Estação Trianon do metrô, hora de voltar para casa. Caminho cabisbaixo carregando o dia difícil nas costas. Ouço a campainha chamando assim que deixo a escada rolante. Corro e pulo dentro do vagão, a porta fecha-se atrás de mim em um estrondo mal educado, já não as fazem como antigamente. Respiro fundo, recomponho-me, equilibro-me desengonçado depois que o carro arranca. Ao meu lado um ser estranho. Pele escura coberta de tatuagens, brincos nas orelhas e nariz. Os pêlos ralos do rosto, escondidos, foram substituídos por desenhos sem nexo. Falsas costeletas azuis torneadas em arabescos entrelaçados descem quase até o queixo. Uma lágrima negra, fixada para sempre, posicionada abaixo da pálpebra direita, dá um ar triste e divertido ao indivíduo. Responde alguma coisa à mulher que o acompanha. Conversam cúmplices embalados pelo balanço morno da condução, pendurados. A enorme pena colorida enfiada nos cabelos da moça dá-lhe um ar apache, saia comprida e blusa curta, umbigo com pingente à mostra, dizeres escritos nos braços e pernas. Feitos um para o outro. Surpreendentes. Nisso um grito fino de criança vem quase do chão. Baixo os olhos curioso, ainda não tinha reparado naquele detalhe. Em um carrinho prosaico o menino novinho ri olhando o pai que lhe faz um agrado, anéis em todos os dedos, carinhoso. Os cabelos, cuidadosamente penteados e coloridos, formam enorme crista engomada. Mal contenho a vontade de rir. O bebê é punk.
terça-feira, julho 10, 2007
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35 comentários:
O sonho não acabou.
Só vive mudando de canal.
( De um para outro, daqueles UHF, que quase ninguém vê ) .
Lord, meu querido........
Já estava com saudades e sentindo sua falta!
Correndo atrás do.....
Hmmmmm! E pegou?????
;)
Fica bem.
Não suma nunca mais!
Beijuca
Lord,
Ganhei o dia. Um bebê punk, no trem do metrô!
ô vida, boa.
Grande abraço
Lord,
é surpreendente como existem casais
tão iguais.Porém eu e o meu marido somos tão diferentes, tanto que as vezes, ele fala:
- Acho que não vai dar certo Nenê
(me chama assim)??? depois de 40 anos???? hehehehe....hihihihhhh...
Lord, nos comentários do meu último post, fiz uma pergunta de ordem gramatical, dúvida eterna, se voce puder responder, agradeço de coração.
Bjs
A maravilhosa variedade da espécie humana! Talvez o bébé no futuro não seja Punk. O conflito geracional ataca em todas as famílias, mesmo nas mais coloridas.
:-)
Tal pai, tal filho... não diz o Povo?
E será quando ele crescer quererá ser igual ao Pai?
Minha mãe era uma grande pianista, eu nunca o fui... apesar de adorar piano... gosto mais do mar e de...de cavalos. :-)))
Beijo ;)
Quem sai aos seus não degenera.KKKKKK.
Gostaria de ter visto essa família, Lord :) Gosto do jeito como você conta essas histórias.
Beijo pra você.
Eu sei que vivo falando de alteridade...mas não há alteridade que resista a um bebê punk.
Eu penso que se ele seguir a lógica do confronto de geracões vai ser um bancário de terno.;0)
beijos.
Concordo com a Vivien. O bebé vai querer ser um bancário engravatado, nem que seja para provocar os pais!
Deliciosa forma de contar essa história, milord. Escreva mais.
beijo
ana
Lord bom dia.
Gostoso ler o que escreve. Não há como não se sentir, apertadinho dentro do metrô.
Claro que nos transportamos, e participamos do caso, nos vemos na história.
Agora o bebê punk, esse foi de muita originalidade.
Um beijo
É punk, e não sabe.
Quem sabe o que será?
Muito bom seu texto.Como sempre.
Peri,
Será que eles sonharam? Tenho lá minhas dúvidas. Houve época em que tínhamos além do exterior mais interior.
Abração
Van,
Eu prometo, I will.
Beijão
Valter,
Gostei, é bem isso: ô vida boa...
Abração
Maria Helena,
Vou lá no Caminho Suave ver e tentar responder.
Beijão
Silvares,
Penso muito nisso, muito bem colocado. Será que haverá conflito de gerações? Há, sim, fase inicial onde o jovem se rebela, quer ser diferente. Muitas vezes, porém, passada essa fase, com o amadurecimento, as coisas mudam. Estará ele lá um dia ouvindo o seu pop, Elthon John cantando solto, começará então no rádio um som do Kid Vicious e ele irá parar tudo para ouvir. Aquele chamado selvagem atávico irá falar mais alto e ele recuperará o caminho dos seus pais, cada vez mais punk.
Abração
Menina_Marota,
Obrigado pela visita, farei um link para poder visitá-la mais fácil. Também gosto de mar (apesar da areia) e de cavalos. Não sei, como já disse àcima, se sempre queremos ser diferentes.
Beijão
Maqui,
Também acho, de verdade. Obrigado pela visita. Farei um link para poder retribuir.
Beijão
Adelaide,
Eu conto como vejo. As histórias estão por aí, não é mesmo?
Beijão
Vivien,
Que nem eu (risos).
Beijão
Ana,
Será? Conforme coloquei para o Silvares, tenho lá minhas dúvidas. Nossas heranças às vezes são mais fortes que as vontades rebeldes. Obrigado pelas palavras gentis.
Beijo
Aninha,
A maior originalidade está no fato dele existir. Eu vi.
Beijão
Eduardo,
Acho que é mais por aí. Quem sabe o que será?
Abração
Me lembrou do Brave New World, quando o protagonista (como é mesmo o nome dele?) chega na aldeia "selvagem", um relato tão descritivo que parece isolado numa bolha - igual a tantos que fazemos sem perceber.
abraço
Texto gostoso de ler. Meio resignadamente mal-humoradinho no começo e com suave desfecho.
O bebê pode ser um neto do Bob Cuspe. Talvez seus tios de 2º grau, bem mais velhos, Wood & Stock. São as cargas hereditárias se renovando. Legal é q em meio a ambiente tão inóspito, o carinho do pai, ao meu ver, pós-punk. Será q a Vivien têm razão qto a identidade mais tarde do bebê? Beijo.
Claudio,
John, o Selvagem, o cara que queria ser livre. Não li o livro, vi apenas o filme. Será que o menino, o bebê punk, vai querer ser livre?
Abração
Sibila,
É aí que reside minha dúvida. Será que essa rejeição rebelde aos pais dura para sempre?
Beijão
ai , deve ser o maior bunitin...adoro casal hippie, e punks...eles são sempre gentis e amorosos...
é sério.
bem...pelo menos os que conheço... eles vendem bijoux na feirinha hippie perto daqui do meu escritorio...
gente boa, sô!
ps: o texto é uma delicia, parece que vc esta do meu lado falndo...
um abraço
Marilia,
Que bom que você gostou. Adorei o: parece que você está do meu lado falando... Acho que é para isso que escrevemos.
Beijão
linda pintura urbana.
vi uma cena em berlin muito sulamericana, promovida por garotos e garotas dessa mesma tribo. naquela cidade os cahorros não latem nem mordem.estranho. estava numa praça quando comecei a ouvir muitos uivos e latidos. surreal praquele lugar. era uma turma grande, com seus cahorros moicanos e coloridos atiçados, sem nenhuma agressão, para latirem e pularem.
anna
Anna,
A cena que você descreve também me impressiona. Nossos olhos ainda não se acostumaram com essa quase agressividade colorida.
Beijão
esse post é literatura... eu montei um blog tbem com alguns textos que cometi. tá no começo, e não tô divulgando lá com muito alarde..
www.literaturamoderna.globolog.com.br
Lord! O "sacaninha" já tinha tatuagens também? É claro que um dia o bebê, quando não for mais bebê, se liberta. Quer saber de uma? Certas coisas mudam sua forma, mas a essência se eterniza. Quando criança, depois na adolescência, meu pai -- um protestante ferrenho -- fez-me um dos seus enquanto pode. Chegada a fase de pensar por minha própria cabeça, viver as coisas da minha geração, senti revolta com um processo de repressão muito difícil de lidar. Desde os 18 sou este herege que você já conhece um pouquinho. Ele continua, firme na fé. E pensamos tão diferente que já cheguei a questionar se pertenço à minha família. Se não fosse a "denúncia" da fisionomia e outras comprovadas razões, já teria acreditado ser um adotivo. Felizmente, hoje respeitamo-nos da forma como eu sempre gostaria que tivesse sido. Abraço.
rsssssssssssss...
Que delícia!
Não pude deixar de adorar essa imagem que você colocou aqui na minha retina.
Aqueles pais coloridos e enfeitados devem ser festa constante para os sentidos infantis.
Linda imagem.
beijos
Voltei.
Vim agradecer todas as lindas palavras e as felicitações pelo meu aniversário.
Você é realmente, um lord.
Obrigada, muito obrigada.
beijos
AVISO!!!!
Este texto - http://dente-de-marfim.blogspot.com/2007/07/inveja.html - é PLAGIADO do «Abrupto» de Pacheco Pereira!
A menina Kanoff - CUJO BLOG É TODO PLAGIADO - fingiu apagar o anterior blog - e transferiu tudo!
___
Hi5: http://kanoff.hi5.com/
Serbão,
Tá anotado. Deixarei um link para visitar mais comodamente.
Grande abraço
Ery,
O seu percurso acontece nas melhores família. A minha dúvida é se ele é assim tão cartesiano. Vim de uma familia de ateus, seguindo esse raciocínio deveria ter uma certa tendência mística. Quem sabe o bebezinho não será punk pro resto da vida? Gosto da idéia.
Abração
Saramar,
Você merece cada palavra dita. Obrigado pela referência às cores da postagem. Não tinha reparado nelas.
Beijão
São, São Paulo, meu amor, como diria o mais paulista dos bahianos, Tom Zé.
Jayme,
Que por sinal comemorou essa semana, na casa de festas de minha irmã: OCA Tupiniquim, Baladas e Afins, o lançamento de seu filme.
Abração
Seria engraçado se não fosse trágico, mas cada um sabe de si.
Ricardo,
Será?
Grande abraço
A gente vê cada coisa, não é mesmo Lord?
Esses dias vi uma menina que não deva ter mais de 15 anos usando aquelas lentes de contato brancas...deu até para assustar...rs
Mas já diz o ditado: " Cada um com o seu cada um"...rs
Adoro vir aqui e ler o que você escreve!
Beijo amigo e desde já um maravilhoso fim de semana,
Cris
Cris,
Lentes brancas? Que medo... Bom fim de semana pra você também.
Beijo
Lord,
Tom Zé ontem no Entrelinhas da Cultura:
"Como se a alma humana fosse pano de limpar porão de navio" citando Keats.
Bunitinhu, isso não?
Abraço forte
Valter,
Duro é dizer tudo isso entre linhas.
Abração
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