quinta-feira, junho 24, 2010

Maria

Maria morreu recentemente. Era minha amiga, perdeu para o câncer e deixou um blog. Outro dia fui visitá-lo, procurar um pouco de alegria. Ela era bastante divertida, tinha verve. Os donos passam e eles ficam, embora assombrados. Encontrei palavras tristes que me fizeram chorar. As mesmas que me faziam rir. Letras e imagens de luto. E ficarão lá, guardadas na blogosfera para sempre. Nada mais estranho que entrar em uma casa eletrônica morta. Os dedos vacilam no login, tremem desconfiados. Os posts, já frios, me deixam sem graça. Sinto vontade de fazer um comentário. Para quem? Um vento gela minha nuca. Tudo está lá e estará. Abandono involuntário, sem despedidas. Não encerramos blogs antes de partir.

18 comentários:

Anônimo disse...

Caco,

que pena.
Te envio um abraço solidário. Muito chato perder os amigos. Também perdi uma amiga essa semana, até escrevi uma crônica lá no Primeiro Programa. Muita saudade.
Seja como for, muito bom te reencontrar aqui.

Beijo
Vivina.

Lord Broken Pottery disse...

Pois é, Vivina,
Morreu a Maria Sampaio, filha do artista plástico Mirabeau Sampaio, grande amigo de Jorge Amado e amigo também de meu pai. Era uma excelente fotógrafa, pessoa forte e divertida. Tinha um blog, o Continhos Pra Cão Dormir, que dá pra ser acessado aí do lado. Estou com saudades de você.
Beijo

valter ferraz disse...

Caco,
fui lá no dia que a Janaína postou. Por coincidência(infeliz) no mesmo dia tive a notícia que o ZéSãoPaulo, genro do Fernando Cals também tinha partido e mais ainda o pai do nosso amigo Ery, também.
Ou seja, foi uma sucessão de partidas que deixou-me um tanto preocupado e triste.
Já baixei uma ordem aqui no barraco: quando eu me for o blog vai também e os arquivos serão deletados. Sem choro e nem velas.
Beijo, mano

Lord Broken Pottery disse...

Valter,
Se algum dia eu morrer, espero que o blog fique lá. Meio vivo, meio morto,do jeito que for possível. Como irei esperneando, qualquer migalha minha que sobrar será uma das vinganças possíveis contra a indesejada.
Beijo

Anônimo disse...

Ai, lord, enchi os olhos de lágrimas. Quando eu me for, também quero meus pedaços pelo mundo, minha vida em palavras.

Meg disse...

Querido milord
Isso é realmente incrível. Nem sei por onde começar. Tudo é mágico. A escritora, a fotógrafa, a militante, a secretária de Jorge and so on. Magia e riqueza. Blog assim, vale a pena. Não é coisa morta, é coisa que não morre nunca. Um gesto não calculado de generosidade, presente de rainha.
Estou mergulhada, afogada em escritas, em imagens, o sempiterno fascínio das imagens. "Estrela de Ana Brasila" e "Rosália Roseiral". Quanta Maria! E eu, afogada nos amores caninos. Entendo tanto isso. Tenho a impressão de que *eu* é que a perdi mais: não a conheci, não troquei com ela emails ou comments. Que falta de sorte a minha em não conviver, mesmo que virtualmente com quem possui tanta vida. Tamanho encanto.
Como falar no tempo passado em ser tão presente?
Fica a ambiguidade da frase e a perplexidade porque é assim mesmo.
Blog que me agarrou pelos cabelos do coração. Maria vive.
Lord querido, o que escreveu é lindo, tão, mas tanto, que pensava ser invenção de escritor.
Desse blog, de Maria, a gente tem de aproximar-se com pés de veludo. Tamanho encanto, repito.
Um abraço, um beijo, Lord. Obrigada por tudo.

Lord Broken Pottery disse...

Alena, querida,
E suas palavras ficarão, tenho certeza.
Beijo

Meg,
Você não imagina a alegria que me deu ver um comentário seu aqui. Parece que agora a blogosfera voltou à normalidade.
Beijo carinhoso

hélio disse...

Lord,
são nestas horas que um brinde a alegria da vida se torna
indispensável para ativar as boas memórias de quem se foi.
gde abraço.

Mauro Castro disse...

Um blog pode funcionar como um inventário, um legado, um testamento, uma garrafa de náufrago jogada no mar virtual...Vai ficar por ai, sendo encontrado vez por outra.
Há braços!!

Marcio Gaspar disse...

é lord, e ontem partiu outro amigo: zeca neves. no mesmo dia em que se completavam 20 anos da morte do cazuza, parceiro também de vida, de musicas e de loucuras. quando começamos a ter mais amigos embaixo da terra do que acima dela, é hora de se preocupar...

Lord Broken Pottery disse...

Hélio,
Concordo com você. Brindemos então!
Grande abraço

Mauro,
A gente que é escritor começa logo a viajar. Que tal um conto em um futuro muito distante e carregado de blogs?
Grande abraço

Marcio,
Por isso é tão importante renovar sempre as amizades, além de fazer novas.
Grande abraço

Vivien Morgato : disse...

Acho que a imagem da garrafa do náufrago - citada pelo Marcio - é perfeita.
Beijos.

Maria Helena disse...

Lord
Sinto muito, é muito triste perder alguém que estimamos. Meus sentimento.
Bjs

Anônimo disse...

Lord,

este seu post virou velório e sala de lamentações! A morte é a única coisa certa desta vida, e devemos encara-la com este realismo!
Quanto aos blogs que ficam, mesmo aqueles que pretendem deleta-los estão redondamente enganados, pois TUDO que foi postado um ,estará ETERNAMENTE nas nuvens! É mais duradouro do que as múmias ! E isso é muito bom, pois não há traças que comam as páginas amareladas dos livros, nem ratos e umidade que deteriorem nossos blogs! Eles são perenes, e nós passamos! E bom que seja assim! Tenho pena de quem passou pela vida só twittando e não teve um blog!
E vamos viver na alegria antes que a morte acabe com esta farra!

Lord Broken Pottery disse...

Eduardo,
Sei que a morte é a única coisa certa da vida, mas não é por isso que a aceito. Quando às vantagens dos blogs, concordo com você. Acho até que, como tudo que se escreve e fica para a posteridade, os blogs ajudam a combater o esquecimento que a morte provoca.
grande abraço

jayme disse...

Isso me dá um atremenda aflição, o blog que sobrevive ao autor, e não poderá mais ser apagado ou aumentado, embora possa ser lido receber comentários. É um estranho limbo.

Angela-lago disse...

Fiquei comovida com seu post. Essa nova forma de permanência...
Abraços,
Angela-Lago

Lord Broken Pottery disse...

Angela,
Eu é que fiquei comovido com sua visita. Lá na USP, com a Maria Zilda (Mara), ouço falar bem demais de você. Estudamos o seu trabalho com carinho imenso e muita admiração.
Beijo grande