quarta-feira, abril 25, 2007

Jealous Guys

Já escrevi algumas vezes que gosto de tomar café na padaria. É quando encontro tempo para relaxar e conversar com minha mulher, tranqüilamente, antes do trabalho. Um croissant quentinho com bastante manteiga, a média nem clara, nem escura, pelando, e o papo flui calmo, sem pressa, gostoso.
Hoje, no desejum, fui informado que um casal amigo nosso está grávido outra vez. A filha, uma gracinha de cinco anos, voltou a fazer xixi na cama assim que soube que ganharia um irmãozinho. Ante o meu comentário, em tom de brincadeira, que o fato demonstrava o quanto a humanidade é ridícula, minha mulher, rindo, quis saber se eu não me considerava humano.
Morro de pena de nossa fragilidade. Desde pequenos carregamos fardo pesado demais. Vivemos antecipando a possibilidade de perdermos quem amamos e nos assustando com a necessidade de dividirmos afeto. Descobrimos, derrotados, inimigos impossíveis. Nosso primeiro olhar é desconfiado. Irmãos nunca são benvindos. Na matemática de nossos sentimentos o amor não é uma abstração. Como corpo inteiro e exato diminui ao ser compartilhado. O mais interessante é que na criança a emoção é explícita, violenta, sem possibilidade de defesa. Dá pena ver o que faz com os bichinhos. Com o tempo, adultos, nos aperfeiçoamos em ocultar o que anda pelo coração. Pensamos que não sentimos o que sentimos. Guardamos em escaninhos dissimulados a dor congênita e fingimos que estamos bem. Somos, sim, ridiculamente ciumentos. Quem não for que atire a primeira pedra.

27 comentários:

Anônimo disse...

Eu sou ciumenta, assumida mesmo, sem problemas. Já tive vários níveis de ciúmes, não sou do tipo desconfiado, sou mais do tipo quero-atenção-mesmo.
Quanto a irmãos, comigo a coisa funcionou diferente, meu imrão caçula, que é tema do meu post de hoje sempre foi meu queridinho.
Mas somos tooodos muito estranhos.;0)

anna disse...

pois é,lord, fingimos ser quem não somos, pensamos ser quem não somos e pretendemos ser alguém que nunca seremos. affe!

valter ferraz disse...

Lord, absolutamente correto. E somos tremendamente ridículos o tempo todo.
Quanto mais vivemos mais ridículos ficamos. Já não podemos fazer xixi para demonstrar nossos ciúmes, aí inventamos uma série de artifícios, de manhas para demonstrar isso.
Alguns extrapolam e até matam. Ridículos é o que são.
Abraço envergonhado(sou muito ridículo)

Anônimo disse...

Lord, sabe q acho q pros adultos é pior. A gente aprende, às turras, mas tenta ser civilizado. A irremediável divisão com os irmãos (falo de cativa pq tenho só irmãos + velhos - o q me facilita - se bem q lá em casa, como era comunidade, tinha muitos menores q eu; toda emoção deve ser sido prova, e eu escolhido alternativa). Alternativa aos 2 anos: ñ me contive e tasquei uma mordidona frente a um bebê, simplesmente a minha prima Kica, mas a q roubva os "!ai, ohs e uus e que linda, q liiinda!!!". Depois de grande, isso tudo, várias vezes, de novo - com pretendentes, namorados e afins - cruel, mto cuel, como diria o comentarista. Evitar? Não dá! Fui sortuda dos 20 pra cá, acho. Manejar e ser bem educada em geral e sempre e mais com as mulheres (haja disputa e haja amor e amizade), com os envolvidos no crime.SEI BEM, COM ALGUM ESFORÇO, vou com educação e amor; CONSIDERAÇÃO, do Gil, a melhor definição. SIDERAL COM. GIL.

Anônimo disse...

Oi...boa noite...
Tudo bem? Vim te visitar, através do Apoio Fraterno, e gostei muito, você escreve muito bem...e sobre esse post,somos todos ciumentos sim, às vezes sem querer, sem perceber, mas somos sim!
Volto com certeza!
Um abraço, Crissssssss...

GUGA ALAYON disse...

-Eu tenho ciúmes de quem escreve bem assim...
-Não é ciúmes , idiota, é inveja.
-Então tenho os dois. E mais alguns...

Anônimo disse...

Lord, eu tenho, como o Guga bem falou, os dois, também!Abçs

O Meu Jeito de Ser disse...

Ridícula ou não, sou ciumenta, possessiva e o que mais quiserem.
Não difarço, não escondo de ninguém, aqui todos já sabem, e é assim que eu sou.
Mas verdade seja dita, o ser humano, é um bicho muito complicado.
Essa mistura de sentimentos e sensações muitas vezes leva o homem a cometer loucurasem nome de um suposto amor ou ciúmes.
Na verdade o que nós não sabemos é lidar com a perda, e só a possibilidade dela, a expectativa gerada, já faz com sejamos assim ridículos e muitas vezes tomemos medidas impensadas.
Um beijo.
Também tivemos o mesmo problema da garotinha aqui em casa.

Claudio Boczon disse...

pra quê lado devo atirar a pedra?

para cima, num ângulo de 90º em relação ao horizonte?

Lord Broken Pottery disse...

Vivien,
Põe estranho nisso!
Beijão

Anna,
Fingimos tão completamente que chegamos a pensar que é dor, a dor que deveras sentimos, né?
Beijão

Valter,
Abraço, ridiculamente envergonhado.

Sibila,
A boa educação é uma tênue casquinha que usamos para disfarçar.
Beijão

Cris,
Já fui lá te visitar e recomendo seu blogg. Estarei te linkando.
Beijão

Guga,
Eu também tenho ciúme e inveja de quem escreve bem. De qualquer forma obrigado pelo carinho.
Abração

Eduardo,
Obrigado pela demonstração de amizade.
Abraço

Aninha,
Não sabemos lidar com a possibilidade da perda. Já ficamos agitados só com a iminência dela.
Beijão

Cláudio,
Pelo visto ninguém vai atirar.
Abração

Anônimo disse...

Milord, acho que foi você que falou por aqui daqueles autores que fundamentam o agnosticismo por explicar as religiões, superstições, crenças, enfim, o pensamemto mítico, de forma geral, como um fator instintivo de defesa. Parte disso deve ser o ciúme. Vale lembrar um bom momento de um letrista muitas vezes poeta:

Tanta gente canta, tanta gente cala/
Tantas almas esticadas no curtume/
Sobre toda estrada, sobre toda sala/
Paira, monstruosa, a sombra do ciúme.

Anônimo disse...

Lord, seu companheiro de VARAL , o Silvares, esteve te visitando, porque só hoje notou estarem no mesmo fio, e gostou do que leu.Comentário no Camille, Varal de hoje!

Anônimo disse...

Lord, o meu ciúme é "recolhido", é "implícito". Nunca tive coragem de expor. Pouca gente conhece a cara dele. E vou te dizer uma coisa: este é o pior de todos, não para as pessoas que estão ao redor, mas para o próprio ser. Sofro demais! Texto fantástico.

Anônimo disse...

Lord, nem me fale! Ando mordida de ciúmes de minha Princesinha, que fica mais tempo com minha filha e genro do que comigo... Não demonstro, porém, guardo tudo. E, como diz o Ery, a gente sofre mais.
abraço, garoto

Anônimo disse...

E é engraçado, ciumão desses de arder, depois de grande, só senti em relação a 2 pessoas. Os ciuminhos, administro mais ou menos bem: em geral, me retiro do recinto e deixo q as partes se entendam. Uma vez, numa festa, saí debaixo de chuva, peguei um táxi e voltei pra casa. Exagero? Bjs.

Anônimo disse...

verdade. e o ciúme é completamente inevitável, como uma tempestade que tem que cair.

Lord Broken Pottery disse...

Jayme,
Enquanto escrevia o texto, mais de uma vez me lembrei da letra do Caetano. Acho das melhores músicas que realizou e é, sim, um grande poema.
Grande abraço

Eduardo,
Obrigado pelo aviso, estou indo ler.
Abraço

Ery,
Somos parecidos. Não sou de guardar as emoções. Costumo por tudo para fora. Com o ciúme, porém, me envergonho um pouco e guardo boa parte dele, acabo também sofrendo.
Grande abraço

Denise,
A sua princesinha tem uma avó maravilhosa. O amor que a gente sente pelas avós (experiência própria) é muito especial.
Beijão

Sibila,
Normal. Isso de se emputecer e ir embora, quando o ciúme morde, é muito natural. Ridículo, como disse no texto, mas humano e corriqueiro.
Beijão

Lúcia,
Boa comparação. Tempestade, muitas vezes, mais caudalosa do que gostaríamos.
Beijão

Anônimo disse...

Sim, Lord
Somos ridiculos e pateticos! E capazes de tanta beleza...Crianças são tudo de bom nesse mundo esquisito.

Lord Broken Pottery disse...

Mani,
Também acho, embora já anunciem o que virá pela frente.
Beijão

Alena Cairo disse...

Meu deus! Vou bater palmas de pé!


"Na matemática de nossos sentimentos o amor não é uma abstração. Como corpo inteiro e exato diminui ao ser compartilhado. O mais interessante é que na criança a emoção é explícita, violenta, sem possibilidade de defesa. Dá pena ver o que faz com os bichinhos. Com o tempo, adultos, nos aperfeiçoamos em ocultar o que anda pelo coração. Pensamos que não sentimos o que sentimos. Guardamos em escaninhos dissimulados a dor congênita e fingimos que estamos bem. "

Vou linkar lá!

http://alenacairo.wordpress.com/

Lord Broken Pottery disse...

Alena,
Obrigado, é uma honra para mim.
Beijo

Ricardo Rayol disse...

Baita verdade. Vejo isso em casa todo dia.

Lord Broken Pottery disse...

Ricardo,
Vemos sim, que pena...
Abraço

Silvares disse...

Até que estive tentado a atirar a tal pedrada mas, pensando melhor, dexei cair a pedrinha no chão. Disfarçadamente...

Lord Broken Pottery disse...

Silvares,
Melhor assim, disfarçadamente, para que não nos vejam.
Grande abraço

Anônimo disse...

Perfeito! Somos todos uns pobres coitados metidos a racionais e superiores.

Lord Broken Pottery disse...

Rosa,
E no entanto somos irracionais e inferiores.
Beijão