A semana fora de muitos comentários na escola. Os colegas que não fariam parte do programa morriam de inveja. Rafael, cheio de ansiedade, aguardava a noite de sábado. Tinha sido difícil arranjar desculpas. Quase todos namoravam meninas da classe vizinha. Não sairiam com elas naquele dia.
Marcos, o cabeça da turma rival, é que apareceu com a novidade. Festa do cabide. Seu tio rico emprestaria o apartamento de luxo, Adolpho Lindemberg, na alameda Franca. As moças que viriam do Rio eram da pesada. Topavam tudo. Aeromoças, a maioria. Todos deixariam as roupas na entrada. Muita bebida e sexo iam rolar.
Rafael e os de seu grupo foram convidados. Ficaram desconfiados. Por que, apesar das diferenças que existiam, aquela lembrança? Rafaelli não gostou:
- Aí tem - resmungou no recreio.
Bobagem. As explicações procediam. Precisavam completar o número, já que seriam dez cariocas. Para fazer bonito, tinham que ser grandes, fortes, homens feitos. Ninguém, deixando a modéstia de lado, melhor que eles. Além disso, não arriscariam. Sabiam que iam apanhar muito se estivessem aprontando.
- Eles não teriam tanta imaginação - garantiu Rafael.
Marcos, o cabeça da turma rival, é que apareceu com a novidade. Festa do cabide. Seu tio rico emprestaria o apartamento de luxo, Adolpho Lindemberg, na alameda Franca. As moças que viriam do Rio eram da pesada. Topavam tudo. Aeromoças, a maioria. Todos deixariam as roupas na entrada. Muita bebida e sexo iam rolar.
Rafael e os de seu grupo foram convidados. Ficaram desconfiados. Por que, apesar das diferenças que existiam, aquela lembrança? Rafaelli não gostou:
- Aí tem - resmungou no recreio.
Bobagem. As explicações procediam. Precisavam completar o número, já que seriam dez cariocas. Para fazer bonito, tinham que ser grandes, fortes, homens feitos. Ninguém, deixando a modéstia de lado, melhor que eles. Além disso, não arriscariam. Sabiam que iam apanhar muito se estivessem aprontando.
- Eles não teriam tanta imaginação - garantiu Rafael.
*
O próprio Marcos cuidou dos preparativos. Houve necessidade de uma vaquinha. Os comes e bebes precisavam ser comprados. Pensaram até em champanhe. O traje, social. Todos de terno e gravata. O prédio, de alto padrão, pedia um vestir mais adequado. Combinaram inclusive uma senha, previamente acertada com o porteiro do edifício: Nós chegamos! A frase autorizaria o acesso ao nono andar e à farra, sem necessidade de maiores explicações. Tudo muito simples.
*
Resolveram preparar-se na casa do Teixeira. Há tempos não ficavam tão alegres. A excitação crescendo com a aproximação do grande momento. Todos de roupa nova. Rafaelli, de cueca de seda, foi o mais gozado.
Chegaram ao endereço combinado dez minutos antes, de táxi. Na esquina com a rua Ministro Rocha Azevedo fizeram hora, contando os minutos.
A portaria não tinha mais tamanho, enorme. Rafael aproximou-se de um homem forte, antipático da cabeça aos pés. Sonado. Cara de quem acabou de acordar. Com o melhor de seus sorrisos, adiantou-se:
- Nós chegamos! - disse cúmplice, num segredo meio gritado.
Um olhar frio e imóvel ergueu-se para os cinco garotos. Tardelli insistiu:
- Nós chegamos!
- E daí - respondeu o aprendiz de zelador.
- Estamos dizendo a senha - explicou Rafaelli - ,para subir ao nono andar.
- Não sei disso, não - cortou, levantando-se.
- A festa do nono andar - suplicou Rafael.
- Está vazio. Ninguém mora lá - dirigindo-se ao portão de ferro.
- Eu disse que aí tinha - rosnou Rafaelli.
- Façam o favor de sair, ou chamo a polícia - concluiu, grosseiro, o funcionário do prédio.
*
Lá fora os meninos pararam desconcertados.
- Quem sabe erramos o endereço? - perguntou Rafael.
Em frente a um poste buscaram claridade relendo o convite. Nenhum engano. O edifício era aquele mesmo.
Um carro aproximou-se na maior velocidade. Freou na frente do grupo aparvalhado. Uma pedra foi atirada e amarrada a ela um papel. Afastou-se cantando os pneus. As gargalhadas vindas de seu interior invadindo a noite. Rafaelli pegou a mensagem. Leu para os amigos:
O colégio conhecerá os trouxinhas. Agradecemos o dinheiro. Foi muito legal beber o dia inteiro por conta de tão bons colegas.
O próprio Marcos cuidou dos preparativos. Houve necessidade de uma vaquinha. Os comes e bebes precisavam ser comprados. Pensaram até em champanhe. O traje, social. Todos de terno e gravata. O prédio, de alto padrão, pedia um vestir mais adequado. Combinaram inclusive uma senha, previamente acertada com o porteiro do edifício: Nós chegamos! A frase autorizaria o acesso ao nono andar e à farra, sem necessidade de maiores explicações. Tudo muito simples.
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Resolveram preparar-se na casa do Teixeira. Há tempos não ficavam tão alegres. A excitação crescendo com a aproximação do grande momento. Todos de roupa nova. Rafaelli, de cueca de seda, foi o mais gozado.
Chegaram ao endereço combinado dez minutos antes, de táxi. Na esquina com a rua Ministro Rocha Azevedo fizeram hora, contando os minutos.
A portaria não tinha mais tamanho, enorme. Rafael aproximou-se de um homem forte, antipático da cabeça aos pés. Sonado. Cara de quem acabou de acordar. Com o melhor de seus sorrisos, adiantou-se:
- Nós chegamos! - disse cúmplice, num segredo meio gritado.
Um olhar frio e imóvel ergueu-se para os cinco garotos. Tardelli insistiu:
- Nós chegamos!
- E daí - respondeu o aprendiz de zelador.
- Estamos dizendo a senha - explicou Rafaelli - ,para subir ao nono andar.
- Não sei disso, não - cortou, levantando-se.
- A festa do nono andar - suplicou Rafael.
- Está vazio. Ninguém mora lá - dirigindo-se ao portão de ferro.
- Eu disse que aí tinha - rosnou Rafaelli.
- Façam o favor de sair, ou chamo a polícia - concluiu, grosseiro, o funcionário do prédio.
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Lá fora os meninos pararam desconcertados.
- Quem sabe erramos o endereço? - perguntou Rafael.
Em frente a um poste buscaram claridade relendo o convite. Nenhum engano. O edifício era aquele mesmo.
Um carro aproximou-se na maior velocidade. Freou na frente do grupo aparvalhado. Uma pedra foi atirada e amarrada a ela um papel. Afastou-se cantando os pneus. As gargalhadas vindas de seu interior invadindo a noite. Rafaelli pegou a mensagem. Leu para os amigos:
O colégio conhecerá os trouxinhas. Agradecemos o dinheiro. Foi muito legal beber o dia inteiro por conta de tão bons colegas.
24 comentários:
Lord, que estória! E que roubada, hein?
Mas isso acontece. Garotos metidos a homens. Com o tempo aprendem. Os programas acabam por ficar mais consistentes e não dependem da turma, passam a usar os próprios meios: a sedução, o dinheiro, o prestígio. Mas perdem em glamour e ansiedade.
Abração
heheheheheh... minha turma fez isso com o Max Araújo, aspirante a escritor nos tempos de faculdade...
Muito boa história!
tadinhos.....rs!!!!!!
se alguém chegar na minha casa e disser "nós chegamos", vou cair na risada....rs...
Tem frases que ficam contaminadas com histórias, essa é uma delas.;0)
Lord, se perguntar não ofende: em que grupo você estava? hahaha.(;-) Forte abraço, e bom fim de semana!
Valter,
É isso, uma grande roubada, mas deliciosa aventura. Ainda rio quando lembro.
Abração
Serbão,
O mais legal é isso. Todas as turmas fizeram alguma coisa parecida.
Abração
Jayme,
Boa história, e verdadeira.
Grande abraço
Vivien,
Até hoje rio com a frase. Acho que a turma toda que participou ainda ri, todos contaminados pela história para sempre.
Eduardo,
É fácil de adivinhar. Eu era o Rafael.
Grande abraço
Beijo
Ai credo!
Tadinhos, não podiam fazer uma maldade dessas.
Mas de verdade, a coisa que mais me irritava, era ver esse tipo de maldade que faziam com os adolescentes, sabe, taxá-los de bichinha, ser superior, me doía o coração, e se pudesse, com toda certeza interferia.
Mas a narrativa foi perfeita.
Um beijo
Rafael, Rafaelli, achei que você fosse o Marcos! (;-)
Eduardo, escritores mentem o tempo todo, é bem possível que o Lord fosse o Marcos sim. Aperta mais um pouco que ele entrega.
Hey Lord, essa última frase ficaria melhor na boca de um torturador, não?
Lord, sensacional sua lembrança da " festa do cabide ", sempre presente no imaginário de 11 em cada 10 garotos daquela época.no imáginário, nunca soube de ninguém que tivesse ido em uma. Um primo tinha até um distintivo de lapela (lembra que se colecionava isso? ) que era um cabidinho, que diziam era uma lembrança para quem tivesse participado de uma .
Aninha,
No fundo era divertido. Duas turmas na escola. Tipo turma da Zona Sul e da Zona Norte, tão bem descritas nas revistinhas do Bolinha. O prazer da gente era aprontar com os "inimigos". Essa foi apenas uma das histórias. Perdíamos, ganhávamos, hoje somos todos grandes amigos, os sobrenomes italianos verdadeiros do Dante: Callia, Cataldo, Buonaffina, Napoli, Betti, tutti buona genti.
Beijão
Eduardo,
Na história, capítulo de meu segundo livro de memórias juvenis (Outrora Agora, ainda não publicado), continuação do Computador Sentimental, eu sou mesmo o Rafael, como já era no Computador.
Grande Abraço
Valter,
Soa nada, é até divertido. Só que, como já expliquei àcima, Rafel é o nome que escolhi para mim em minhas memórias juvenis.
Grande abraço
Peri,
Você tem boa memória. É exatamente isso. Todo rapaz na época sonhava em ir a uma festa do cabide, transar com a Jaqueline Mirna, ter um Puma, ser o craque do time de futebol, tocar bem guitarra, ir para o Guarujá nas férias, ter o armário cheio de calças Lee e Levis e tênis All Star. Acho que não mudou muito.
Grande abraço
Lord, se não for invasão de privacidade, gostaria de teu endereço de e.mnail. Pode mandar p/valter.ferraz@gmail.com?
Fica tranquilo, não vou pedir dinheiro emprestado
Abraço forte
Lord
Fiquei com peninha...pegaram pesado
Bjs
Valter,
Já mandei o meu "imeiu".
Abraço
Maria Helena,
Pegaram, sim. Mas hoje, quase quarenta anos depois, acho graça.
Beijão
rsssss....
Muito boa, coitados!
Pagaram dus vezes, incluindo o mico fenomenal.
beijos
P.S. Finalmente consigo entrar no seu blog. Seu perfil está indisponível. Só consegui porque o vi nos links da Cris.
ai tadinho. aquela escola era terrível. magino.
lord caquinho, manda de novo teu mail. meu outro computador está tão "outro" que nem ligar mais ele tô conseguindo - e sabe como é separação - eu fico com meus amigos e ele com os dele. beijocas
Saramar,
Bom ver você por aqui. Sou fã do Escrevinhações, estou sempre por lá, gosto muito do seu texto. Obrigado!
Beijo
Eliana,
A escola era um barato. Morro de saudade dela. Meu e-mail é rramosfilho@uol.com.br
Beijão
Esta cena de vez em quando aparece em filminhos da sessão da tarde. Ah, e teve uma parecida no filme da Britney Spears, em que ela chega de coelhinha da Playboy, em uma festa à fantasia, e todos estavam vestidos normalmente, he he.
Boa semana!
Abraço, garoto
Denise,
Pois é, talvez tenham tirado a idéia daí (os nossos "inimigos").
Beijão
e as aeromoças sempre fazendo parte do imaginário masculino.
Anna,
Você disse bem, apenas estereótipos.
Beijo
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Escrevi um livro sem a letra A - Ele se chama A- (lê-se a negativo). Ricardo Mardegam
Um livro surpreendente.
Diz de um filósofo que emerge e sucumbe em seus conceitos
teóricos e ressurge como um ícone incompreendido.
Seus conhecimentos, ensinos e conteúdos podem muito
nos dizer sobre questões do existir, sobre o Ser e sobre o
universo dos homens.
Foi escrito de modo que um dos signos do nosso uso
comum (o A) fosse excluído e que, mesmo com esse
jeito diferente de escrever, houvesse o entendimento do
conteúdo nele exposto.
É com muito gosto que ofereço este texto... E espero que
gostem, pois gostei de escrevê-lo e quero crer no seu
percurso promissor no mundo dos novos escritos.
Bom divertimento e, em breve, nos veremos, de novo, em
um outro delírio de escritor que quer o diferente, o novo,
o (im)possível como desejo.
psicologo@ricardomardegam.com.br
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