terça-feira, novembro 02, 2010

Sakineh Mohammadi Ashtiani

Amanhã, no Irã, apedrejarão Sakineh Mohammadi Ashtiani. Tentarão acertar o seu rosto tendo a cabeça como alvo. A primeira pedra, quem sabe, atingirá o nariz provocando imensa dor. Seus olhos se encherão de lágrimas e de susto. O gesto natural e instintivo de proteger-se será impedido. Estará enterrada com as mãos presas. A segunda, pode ser, passará de raspão e abrirá um corte em sua orelha, oferecendo-lhe um brinco de sangue. Uma outra irá ferir-lhe a testa. Certeiros arremeços arrancar-lhe-ão dentes que ficarão soltos, brincando com a língua, perdidos e tristes na boca amarga. Suas duas vistas, então caladas e vazias, já não mais poderão enchergar corpos masculinos. Nunca. Em seguida, confusa e desesperada de medo, respirando aos trancos o ar que ventila grosso e salgado os pulmões apavorados, ouvirá um baque surdo e distante. Coração pulsando nas têmporas. Um peso áspero e pontudo afundará sua garganta. E o choro engasgado borbulhará gotinhas vermelhas delicadas num chiado estranho de panela de pressão. As próximas pedras já não serão sentidas. Embalarão sono profundo e dormente, lânguido, quase sonho. Alá, meu bom Alá.