O menino ficou nu na frente do espelho. Fechado em seu quarto, procurou em cada pedaço da carne exposta. Olhou debaixo dos arranhões, apalpou os vergões, seguiu com o dedo a ferida purulenta mais antiga, a casca começando a se formar. Sentiu na boca o gosto amargo do coração machucado de morrer. Limpou do rosto, com a palma da mão cortada, o sangue diluído nas lágrimas. Engoliu um soluço que teimou em subir, invadindo a garganta rouca de gritos. E antes que o corpo se desfizesse, insistiu em buscar onde desligar a dor. Nada encontrou. Solitário, resolveu desistir. Abriu a janela e voou para longe dali, arrepiado de frio.
quinta-feira, julho 30, 2009
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25 comentários:
Crise da idade!
Lindo texto, primo. Ao lê-lo, constato mais uma vez que sua herança não se resume à calvície e à miopia, he he. Beijo!
arrepiado o personagem e arrepiados os leitores. potencial roteiro para um curta a ser dirigido por david cronenberg e musicado por leonard cohen...
Concordo com o Marcio Gaspar. Um texto curto, fortíssimo e cheio de talento. Um beijo, Lord.
Lord:
Um Kafka.Parabéns!
Abração
Günther.
E começou cedo a conviver com o sofrimento, a aceitar a vida como ela é, cheia de percalços.
Lindo texto.
Beijos querido.
Lindeza seus escritos, acho sempre.
Sem chapéu, como fazer com o vermelhão que vem?
Beijos
Eu ando taõ devagar, sou, e ainda mais, distraída. O comment era do post anterior, como pode ver.
Vermelhos duplos!
Descupa.
Já, já, volto.
Beijo! TÉ!
Lord:
Ainda Günther...
Você já leu "A Cuba",de Kafka?
Outro abraço.
Muito bom! Sou leitora do Terapia Zero.
=)
Querido Lord Caco,
comovente.
Beijo
Vivina
Quando a arte imita a vida, a gente aplaude. O difícil é perceber que a vida alimenta a arte.
abraço, garoto
Lord
Sentí a necessidade de uma virada do avesso, de uma metamorfose.
Entretanto eu não tenho facilidades
literárias, é análise intuitiva.
Bjs
Eduardo,
Não entendi direito o que você quis dizer. Qual idade, de quem?
Grande abraço
Jana,
Neste caso específico, parece título de filme faroeste: herança sangrenta.
Beijo grande
Marcio,
Seu bom gosto (é claro que não estou falando de política, rs, rs)mais uma vez presente. O roteiro ficaria em muito boa companhia.
Grande abraço
Dade,
Ser elogiado por que conhece, escreve tão bem, é sempre muito gostoso.
Beijo grande
Günter,
Poucos repararam no título. Falo de bullying, violência comum nas escolas, entre os meninos. Você tem razão. Alguns dos que sofrem este martírio, devem viver situações "kafkianas".
Grande abraço
Aninha,
No caso de bullying, não dá pra aceitar. Precisamos de políticas públicas que combatam este tipo de violência. O Brasil, pra variar, está atrasado. Na Europa alguns países já perceberam que precisam fazer alguma coisa, e estão tentando.
Beijo grande
Sibila,
É sempre com carinho grande, e muita alegria, que recebo suas visitas. Não se preocupe. A ordem dos comentários não altera o resultado.
Beijo grande
Günter,
Não li. Vale a pena?
Abraço
Isabella,
Seja benvinda (agora é tudo junto). Logo irei visitá-la.
Beijo
Vivina,
Bom que você gostou.
Beijo carinhoso
Denise,
Bem colocado. O pior é que muitas vezes alimenta de sangue.
Beijo grande
Maria Helena,
Talvez você tenha razão, não deixa de ser bem sacado.
Beijo grande
Oh, Lord! Lindo texto. Conciso, mas falou tudo o que se precisava. Saudade de você, meu Lord. Beijos!
Querido Lord:
O conto de Kafka vale à pena(Sic).
Um rapaz(a personagem),busca carvão em meio à uma nevasca e frio absurdos,batendo porta a porta dos vizinhos na aldeia.Ninguém o atende,até que êle se senta na cuba que o sustenta em seus pedidos,e esta,ao final,o leva voando ao infinito.
É a metáfora do poder oculto diante da impotência da situação
cotidiana.
Vale a pena,ou,vale à pena.
Abraços
Günther.
Cláudia,
Muito legal "revê-la", também estava com saudades.
Beijo grande
Günther,
Vou rocurar ler. Obrigado pela dica.
Abração
Magistral. Em poucas palavras você criou uma cadeia de emoções complexas a irromperem num ápice completamente inesperado.
Ahh os textos de Lord são sempre inspiradores e tentadores.. não há quem não os leia e goste!!
Bjos Lord!!
=^.^=
Quanta intensidade em um único parágrafo.
Parabéns pelo texto
voou pra longe? Então era a gripe aviária. UFA!
ahahahabraços, nobilíssimo
Cris e Mário,
O carinho de vocês, a presença aqui, a opinião, tudo isso me faz muito bem. Obrigado!
Beijo e abraço
Polly,
Bom ter você com leitora.
Beijo
Ilana,
Agradeço a sua visita. A idéia foi fazer isso mesmo, dizer muito com pouco. Retribuirei a visita.
Beijo grande
Guga,
Podia ser, podia ser...
Grande abraço
Ilana
Lord querido
Tenho que ir comentando de acordo com minhas (parcas) forças e recuperando o tempo perdido. Mas semperder nenhum.
Estou paraliszada, aturdida. Que força deste texto, que me deixa com sperança de que osque as minhas amigas, mães de flhos em idade escolar onde se os *bullies* se acham inatingíveis e acima de qualquer denúncia.
As vítimas, espero, não tenham essa mesma dor sempre que os obriga a desisitr a a fugir da crueldade da vida chegando tão cedo e tão perto.
Um beijo, e um orgulho dentro da tristeza: vc usa mesmo o texto curto como uma arma do escritor que expõe a ferida que agora até mata.
Valeu, muito.
Meg
P.S. Até amanhã, aos pouquinhos.
Conheço um jovem que precisou ser mudado de escola por causa das perseguições da direção e de alguns colegas. O pior voou pela janela e o melhor desse jovem está cada vez melhor. Elza
Elza,
Ele, sem dúvida, é um sobrevivente. Quando se sobrevive, se cresce.
Beijo grande
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