Sete horas da noite. O supermercado está lotado, filas crescem em frente aos caixas. O calor, impróprio para o inverno vigente, torna a necessidade de se fazer compras um suplício maior. O ar seco, perigosamente seco, permite quase que se ouça o pestanejar das pessoas, os olhos ásperos como se estivessem cheios de areia.
Empurrando o carrinho ela para aqui e ali. Cuidadosa, observa atenta as datas de validade antes de escolher os produtos. Abastece sem pressa. Atende o celular, conversa animadamente, coquete. Que idade teria? Difícil adivinhar. Veste-se jovialmente, jeans e blusa curta, barriga quase à mostra. Jóias, perfume francês. Cabelos aloirados tingidos de forma profissional, maquiagem discreta na pele esticada por bisturi competente. O andar elegante equilibra-se sobre saltos de plataforma. Que idade teria?
Terminando, dirige-se ao tumulto abafado dos que querem pagar. As filas espicharam mais um pouco. Apenas uma tem tamanho razoável, a dos idosos. Ergue a cabeça abrangendo todo o cenário. Um brilho estranho passeia pelo seu olhar, segundos de indecisão. Suspira profundamente. Escolhe o caminho mais curto e rápido.
2 comentários:
Isso é o início de um conto?
Não. Apenas um olhar mais atento. Grande beijo.
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