentado, raramente o faço pois sempre desço logo, minha vida acontece entre estações próximas, ia quieto, resignado, em busca de um passe grátis para trabalhadores demitidos. Com ele poderei andar três meses sem pagar, achei razoável .
E então o passado entrou por minhas narinas. Uma fragrância que nunca mais tinha sentido insinuou-se, invadiu meus sentidos. Revi, dentro daquele vagão, sem mais nem menos, minha infância no Rio de Janeiro. Eu menino, no apartamento de meu bisavô Américo, no bairro do Flamengo. A manhã chegando ensolarada, minha tia-avó Helena entrando no quarto para me acordar, o café da manhã gostoso esperando. Rindo, feliz, carinhosa com o sobrinho-neto ali hospedado. Eles sempre me cobrindo de cuidados amorosos. E, com a presença dela, aquele mesmo perfume que agora sentia, no meu caminho estranho, inundava o ambiente e meu início de dia, férias escolares. Percebi-me, talvez pela fragilidade do momento que vivia, aquela viagem inusitada, mais emocionado que de costume. Alguém, quem sabe aquela senhora de vestido florido, preparando-se para desembarcar, estava usando Leite de Rosas.

terça-feira, maio 06, 2008

Dear Friends

Queridos amigos,
A minha sensibilidade é meio estranha. Demoro um certo tempo para poder falar de determinados assuntos, principalmente quando eles me ferem. É como se fosse necessário deixar a ferida quieta, criando casca, antes de conseguir tocá-la.
No final de março, depois de trinta anos ininterruptos trabalhando no mesmo lugar, com algumas mudanças sutis decorrentes de terceirizações, mas basicamente atendendo ao cliente de sempre, fui demitido. Tive que enfrentar essa experiência nova com as armas que tinha, muito poucas. Basicamente decidi, antes de tudo, manter-me com o moral elevado, bem disposto, motivado, acreditando que enfrentaria a situação de maneira adeqüada. Difícil foi encontrar o botão onde todas essas determinações pudessem ser ativadas, mas de alguma forma consegui.
Como, não sendo mais o jovem que fui, em um mercado saturado e carente de profissionais baratos, com a área de processamento de dados cada vez mais em processo de extinção, virando comódite, acharia recolocação ganhando o suficiente, sem me humilhar? Embora com muito medo não desanimei.
Resolvi então diversificar. Ao invés de ter todos os ovos na mesma cesta corporativa, resolvi sair um pouco da área de informática, com a qual já não me encanto, e dirigir o olhar para outras habilidades que possuo. Estou dando consultoria na área de recursos humanos, sempre gostei de lidar com gente, mais do que com máquinas, deverei dar aulas em algumas faculdades, voltei a estudar, começarei, no semestre que vem, um mestrado na área de literatura na USP, garimpo alguma coluna em jornal ou revista, preciso aumentar minha produção literária. Embora deva lançar dois livros ainda esse ano, é no volume que o direito autoral começa a fazer diferença. Somando aqui e ali, acho que vou conseguir recompor meu orçamento, percebendo quase o mesmo que recebia, fazendo coisas que me deixam melhor.
A história, ao que parece, se encaminha para um final feliz. Talvez tenha premido aquele botão forte demais.
Tudo isso, por incrível que pareça, faz com que tenha menos tempo. Vivo em treinamentos, trabalhos avulsos, sempre correndo atrás de pequenos ganhos que, somados, possam fazer a diferença. Já não tenho uma sala em uma empresa. Lá, sempre me sobrava um espaço.
O blog, embora importantíssimo, deverá ter uma presença menos cotidiana. Não pretendo, de maneira nenhuma, sou fiel aos meus amores, desativá-lo, mas não conseguirei, como não venho conseguindo há algum tempo, ser assíduo.
Era a explicação que precisava dar aos meus amigos.
Beijos e abraços!

segunda-feira, abril 07, 2008

Black Cloud

Escrevo envergonhado, com a clara sensação de estar infringindo regras claras de um jogo que não estou jogando direito. Há que haver uma relação de troca. Se visitam-me, comentam o que escrevo, é fundamental que retribua, leia com atenção o que falam, deixe minha opinião à respeito. Sinto-me devedor e não gosto de ser pouco educado.
Quando olho para cima vejo nuvem negra que insiste em ficar por aqui. Tenho lutado para afastá-la. Enquanto não o fizer a paz necessária faltará. Sem alegria, preocupado, não tenho como viajar. É desse turismo sadio pelos blogs amigos que me abstenho por falta de libido, tesão. Que o vento, o tempo, qualquer circunstância feliz seja capaz de afastar esse momento difícil. É só uma questão de paciência. Minha e dos amigos. Logo estarei de volta como se deve.

domingo, março 09, 2008

News From The Wild

Tenho andado dolorosamente longe das postagens e das visitas aos blogs amigos. Isso me faz mal, deixa-me atarantado, sem ter onde por os pés, deitar raízes. Preciso desse contato para ter serenidade, alegria, equilíbrio. Escrever é talvez minha principal válvula de escape. Embora seja analisado por uma profissional, é através da palavra escrita que o trabalho de Freud torna-se quase dispensável.
O mundo corporativo é voraz. Quando menos esperamos o cotidiano nos engole. Preocupados em sair ilesos das armadilhas colocadas e devolver, na mesma moeda, o que nos aprontam, embrutecemos. Mergulhados nessa batalha diária e, infelizmente, apaixonados por esse jogo sórdido, acabamos perdendo a delicadeza.
Tenho tentado sobreviver, esticar o pescoço para fora da lama, respirar um pouco de ar puro, mas está difícil. Nessas horas ouço música, vou ao cinema, leio bastante. É como se quisesse afastar-me da raiva que sinto das pessoas que me provocam, desafiam-me. E por sentir-me violento, prefiro a introspecção e o silêncio. Fico na penumbra ouvindo a voz de Amy Winehouse cantanto Back to the black, obsessivamente, relembro passagens do filme Into the wild, dirigido por Sean Pean, considerando se é verdade que a felicidade, para ser real, precisa de compartilhamento. Queria poder me refugiar nas drogas, ou ir viver no Alaska. Bobagens adolescentes. Pena que eu goste tanto de uma boa briga.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

As Time Goes By

O tempo passa nos trazendo surpresas. O futuro quase inexiste tão intimamente está ligado ao presente. O ritmo frenético dos acontecimentos vomita, diariamente, novidades difíceis de digerir. Sem muito questionamento abraçamos tudo, moderninhos, loucos para parecermos atuais, perfeitamente adaptados ao existir-tecnológico. Tudo isso tão naturalmente arraigado ao nosso cotidiano, que vez em quando nos surpreendemos, se o inusitado acontece.
Estar desplugado é condição assustadora, virou pesadelo.
Fico sabendo de um escândalo em família. Minha sobrinha, estudiosa, chegou em casa programando realizar um trabalho para o colégio. Encontrou, desespero dos desesperos, o computador sem acesso à Internet. Fez o que sempre faz, correu para casa de minha mãe, a avó, pretendendo chorar as pitangas em colo quente. Lá, acalmada a gritaria de queixas, mergulhada em carinho abundante, ficou sabendo de uma coisa estranha, a existência de enciclopédias. Foi apresentada aos livros que os tios utilizavam quando tinham a sua idade. Mal pode acreditar. Aqueles tomos amarelados possuíam tudo o que precisava. Índice, acesso rápido, independência total de eletricidade, comodidade, podiam ser carregados para todo o canto. Sentou-se, acomodou o grande volume sobre a mesa da sala, pesquisou, achou o que desejava. Com letra bonita e caprichada, exigência de quem é obrigada a evitar o velhaco copiar-colar, escreveu a lição.
Adoro quando o passado chega de mansinho pregando peças.

sábado, fevereiro 09, 2008

Words

A Ana Vidal, do excelente Porta do Vento, lançou-me o desafio de enfileirar doze palavras que façam a diferença para mim, das quais eu goste muito.
Esse tipo de coisa tem o dom de mobilizar-me. Passei o dia pensando nisso, seria possível escolher? O que faria um ajuntamento de letras ser especial?
Ao mesmo tempo que amo a possibilidade de dizer as coisas de forma bem dita, e gaste muito tempo procurando o jeito mais exato de incluir nas frases os vocábulos mais adeqüados ao pensamento, capazes de tornarem as idéias precisamente elaboradas, não acredito na beleza das palavras isoladas da moldura de um contexto. Elas são vaidosas, femininas, gostam de um entorno bem produzido, exibidas criaturas. Sozinhas, sem companhia, perdem boa parte do valor.
Como não pretendo fugir ao desafio, ficando sobre o muro, tentei algum critério que me ajudasse. Substantivos, verbos, quais seriam mais exuberantes, poderia caminhar por aí? Bobagem. Até os adjetivos, muitas vezes frívolos e desnecessários, têm, conforme a hora, seus encantos.
Fiquei um tempo na janela do quarto, sentindo a brisa que vinha lá de fora, gostosa, quase esquecendo dessa tarefa difícil. Agarrei, porém, a resposta que me fugia. Concluí, satisfeito, que meu gosto pelas palavras é imediato, enfeitiçam-me as que uso em meu último texto. Foi só retroceder e marcar, em cor diferente, as atuais preferidas.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Carnaval

Tinha prometido a mim mesmo aproveitar esses dias de folga produzindo um texto sem fantasia, desprovido de purpurina, confete, o menos eufórico possível. Não consegui. Sento aqui com a aflição de quem sabe que incorreu num grave erro para quem quer escrever: deixei escapar a disciplina. Mergulhei no cotidiano corporativo de cabeça e permiti que a distância das palavras, e o afastamento do ritmo produtivo, me fizessem estranhar a dificuldade encontrada agora. O vazio de idéias era esperado, fruto da falta de treino. Não devia estar surpreso. Escrever, como qualquer atividade, só é possível se respeitamos o ritual pertinente ao ato em si. Da mesma forma que sexo de boa qualidade exige preliminares, esporte aquecimento e trabalho rotina, o esforço literário precisa de dedicação. Deveria ter mantido a constância. Como fui relapso, sinto-me um pouco enferrujado, perdido.
E para não fugir ao tema, ficando mais à vontade nessa temporada de folia, vou logo despindo o verbo. Até quando veremos a mesma festa repetida? Embora o quesito originalidade seja um dos pontos de avaliação, nossa festa mais popular deixou de apresentar novidades. Todo ano é a mesma coisa. Gente desimportante demais ocupando a mídia por tempo demais.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Wine Tasters

Agora todo mundo entende de vinho. É fácil observar isso em qualquer reunião que se vá. Logo aparecem copos enormes, autênticos aquários providos de pés. As pessoas então se perfilam, lançam olhares apaixonados para as garrafas, utilizam-se de ferramentas caras para abrí-las e servem-se. Ficam chacoalhando a pequena porção que lhes coube por um bom período, como se o recipiente de vidro contivesse substâncias que necessitassem ser misturadas. Falam então de vapores libertos. Com caras de idiota sorvem o conteúdo e põe-se a agitar o líquido na boca, movimentando a cabeça para cima e para baixo, olhares sonhadores, buscando na memória sabores escondidos. Encontram, e dão o veredito final. A bebida é de boa qualidade, sempre. Jovem, leve paladar frutado, entre o seco e o meio-doce, não muito encorpado, com eflúveos amadeirados, toque aveludado de cereja. A turma é boa, percebe tudo isso naquela rápida bochechada. E eu fico olhando esse teatro, abestalhado, morrendo de inveja. Minha língua é um desastre, mal separa o doce do salgado. No tempo em que bebia, e o fazia com tamanho entusiasmo que minha cota nessa encarnação já esgotou, beber era mais simples. Eu dava um trago, fazia uma careta, jogava um pouquinho para o santo e continuava o papo: cinema, mulher e futebol. Nada muito complicado.

sábado, janeiro 12, 2008

I´m In A Pet

Não sou especialmente afeiçoado a animais. Cresci, porém, em casa com muitos. Meu irmão, vocação perdida de veterinário, deveria ter cursado, vivia trazendo bichinhos de estimação. Cachorros, passarinhos de todos os tipos, papagaio, tartarugas, peixes, hamsters, convivi com toda essa fauna. Por ser egoísta demais, totalmente voltado para meu próprio umbigo e para as coisas que me interessavam, nunca dividi minha afetividade com esses amiguinhos do Rogério. Não pertenciam ao meu mundo.
Outro dia, passeando em um shopping, fazendo hora para ir ao cinema, parei em frente a uma loja. Percebi na vitrine uma bola de pêlos desgrenhados dentro de uma gaiola. Poderia ser um rato, um coelho, sem dúvida um ser estranho, média aritmética perfeita entre os dois, quem sabe um "ratelho". Espremia-se empurrando o rosto nas grades como se quisesse passar entre elas. O movimento franzia-lhe as feições, arreagaçando-lhe a boca, provocando a exibição crua dos dois dentões da frente que encostavam no metal da prisão. Olhar melancólico e furioso ao mesmo tempo, cansado. É triste ver a vida ser agredida de forma tão ignóbil. Quem poderia querer comprar aquilo?

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Made In Brazil

Não sou patriota. Isso das nossas aves gorjearem melhor do que as de lá de fora carece de lógica. Aqui, ou no Haiti, passarinho canta bonito, desde que em horário adeqüado. Meu país é estar bem comigo mesmo. Minha terra é onde encontro felicidade. Só quem não conhece o mundo, nunca viajou, pode insistir nesse orgulho tolo comparativo. Festejar ser brasileiro, viver declarando que somos o melhor lugar que existe, soa-me antigo.
Dentro desse espírito, debaixo dessa ótica, surpreendeu-me outro dia uma jovem que por mim passou. Trazia no dorso tatuado: Made In Brazil. Grande coisa!
Já disse, e repito, que nada tenho contra tatuagens. Meu sentimento com relação a elas é curioso. Oscilo entre achá-las bonitinhas e vulgares. Depende, é claro, da pessoa que as ostenta. Só não entendo quando escrevem. Nome de filhos, mensagens religiosas, vãs filosofias, tanta besteira... Pobre pele. Prefiro o corpo nu.