segunda-feira, junho 04, 2007

Out Of Question

Adoro debates. As reuniões com a presença de minha família são divertidas. Todos possuem valores fortes e apressam-se em expô-los. Só que por uma dessas razões que não se explica, vamos cada um para um lado, jamais concordando. Em pouco tempo começa a gritaria. Quem não nos conhece assusta-se, imaginando que sairemos dalí rompidos, estapeados, brigados de nunca mais nos falarmos. Bobagem. Gostamos de discutir. Assim como se vai à academia exercitar os músculos, vamos à casa de minha mãe treinar o cérebro, argumentando. Duvido que exista lugar mais barulhento.
Crescendo nesse ambiente virei um chato. Não falem de política perto de mim, defenderei partido e candidatos, ideologia, vou querer ficar com a palavra final. Literatura, cinema, futebol, tenho opinião, além de enorme dificuldade em aceitar ponderações divergentes. E como deixo a emoção falar bem alto, afasto-me do razoável, abandono a lógica, perco as palavras, esgoto minha capacidade analítica. Não sou bom debatedor. Tudo é importante demais para que eu seja.
A vida corporativa, felizmente, deu-me útil lição, embora não tenha aprendido grande coisa trabalhando. Quando analiso os quase trinta anos dedicados ao sacrifício de ganhar o pão de cada dia, fica um travo amargo na boca, sensação dolorosa de perda. Por mais que me esforce em imaginar ao menos um empate, colocando os amigos feitos e o patrimônio conseguido na conta, a conclusão permanece inalterada: vida disperdiçada! Mas, abandonando o devaneio, e voltando ao assunto inicial, explicando o pouco que aprendi, retomo o tema dos debates. Ensinaram-me a não discutir por escrito. Cansei de assistir brigas via e-mail de empresa, com um monte de gente copiada, feito platéia. Nunca deu certo. Navegando por blogs bem próximos, muitas vezes, vejo a cena repetir-se. Considero que as idéias, preferencialmente, devam ser expostas olho no olho. Cada um dizendo o que pensa, excedendo-se, ou não. Depois a memória apaga, o vento leva, nada fica registrado. Como testemunha, apenas uma vaga lembrança.

23 comentários:

O Meu Jeito de Ser disse...

Sem contar que uma boa discussão, tem que ter retorno, senão não é discussão.
Por escrito, você tem de esperar o outro lado te responder, se é que vai responder.
Prá defender idéias, tem que ser no calor das palavras. Tem que haver trocas.
Um beijo.

Silvares disse...

Se um dia pudessemos discutir ao vivo estou a ver que bonito seria! É que também não sou de deixar pormenores na boca do parceiro. Se ele estiver a calar-se sou capaz de lhe meter a mão entre os dentes só para agitar de novo a discussão. Com um pormenor, tenho a mania de tomar o partido mais fraco, de amparar a opinião mais frágil. Dá mais gozo construir argumentos ao sabor da vozearia! Oh, se dá!

Fernando disse...

Oi, Lord,
Vejo nesse tipo de discussões, a afirmação da familia bem constituida e amiga. Raramente conseguimos debater alguma coisa, aqui em casa, no famoso ambiente familiar, em que a boa e antagônica pendenga não se estabeleça. Geralmente, sem vencidos ou vencedores. Todos prontos para a próxima refrega.
Na semana que vem, na casa de quem?
Ou não será família.
abração
fernando cals

Anônimo disse...

Sou também pessoa de paixões...não consigo viver sob ou com mormaço.

Mas, aqui temos duas coisas o que é dito e como é dito.
Milord: não gosto de pensar vc com vida desperdiçada e acho que só disse para provocar uma não-discussão.;-)
No mais estou me sentindo como o personagem de Fernando Pessoa o Alvaro de Campos:
Encontrei um par no mundo: acho sim, assim mesmo: o que se grita ganha a evanescescência, e limpa o coração, desobstruindo de qualquer impedimento a artéria da Amizade.
Um beijo, milord
O que disse, disse-o muito bem, melhor impossível:-)
Meguita.

Lord Broken Pottery disse...

Aninha,
É isso, discutir é trocar não apenas idéias. É ter oportunidade de crescer junto.
Beijo

Silvares,
Talvez não discutíssemos. Somos muito parecidos. Também gosto de tomar partido do mais fraco.
Grande abraço

Fernando,
Pois é, lá em casa já virou até piada. Às vezes, para provocar minha mãe, ponho política em discussão. Divirto-me vendo-a irritada, exaltando-se, defendendo com desespero suas opiniões. Minha irmã fica brava, achando que Dona Marise poderá sentir-se mal, tamanho o entusiasmo que revela. Já meu irmão, o mais à esquerda de todos, não alivia, provocando-a no limite. No fim acabamos rindo.
Grande abraço

Meguita,
Você acertou na mosca. Não existe vida desperdiçada. Existe, sim, mau humor com a profissão.
Andei por aí, blogs da vida, e soube que você irá viajar. Matou-me de inveja. Há dois anos que não vou para a Europa. Morro de saudades de UK.
Beijão

Anônimo disse...

Olá lord...também gosto de discussões... adoro detalhes, mas infelizmente as pessoas que me cercam n agradam muito, entao eu sou repreendida por falar alto... em tons meio impositivos, etc... e só querem dar fim a algo que gostaria de dar continuidade... :(, fazer o que!!! Tento formar meus conceitos de outra maneira...

Um grande abraço e ótima semana!!

anna disse...

lord, não aprendi a brigar. tenho um irmão mais velho que sempre me protegeu, então não fui treinada a brigar ou discutir. aprendi (?) fora de casa. e tardiamente. e aos trancos e barrancos. muitas vezes perdendo a razão pela gritaria ou destempero. muitas outras engolindo sapos.
se estivesse nessa reunião familiar que descreve, com certeza estaria absolutamente nervosa.
vida desperdiçada... não acredito que seja possível. sinto-me o resultado de descaminhos, escolhas e acaso. e gosto do que sobrou.

peri s.c. disse...

Bons debates, diálogos consistentes, articulados, só na literatura, teatro e cinema, em cenas cuidadosamente pensadas e escritas. Na vida, as emoções do momento prevalecem. E sem fundo musical.

Anônimo disse...

Oi Lord!

Sempre bom vir aqui e ler seus textos...

Com esse não é diferente.
Acho que boas discussões são sempre bem vindas...mas não é sempre que elas conseguem ser boas né?
Mas tá valendo...a vida é um aprendizado constante! E até memso das discussões tiramos boas lições!

Obrigada pela visita,
Beijo,
Cris

Van disse...

Você, como sempre, ótimo!
Quanto a isso, não há qualquer discussão!
Beijuca, querido.

Vivien Morgato : disse...

Eu só discuto com quem ouve, quando há troca. Quando a coisa esquenta e ninguém se entende eu digo "então, tá"...e quem me conhece morre de ódio, porque já sacou que estou morrendo de preguiça de discutir. Tenho uma grande preguiça em discutir mesmo....só é interessante quando é dialético, dialogal, quando é uma troca. Caso contrário fica uma briga pra ver quem é o dono na bola. Eu prefiro dar a bola pra qq um e ir embora.;0)
beijos.

Anônimo disse...

Ihhh, Lord. Participei de um Fórum na internet onde só me estressava. De ficar discutindo por e-mail não sou não, mas a siscussão alheia sempre me estressava. Saí rapidinho de lá. E, se me permite, 15 anos de empresa me ofereceram a mesma exata lição: perda de tempo!
Por isso agora, advogando, trabalho sozinho, ganho muito menos e sou bem mais feliz.
Abraços,
Mário.

GUGA ALAYON disse...

Lord, vc está completamente errado. E não se fala mais nisso.
Abç, anyway. ahaha

Maria Helena disse...

Lord,
Céééuuus, parece que você descreveu a minha família.
E eu que pensava que só nós éramos destrambelhados assim??!!!
Com os meus,se alguém atrever em dizer:_Aquele político..??
Ou, qualquer assunto que dê margem à discussão, é a deixa, dalí a coisa esquenta,e se arraasta até a madrugada.
Bjs

Anônimo disse...

Lord, então vamos.
Vou lhe apresentar uma blogueira que é mais anglófila que qualquer anglófilo, eu a chamo de céltica.
E a Viv, do alta fidelidade
ALTA FIDELIDADE

Jamais quis saber dos USA, só o UK...
Right on:-?
Meguita

Lord Broken Pottery disse...

Polly,
Não se reprima. Se você gosta de discutir, colocar suas opiniões em debate, vá em frente. Os outros que se acostumem com o jeito que é seu.
Beijão

Anna,
Você disse, no fim, o principal. O importante é que fiquemos bem com a gente mesmo.
Beijo

Peri,
De qualquer maneira ainda acho que por escrito fica pior. A idéia é que discussões por escrito ficam registradas, depois que você se exalta por escrito é difícil corrigir rotas, virar o disco, voltar atrás. Em cores, e ao vivo, as idas e vindas ficam mais fáceis.
Abração

Cris,
Também acho. Como dizem os ingleses: food for thought. Discutir é alimento para o pensamento, embora às vezes percamos o controle do que dizemos.
Beijo

Van,
Até isso, modestamente, dá para discutir. Poderia ser bem melhor já que ainda estou aprendendo, estarei sempre aprendendo. De qualquer forma agradeço o seu carinho.
Beijão

Mário,
Também acho estressante acompanhar discussões alheias sem me meter. Fico com uma coceirinha nos dedos, louco para tomar partido. Com relação à vantagens de se trabalhar sozinho também dá para discutirmos. Se por um lado ganhamos em termos de liberdade, vantagem que só a solidão proporciona, perdemos em termos do convívio humano, sempre enriquecedor.
Grande abraço

Guga,
Provavelmente você está com a razão. Como disse, evito discussões acaloradas por escrito.
Grande abraço

Maria Helena,
Nas duas casas Rogérios e Ricardos discutindo. Muito interessante a coincidência. No fundo, acho que muitas famílias são parecidas. Essa facilidade em brigar e não carregar mágoa, não romper relações, requer a intimidade que só quem cresceu junto possui.
Grande beijo

Meguita,
Irei visitá-la, assim que conseguir adiantar o livro que estou terminando. Tenho me virado em dois para dar conta das amizades atuais. Sou muito rígido nessa questão. Considero que tenho que retribuir todo o carinho que recebo, e que não é pouco, felizmente. Para visitar os blogs que tenho linkados, ler com interesse o que é escrito, comentar, participar com o entusiasmo que todos merecem, é necessário, muitas vezes, um dia de mais de vinte quatro horas. Quanto às diferenças que tenho com os USA, nasceram depois que estive na Europa. Antes, gostava muito dos States. Algumas cidades, como Nova Iorque e São Francisco,ainda me fascinam. Só que o ambiente que encontro em lugares com Londres, Paris, Roma e Amsterdam, estão anos luzes à frente do provincianismo americano. Não dá, por exemplo, para comparar uma cidade como Dublin, com qualquer outra. Já parou para pensar no número de escritores importantes irlandeses? Só lá poderia existir um museu da literatura. E no terreno da beleza? Poucas cidades são tão linda como Edimburgo.
Grande beijo

Maria Helena disse...

Lord,
A família que eu me refiro, é na verdade, meus 7 irmãos, todos homens e eu. Em uma roda ninguém perde, até a minha mãe fazia parte da confusão, meu pai era o mais maneirinho.Aprendí com a Vivinha a sair ilesa, pela tangente, mas... volto às vezes.

Lord Broken Pottery disse...

MAria Helena,
Existe lobisomem mulher? Sei que o filho que nasce depois de sete mulheres é lobisomem. Aconteceria o mesmo com a oitava filha depois de sete homens? Será que tenho a honra de conhecer e trocar mensagens com uma lobisomem (ou seria lobamulher)?
Beijos divertidos

Ricardo Rayol disse...

Você é italiano?rs. todos os que conheço gostam de grandes debates familiares gesticulados e gesticulantes.

Lord Broken Pottery disse...

Ricardo,
Não. Tenho portuguêses pelo lado materno. O sangue quente é brasileiro mesmo, mistura de alagoano com carioca.
Grande abraço

Anunciação disse...

Concordo!

Lord Broken Pottery disse...

Anunciação,
Que bom! Melhor assim, não é mesmo?
Beijo

psicologo@ricardomardegam.com.br disse...

Escrevi um livro sem a letra A - Ele se chama A- (lê-se a negativo). Ricardo Mardegam

Um livro surpreendente.
Diz de um filósofo que emerge e sucumbe em seus conceitos
teóricos e ressurge como um ícone incompreendido.
Seus conhecimentos, ensinos e conteúdos podem muito
nos dizer sobre questões do existir, sobre o Ser e sobre o
universo dos homens.
Foi escrito de modo que um dos signos do nosso uso
comum (o A) fosse excluído e que, mesmo com esse
jeito diferente de escrever, houvesse o entendimento do
conteúdo nele exposto.
É com muito gosto que ofereço este texto... E espero que
gostem, pois gostei de escrevê-lo e quero crer no seu
percurso promissor no mundo dos novos escritos.
Bom divertimento e, em breve, nos veremos, de novo, em
um outro delírio de escritor que quer o diferente, o novo,
o (im)possível como desejo.

psicologo@ricardomardegam.com.br