terça-feira, julho 10, 2007

Punk Baby

Estação Trianon do metrô, hora de voltar para casa. Caminho cabisbaixo carregando o dia difícil nas costas. Ouço a campainha chamando assim que deixo a escada rolante. Corro e pulo dentro do vagão, a porta fecha-se atrás de mim em um estrondo mal educado, já não as fazem como antigamente. Respiro fundo, recomponho-me, equilibro-me desengonçado depois que o carro arranca. Ao meu lado um ser estranho. Pele escura coberta de tatuagens, brincos nas orelhas e nariz. Os pêlos ralos do rosto, escondidos, foram substituídos por desenhos sem nexo. Falsas costeletas azuis torneadas em arabescos entrelaçados descem quase até o queixo. Uma lágrima negra, fixada para sempre, posicionada abaixo da pálpebra direita, dá um ar triste e divertido ao indivíduo. Responde alguma coisa à mulher que o acompanha. Conversam cúmplices embalados pelo balanço morno da condução, pendurados. A enorme pena colorida enfiada nos cabelos da moça dá-lhe um ar apache, saia comprida e blusa curta, umbigo com pingente à mostra, dizeres escritos nos braços e pernas. Feitos um para o outro. Surpreendentes. Nisso um grito fino de criança vem quase do chão. Baixo os olhos curioso, ainda não tinha reparado naquele detalhe. Em um carrinho prosaico o menino novinho ri olhando o pai que lhe faz um agrado, anéis em todos os dedos, carinhoso. Os cabelos, cuidadosamente penteados e coloridos, formam enorme crista engomada. Mal contenho a vontade de rir. O bebê é punk.

35 comentários:

Anônimo disse...

O sonho não acabou.


Só vive mudando de canal.
( De um para outro, daqueles UHF, que quase ninguém vê ) .

Van disse...

Lord, meu querido........
Já estava com saudades e sentindo sua falta!
Correndo atrás do.....
Hmmmmm! E pegou?????
;)
Fica bem.
Não suma nunca mais!
Beijuca

valter ferraz disse...

Lord,
Ganhei o dia. Um bebê punk, no trem do metrô!
ô vida, boa.
Grande abraço

Maria Helena disse...

Lord,
é surpreendente como existem casais
tão iguais.Porém eu e o meu marido somos tão diferentes, tanto que as vezes, ele fala:
- Acho que não vai dar certo Nenê
(me chama assim)??? depois de 40 anos???? hehehehe....hihihihhhh...
Lord, nos comentários do meu último post, fiz uma pergunta de ordem gramatical, dúvida eterna, se voce puder responder, agradeço de coração.
Bjs

Silvares disse...

A maravilhosa variedade da espécie humana! Talvez o bébé no futuro não seja Punk. O conflito geracional ataca em todas as famílias, mesmo nas mais coloridas.
:-)

Rosa Brava disse...

Tal pai, tal filho... não diz o Povo?

E será quando ele crescer quererá ser igual ao Pai?

Minha mãe era uma grande pianista, eu nunca o fui... apesar de adorar piano... gosto mais do mar e de...de cavalos. :-)))


Beijo ;)

Anônimo disse...

Quem sai aos seus não degenera.KKKKKK.

dade amorim disse...

Gostaria de ter visto essa família, Lord :) Gosto do jeito como você conta essas histórias.
Beijo pra você.

Vivien Morgato : disse...

Eu sei que vivo falando de alteridade...mas não há alteridade que resista a um bebê punk.
Eu penso que se ele seguir a lógica do confronto de geracões vai ser um bancário de terno.;0)
beijos.

ana v. disse...

Concordo com a Vivien. O bebé vai querer ser um bancário engravatado, nem que seja para provocar os pais!

Deliciosa forma de contar essa história, milord. Escreva mais.

beijo
ana

O Meu Jeito de Ser disse...

Lord bom dia.
Gostoso ler o que escreve. Não há como não se sentir, apertadinho dentro do metrô.
Claro que nos transportamos, e participamos do caso, nos vemos na história.
Agora o bebê punk, esse foi de muita originalidade.
Um beijo

Anônimo disse...

É punk, e não sabe.
Quem sabe o que será?
Muito bom seu texto.Como sempre.

Lord Broken Pottery disse...

Peri,
Será que eles sonharam? Tenho lá minhas dúvidas. Houve época em que tínhamos além do exterior mais interior.
Abração

Van,
Eu prometo, I will.
Beijão

Valter,
Gostei, é bem isso: ô vida boa...
Abração

Maria Helena,
Vou lá no Caminho Suave ver e tentar responder.
Beijão

Silvares,
Penso muito nisso, muito bem colocado. Será que haverá conflito de gerações? Há, sim, fase inicial onde o jovem se rebela, quer ser diferente. Muitas vezes, porém, passada essa fase, com o amadurecimento, as coisas mudam. Estará ele lá um dia ouvindo o seu pop, Elthon John cantando solto, começará então no rádio um som do Kid Vicious e ele irá parar tudo para ouvir. Aquele chamado selvagem atávico irá falar mais alto e ele recuperará o caminho dos seus pais, cada vez mais punk.
Abração

Menina_Marota,
Obrigado pela visita, farei um link para poder visitá-la mais fácil. Também gosto de mar (apesar da areia) e de cavalos. Não sei, como já disse àcima, se sempre queremos ser diferentes.
Beijão

Maqui,
Também acho, de verdade. Obrigado pela visita. Farei um link para poder retribuir.
Beijão

Adelaide,
Eu conto como vejo. As histórias estão por aí, não é mesmo?
Beijão

Vivien,
Que nem eu (risos).
Beijão

Ana,
Será? Conforme coloquei para o Silvares, tenho lá minhas dúvidas. Nossas heranças às vezes são mais fortes que as vontades rebeldes. Obrigado pelas palavras gentis.
Beijo

Aninha,
A maior originalidade está no fato dele existir. Eu vi.
Beijão

Eduardo,
Acho que é mais por aí. Quem sabe o que será?
Abração

Claudio Boczon disse...

Me lembrou do Brave New World, quando o protagonista (como é mesmo o nome dele?) chega na aldeia "selvagem", um relato tão descritivo que parece isolado numa bolha - igual a tantos que fazemos sem perceber.

abraço

Anônimo disse...

Texto gostoso de ler. Meio resignadamente mal-humoradinho no começo e com suave desfecho.
O bebê pode ser um neto do Bob Cuspe. Talvez seus tios de 2º grau, bem mais velhos, Wood & Stock. São as cargas hereditárias se renovando. Legal é q em meio a ambiente tão inóspito, o carinho do pai, ao meu ver, pós-punk. Será q a Vivien têm razão qto a identidade mais tarde do bebê? Beijo.

Lord Broken Pottery disse...

Claudio,
John, o Selvagem, o cara que queria ser livre. Não li o livro, vi apenas o filme. Será que o menino, o bebê punk, vai querer ser livre?
Abração

Lord Broken Pottery disse...

Sibila,
É aí que reside minha dúvida. Será que essa rejeição rebelde aos pais dura para sempre?
Beijão

marilia disse...

ai , deve ser o maior bunitin...adoro casal hippie, e punks...eles são sempre gentis e amorosos...
é sério.
bem...pelo menos os que conheço... eles vendem bijoux na feirinha hippie perto daqui do meu escritorio...
gente boa, sô!
ps: o texto é uma delicia, parece que vc esta do meu lado falndo...
um abraço

Lord Broken Pottery disse...

Marilia,
Que bom que você gostou. Adorei o: parece que você está do meu lado falando... Acho que é para isso que escrevemos.
Beijão

Anônimo disse...

linda pintura urbana.
vi uma cena em berlin muito sulamericana, promovida por garotos e garotas dessa mesma tribo. naquela cidade os cahorros não latem nem mordem.estranho. estava numa praça quando comecei a ouvir muitos uivos e latidos. surreal praquele lugar. era uma turma grande, com seus cahorros moicanos e coloridos atiçados, sem nenhuma agressão, para latirem e pularem.
anna

Lord Broken Pottery disse...

Anna,
A cena que você descreve também me impressiona. Nossos olhos ainda não se acostumaram com essa quase agressividade colorida.
Beijão

Anônimo disse...

esse post é literatura... eu montei um blog tbem com alguns textos que cometi. tá no começo, e não tô divulgando lá com muito alarde..
www.literaturamoderna.globolog.com.br

Anônimo disse...

Lord! O "sacaninha" já tinha tatuagens também? É claro que um dia o bebê, quando não for mais bebê, se liberta. Quer saber de uma? Certas coisas mudam sua forma, mas a essência se eterniza. Quando criança, depois na adolescência, meu pai -- um protestante ferrenho -- fez-me um dos seus enquanto pode. Chegada a fase de pensar por minha própria cabeça, viver as coisas da minha geração, senti revolta com um processo de repressão muito difícil de lidar. Desde os 18 sou este herege que você já conhece um pouquinho. Ele continua, firme na fé. E pensamos tão diferente que já cheguei a questionar se pertenço à minha família. Se não fosse a "denúncia" da fisionomia e outras comprovadas razões, já teria acreditado ser um adotivo. Felizmente, hoje respeitamo-nos da forma como eu sempre gostaria que tivesse sido. Abraço.

Saramar disse...

rsssssssssssss...
Que delícia!
Não pude deixar de adorar essa imagem que você colocou aqui na minha retina.
Aqueles pais coloridos e enfeitados devem ser festa constante para os sentidos infantis.
Linda imagem.

beijos

Saramar disse...

Voltei.
Vim agradecer todas as lindas palavras e as felicitações pelo meu aniversário.
Você é realmente, um lord.
Obrigada, muito obrigada.

beijos

Klatuu o embuçado disse...

AVISO!!!!


Este texto - http://dente-de-marfim.blogspot.com/2007/07/inveja.html - é PLAGIADO do «Abrupto» de Pacheco Pereira!

A menina Kanoff - CUJO BLOG É TODO PLAGIADO - fingiu apagar o anterior blog - e transferiu tudo!

___
Hi5: http://kanoff.hi5.com/

Lord Broken Pottery disse...

Serbão,
Tá anotado. Deixarei um link para visitar mais comodamente.
Grande abraço

Ery,
O seu percurso acontece nas melhores família. A minha dúvida é se ele é assim tão cartesiano. Vim de uma familia de ateus, seguindo esse raciocínio deveria ter uma certa tendência mística. Quem sabe o bebezinho não será punk pro resto da vida? Gosto da idéia.
Abração

Saramar,
Você merece cada palavra dita. Obrigado pela referência às cores da postagem. Não tinha reparado nelas.
Beijão

Anônimo disse...

São, São Paulo, meu amor, como diria o mais paulista dos bahianos, Tom Zé.

Lord Broken Pottery disse...

Jayme,
Que por sinal comemorou essa semana, na casa de festas de minha irmã: OCA Tupiniquim, Baladas e Afins, o lançamento de seu filme.
Abração

Ricardo Rayol disse...

Seria engraçado se não fosse trágico, mas cada um sabe de si.

Lord Broken Pottery disse...

Ricardo,
Será?
Grande abraço

Anônimo disse...

A gente vê cada coisa, não é mesmo Lord?
Esses dias vi uma menina que não deva ter mais de 15 anos usando aquelas lentes de contato brancas...deu até para assustar...rs
Mas já diz o ditado: " Cada um com o seu cada um"...rs

Adoro vir aqui e ler o que você escreve!
Beijo amigo e desde já um maravilhoso fim de semana,
Cris

Lord Broken Pottery disse...

Cris,
Lentes brancas? Que medo... Bom fim de semana pra você também.
Beijo

valter ferraz disse...

Lord,
Tom Zé ontem no Entrelinhas da Cultura:
"Como se a alma humana fosse pano de limpar porão de navio" citando Keats.
Bunitinhu, isso não?
Abraço forte

Lord Broken Pottery disse...

Valter,
Duro é dizer tudo isso entre linhas.
Abração