Algumas frases me provocam inveja. Gostaria de tê-las dito. Percebe-se direitinho a genialidade de quem as proferiu. Têm sabedoria e humor misturados em dose certa.
Costumo, sempre que vejo alguém esbravejando, espalhando grosseria por todos os lados, lembrar do que disse certa vez o Barão de Itararé: "O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro". Quando me entusiasmo com o que escrevo, celebrando internamente meus pequenos achados, dou razão a Oscar Wilder: "Os grandes acontecimentos do mundo têm lugar no cérebro". E se vou ao cinema, uma de minhas paixões, lembro Fellini: "O cinema é o modo mais direto de entrar em competição com Deus". E não e podia faltar Millor Fernandes. Ninguém sintetiza como ele: "O dedo do destino não deixa impressão digital".
Meu pai, o escritor Ricardo Ramos, também disse algumas coisas inteligentes. Conversando outro dia com amigos comuns, em uma reunião da UBE, da qual ele foi presidente, relembramos algumas de suas pérolas.
Ao governador Paulo Egídeo, quando visitando a recém inaugurada biblioteca do presídio Carandiru, instado a revelar a impressão que a iniciativa lhe causava, não deixou por menos: "É bom que tenhamos leitores cativos".
Percebendo preconceito com relação a alguns membros da organização que presidia, considerados escritores de pior qualidade, disse: "UBE é união brasileira de escritores, não união brasileira de bons escritores".
Um dia não se conteve. Um escritor havia cometido a proeza de escrever um livro sem a letra " a". Mais tarde, superando-se, escreveu um outro sem a letra "u". Aborrecido ante o silêncio da UBE, escreveu uma carta desaforada, cobrando um posicionamento. Recebeu a resposta: "Vai tomar no có!".
Costumo, sempre que vejo alguém esbravejando, espalhando grosseria por todos os lados, lembrar do que disse certa vez o Barão de Itararé: "O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro". Quando me entusiasmo com o que escrevo, celebrando internamente meus pequenos achados, dou razão a Oscar Wilder: "Os grandes acontecimentos do mundo têm lugar no cérebro". E se vou ao cinema, uma de minhas paixões, lembro Fellini: "O cinema é o modo mais direto de entrar em competição com Deus". E não e podia faltar Millor Fernandes. Ninguém sintetiza como ele: "O dedo do destino não deixa impressão digital".
Meu pai, o escritor Ricardo Ramos, também disse algumas coisas inteligentes. Conversando outro dia com amigos comuns, em uma reunião da UBE, da qual ele foi presidente, relembramos algumas de suas pérolas.
Ao governador Paulo Egídeo, quando visitando a recém inaugurada biblioteca do presídio Carandiru, instado a revelar a impressão que a iniciativa lhe causava, não deixou por menos: "É bom que tenhamos leitores cativos".
Percebendo preconceito com relação a alguns membros da organização que presidia, considerados escritores de pior qualidade, disse: "UBE é união brasileira de escritores, não união brasileira de bons escritores".
Um dia não se conteve. Um escritor havia cometido a proeza de escrever um livro sem a letra " a". Mais tarde, superando-se, escreveu um outro sem a letra "u". Aborrecido ante o silêncio da UBE, escreveu uma carta desaforada, cobrando um posicionamento. Recebeu a resposta: "Vai tomar no có!".
36 comentários:
Lord, tens toda razão. As vezes chegamos a sentir inveja de quem disse a frase, tão perfeita ela soa.
Tão bem ela serve para determinadas situações.
Mas temos que ter muito cuidado, afinal palavras que saem da boca, jamais retornam, e as vezes uma frase mal colocada tem o dom de machucar profundamente alguém, que em nenhum momento queríamos isso.
Bom te ver por aqui, é uma respirada do livro?
Um beijo.
ótimas!
sabe, tenho inveja das pessoas com idéias simples, porque geralmente são o melhor partido.
ah, ah, ótima garimpagem para encerrar a tarde com umas risadas.
Lord,
palavras são navalhas.
E depois que saem, ganham vida própria. Perdemos o controle sobre elas, se é que em algum momento o temos.
Gostaria muito de ter conhecido Ricardo Ramos.
Respeosta perfeita ao escritor ousado.
Grande abraço
Grandes frase, mesmo. A do escritor sem "u" é genial. Abração,
Lord,
Saber brincar com as palavras, frases, de forma coesa, harmônica e inteligente é uma arte para pessoas especiais, assim como a família Ramos.
Bjs
É assim também com as canções.
Já cantava Tunai:
"Certas canções que ouço / cabem tão dentro de mim / que perguntar carece / como não fui eu que fiz!"
Que delícia de história!
Beijos, Lord
muito boas!!!
e o rei dos aforismos espirituosos no Brasil foi o Apparicio Torelly, vulgo barão de Itararé. lá fora, acho que era o Mark Twain:
"é muito fácil deixar de fumar. já deixei centenas de vezes."
Gostaria de ter dito uma outra do Barão:
"O que se leva dessa vida, é a vida que seleva."
Ótimo texto.
Um abraço.
Amei a ultima frase!!!
qual era a máxima dos "três pontinhos" que teu pai falava? os uso gráfico dos três pontinhos, que ele execrava? fico tentando lembrar ...
Ótimo Lord. Já gostei do seu Pai.
Abçs
Aninha,
Concordo com você, temos que ter cuidado com as palavras. Quanto ao livro, estou tentando levá-lo, sem abandonar muito esse espaço. As férias que tirei terminarão na próxima segunda e, com certeza, terei chegado ao fim dessa outra empreitada. É o problema de vivermos em um país inculto. O escritor para escrever precisa ter outro trabalho, o remunerado, para pagar as contas. A vida fica então corrida, sobram poucos espaços.
Grande beijo
Anna,
Você tem razão, a beleza está na simplicidade.
Beijão
Peri,
Também me agrada esse tipo de humor ferino.
Abraço
Valter,
Bem lembrado. Talvez seja por isso que estranhemos tanto, às vezes, nosso próprio texto. Já me peguei várias vezes olhando o que escrevi com uma sensação estranha. É como se não tivesse sido produzido por mim. Mal comparando, parecendo psicografado. Realmente as palavras, depois de emitidas, deixam de nos pertencer. Muitas vezes olho para um livro que escrevi pensando que se o fizesse novamente seria outro livro. Mas essas considerações seriam assunto para outra postagem, não é mesmo?
Grande abraço
Jayme,
Talvez um tanto ou quanto rude demais, mas inteligente, sem dúvida.
Abraço
Maria Helena,
Talvez. Acho que como tudo na vida a gente acaba aprendendo.
Beijão
Van,
Tunai. Taí um cara menos reconhecido do que deveria.
Beijão
Serbão,
O Barão de Itararé é fantástico. Tenho um livrinho com as máximas dele que não me canso de ler, sempre rindo muito. Já o Mark Twain foi um gênio. Bastava ter escrito o Tom Sawyer.
Jayme,
Hoje, ouvindo uma música do Chico, prestei atenção em outra frase genial: É preciso de um tempo, pra esquecer o contratempo.
Abração
Mani,
Eu também gosto, embora duvide um pouco que meu pai a escrevesse. Enfim, como foram os amigos dele que contaram...
Beijão
Eliana,
Meu pai não gostava, e procurava evitar as reticências e a exclamação. Era lição que aprendera com o pai dele, que tinha algumas cismas e detestava, por exemplo, os "que". Texto bem escrito para ele tinha poucos "ques". Pois bem, com relação às reticências dizia que não usava por ser preferível dizer que não dizer. Quanto à exclamação por não ser idiota para viver se surpreendendo.
Grande beijo
Eduardo,
Tenho certeza de que você teria gostado dele.
Grande abraço
caraca, sacadas geniais. E como você tenho uma secreta inveja de alguns criadores de frase. mas enfim.
Ricardo,
Acho que nossa inveja já não é mais tão secreta.
Abraços divertidos
Boas tiradas, ditos espirituosos, saídas surpreendentes, tudo isso são recursos valiosos, pois basta uma palavra certa para iluminar as trevas da ignorância! Quanto ao "vá tomar no có", foi o que disse um colega meu, professor da UFMG, diante de uma aluna da qual tirou um ponto por escrever com "o" uma palavra que seria com "u". Aluna reclamou: -Mas professor, uma letrinha só!
Claudio,
A aluna merecia o desabafo pouco, digamos, erudito.
Grande abraço
Oh, Lord....
Eu não tenho outra saída senão continuar apostando em mim. Porque na verdade não saberia ser outra coisa na vida que não isso. Não consigo conceber minha vida sem música, sem canto...
Mas não é verdade que "mesmo os desafinados também têm um coração?"
Pois então, Lord... mesmo que eu desafine um dia, continue me ouvindo. Porque é exatamente ele (meu coração) que eu te entrego através das músicas!
Eu te canto minha sina!
Venha mais! Venha sempre!
Beijos de sons (afinados)...
PS: Também te respondi lá mesmo no VAN Filosofia! Um truque barato - confesso - pra fazer-te voltar!
Beijuca
é isso que lembro sobre a exclamação, mas sobre as reticências, vi várias vezes ele falar verdadeiros manifestos. vale um POST inteiro. eu aprendi mais com o teu pai do que com o teu avô, pode ser uma hipocrisia, duvidar - de certa maneira - da ficção do combativo Graciano Ramos. mas quando vc tem alguém que empunha as reticências ... foram anos geniais aqueles.
É, por vezes parece que tudo o que havia de inteligente para dizer já foi dito ou pensado. Mas podemos sempre rebuscar coisas no passado para irmos construindo este presente. Frases sonantes são belos tijolos nessa construção!
Van,
Legal, tenha certeza de que eu ouvirei.
Beijo
Eliana,
Pode ser que minha memória tenha falhado. O que lembor é o que falei. Ele não gostava. Dizia que era melhor dizer que não dizer.
Beijão
Silvares,
Vocês continuam nos presenteando. Gostei muito do "frases sonantes".
Grande abraço
òtima resposta, temos que concordar!
Tatiana,
Lá isso temos.
Beijão
Oi Lord!
Boa tarde!
Ando correndo tanto que estou devendo visitas aos amigos...rs
Filho de Ricardo Ramos e neto de outro grande escritor...escrever bem está no sangue!
Boas tiradas, além de tudo, bem humoradas!
Obrigada pelas visitas Lord,é um prazer tê-lo por lá!
Beijo,
Cris
Lord, vou tentar de novo... o blogger falhou. Como não sei se vai falhar, vou resumir agora...rs.
Pedi desculpas pela minha ausência, devido a sobrecarga de serviços no escritório. Disse-lhe, também, que certas frases, empregadas no momento oportuno, a exemplo daquela do Ricardo Ramos sobre "leitores cativos", tem este poder de eternizarem-se no tempo.
Forte Abraço,
Mário.
Adorei este post! As palavras ditas o vento leva, se não houver gravador ou grampo, he he. Mas as escritas, estas permanecem. E algumas são geniais.Adoro parafrasear Drummond.
E por falar em teu pai, há vários livros didáticos, que uso em várias escolas, com os textos dele. E adoro a reação dos alunos ao comentá-los. Rimos muito quando pedi que colocassem sujeito e verbos no texto Circuito fechado. Tens de ver as pérolas que saíram.
Um, tô bancando a fã inconveniente...
abraço, garoto
Cris,
Sou eu quem tem prazer em visitá-la. O Fragmentos de Mim é muito bacana.
Grande beijo
Mário,
Também gosto do "leitores cativos". Quanto a trabalhar, hoje terminei o livro. Estou me sentindo mais leve e pronto para voltar ao trabalho na segunda. É assim que escritor sai de férias, trabalhando em livro.
Grande abraço
Denise,
Que trabalho legal! Sei que os professores gostam de trabalhar com os 5 contos do Circuito Fechado, mas não imaginava a maneira que você bolou. Deve ter sido muito divertido.
Grande beijo
Uma frase de que eu me apropriei (vi-a numa camiseta em Porto Seguro aos 18 anos) :
Não adinta forçar a barra
Precipitar o grito
Antecipar o gesto
O acerto pode ser incerto,
mas o erro tem que ser EXATO.
Alena,
Genial!
Beijo
Hahaha
Adorei!
Ótimas.
Beijo
Meguita
Meg,
Sabia que você ia gostar.
Beijão
Milord,
Acabei de descobrir o seu blog através da Meg. Fiquei "leitora cativa". Você não só escreve bem como me faz rir, um bem muito precioso hoje em dia!
Abraço português
Ana
www.portadovento.blogspot.com
PS: A propósito de boas frases, aqui vai o meu contributo - "As grandes ideias são aquelas nas quais a única coisa que nos surpreende é que não nos tivessem ocorrido antes."
(Noel Clarasó, escritor espanhol)
Bom...Lord ricardo! Sou campeão da reticencias e das exclamações.Como se o uso delas desse enfase e sonoridade a minha escrita!
sou um exagero, um desperdício...
vou aos poucos olhando no google quem é quem para não me confundir nesse blog de bambas, e no qual tenho a honra de ser recebida...
mas o anedotário dos Alvarengas tem um frase, de meu pai, que eu adoro... vamos lá:
estava seu Alvarenga, 80 anos, subindo a rampa do Minas I, BH, com a sua turminha de velhinhos da peteca!
eis que na frente deles, passou um grupo de jovens moças, todas bonitas, shortinhos e cangas, tudo "nos conformes" do verão mineiro...Meu pai, sempre meio moleque,mas respeitador, mexeu com uma delas: - ô moça bonita...me dê uma olhadinha!
A menina, sem qualquer senso de humor, bastasse ver a turminha de velhos. virou pra meu pai e disse:
- seu velho tarada! não tem vergonha? poderia ser meu pai!
ao que responde o velho Alvarenga
- uai minha filha...quem sabe? como sua mãe se chama?.....
E foi uma gargalhada só, fazendo da frase nome de torneio de peteca, e da moça, uma amiga querida do meu paizão...rssss
Um abraço e bom domingo!
Marília,
Ótima! Não tenho essa mesma presença de espírito. Adoraria saber dizer a frase certa na hora certa.
Grande beijo
Escrevi um livro sem a letra A - Ele se chama A- (lê-se a negativo). Ricardo Mardegam
Um livro surpreendente.
Diz de um filósofo que emerge e sucumbe em seus conceitos
teóricos e ressurge como um ícone incompreendido.
Seus conhecimentos, ensinos e conteúdos podem muito
nos dizer sobre questões do existir, sobre o Ser e sobre o
universo dos homens.
Foi escrito de modo que um dos signos do nosso uso
comum (o A) fosse excluído e que, mesmo com esse
jeito diferente de escrever, houvesse o entendimento do
conteúdo nele exposto.
É com muito gosto que ofereço este texto... E espero que
gostem, pois gostei de escrevê-lo e quero crer no seu
percurso promissor no mundo dos novos escritos.
Bom divertimento e, em breve, nos veremos, de novo, em
um outro delírio de escritor que quer o diferente, o novo,
o (im)possível como desejo.
psicologo@ricardomardegam.com.br
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