Acabamos de presenciar um assalto. Rápido, organizado, às claras. Encostamos em um muro, aguardamos os acontecimentos. Enfadados e tranqüilos. Treinados, sabemos como lidar com estas coisas. Ao mesmo tempo em que, do outro lado da rua, a velhinha recolhia o cocô do poodle, três motoqueiros, revólveres na mão, cercaram um quarto, limparam-no, seguiram seu destino. Tudo muito corriqueiro, comezinho. Quando passei pelo infeliz, recém-subtraído, também calmo e preparado para a situação, inevitável, pude ouví-lo comunicando ao patrão os últimos acontecimentos, restara-lhe o celular. Somos mesmo civilizados.
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
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32 comentários:
Que pena que isso é assim, não é mesmo?
Apesar disso, uma boa tarde para você.
Caro Lord,
Ainda me assusto ao ler coisas como essa, por mais que seja comum,eu não consigo me acostumar com uma realidade dessas.
Não sei se um dia conseguirei.
E como já disse o Mário: Uma boa tarde para você!
É cruel demais quando vemos que a violência se tornou banal.
Quando olhamos uma situação como esta, e somos obrigados a pensar que foi só mais um.
Beijos querido.
PS: Vc conseguiu ouvir o programa pelo link?
Ainda bem que sobrou o celular, o que não costuma acontecer. O brasileiro, tão cordial, está cada vez mais violento. Porque diante dessa situação que você descreve, alguma coisa da violência nos atinge também.
Beijo pra você.
Cena urbana brasileira cada vez mais comum. Gostei da forma quase sem emoção com que narrou: inverte nossa noção de "normalidade", o que me parece o mais trágico de tudo.
"sobrar o celular" já é, apesar de tudo, um certo sinal de civilização... ;-)
Por aqui vão sendo cada vez mais frequentes essas cenas, mas ainda não temos esse calo e essa fleuma toda! Lá chegaremos, não duvido.
beijo, amigo
Ricardo,
Mais assustadora que a violência é essa naturalidade com a qual a encaramos.
Caco,
nenhum tiro? Nada?
Assim não empolga.
Beijo, mano
Lord, gostei dos comentários.
O problema é a banalização que tende a aumentar com o novo pretexto, desta vez, mundial, mais "muderno": a recessão econômica. O que não pode é o Governo justificar tais ações falando de exclusão social, desigualdade, "elite dominante" e por aí. Claro que isto tudo existe e colabora para tais acontecimentos, mas não é bom ficar apresentando SOMENTE isto como justificativa.
Grande abraço. Ótimo final de semana.
um roubo de iguais. talvez porisso deixaram o celular.
anna
Lord,
já que falamos em civilização, imagino a crônica policial escrita desta forma...
...talvez então, até as fotografias de presuntos teriam certa preocupação estética, ou de estilo.
forte amplexo,
Um absurdo estarmos tratando desses fatos com a habitualidade do corriqueiro. Onde estamos? Para onde vamos?
Forte abraço e saudades suas!
Lord, so de ler fiquei revoltada! Bjkª. Elza
Mário,
Também acho, amigo, e o pior é que a gente se acostuma. Bom ver você por aqui.
Grande abraço
Cris,
Também não me acostumo, não quero e não vou me acostumar nunca.
Beijo
Aninha,
Talvez seja assim que eles querem. Na hora em que todos acharem a violência banal, as autoridades poderão fica ainda mais tranqüilas, fazer menos do que já não fazem. Infelizmente não vi o programa. Você poderia me confirmar dia e hora? É semanal, não é?
Beijo grande
Adelaide,
Já não creio tanto na cordialidade do brasileiro. Somos um povo sonso.
Beijo grande
Jana, querida prima,
Você captou direitinho, fiquei contente. Foi exatamente o que eu quis fazer. Afastar-me da emoção para inverter esta noção da normalidade a que você se refere. Bom que tenha, aparentemente, conseguido.
Beijo carinhoso
Ana,
Espero que não cheguem. Vocês são mais civilizados do que somos.
Beijo grande
Arnaldo,
Também acho. Começamos achando a miséria natural, depois a violência, seguimos um caminho que não sei aonde chegará.
Grande abraço
Valter,
Sem pipoco, como o povo acha natural ver e falar.
Beijo, mano
Adelino,
O governo gosta de complicar. Bastava governar.
Grande abraço
Anna,
Você se refere ao corporativismo das motocas? Sei não. O que foi assaltado era “trabalhadô”.
Beijo grande
Claudio,
Chegaremos lá. A geração de sessenta e oito já via beleza estética no infortúnio. Estão aí as fotos do Sebastião Salgado para incomodar.
Grande abraço
Eduardo,
Sei bem onde estamos: no fundo do poço. Para onde iremos? Mais pro fundo ainda. Você tem razão com relação às saudades, preciso encontrar tempo para o prazer.
Grande abraço
Elza,
Revolta mesmo. O pior é que não há vontade política pra se encontrar uma solução.
Beijo grande
Lord,
Cena urbana, desagradável, corriqueira, que eu não consigo me acostumar.O meu medo é que, não saberia, reagir politicamente correto,nessa situação. O meu sangue português, sobrepõe ao meu inglês e...estaria ferrada. Tenho certeza que meu vovô Ballard,iria ficar horrorizado
comigo. rsrsrsrs
Bjs
Profissionalismo é essencial para que tudo funcione e temine bem.
Assaltantes profissionais, vítimas profissionais, platéia profissional. Nossos tempos não são para amadores .
E a vida continua.
No recente e grande assalto a um condomínio na ZN de SP, que foi notícia em toda imprensa, onde felizmente todos se comportaram com enorme profissionalismo, historinha que a imprensa não contou : chegou um motoqueiro para entregar uma pizza. Foi recebido pelos assaltantes travestidos de seguranças e conforme a norma interna foi acompanhado até a casa que havia feito o pedido. Esperaram que entregasse a pizza, recebesse o pagamento e desse o troco. Enquanto um dos assaltantes anunciava o assalto à casa, o outro dizia ao motoqueiro que teria que ficar no condomínio até o fim dos eventos e ... lhe deu R$50,00 para "compensar o incômodo".
O dono da pizzaria preocupado com a demora do funcionário e a falta de comunicação,pensando em algum acidente, pegou seu carro e refez o trajeto de entrega, até entrar no condomínio. Também foi assaltado.
O caso é que sou muito apavorada, já ia ter um treco e colocar a vida de todo mundo em risco..;0(
Meu querido Lord Caco,
eu terei idéia fixa, será exagero, ou seu texto carrega um tom de seu avô, na expressão "infeliz, recém-subtraído"?
Não parece uma referência aos colegas de cárcere? Não soa como os maravilhosos relatórios do prefeito de Palmeira dos Índios? Não traz de volta o desamparo do Fabiano, às voltas com o soldado amarelo?
Não preciso me explicar, sei que você sabe que não te acuso de nada.
Aliás, acuso, sim, do fato de ser herdeiro de tantas criações incomparáveis e saber honrá-las com trabalho, dedicação, respeito. Só podia dar certo.
Texto comovido e comovente, ainda que pareça -só pareça - frio e distante.
Nunca vou me cansar de te dizer parabéns. Parabéns, menino.
Muito carinho
Vivina.
PS. Tô viajando, passei aqui correndo, depois do carnaval reapareço.
e lord, outro dia ouvi uma máxima de uma adulta para uma criança.
"quando chegar alguém perto do carro que está, feche o vidro. mas mantenha seu coração aberto".
a pobre criança ficou com uma carinha de interrogação.
Lord:
A estória dos três mosqueteiros torna-se uma triste inversão digna do antigo "Notícias Populares".
Os Três Motoqueiros, escrito por Alexandre Numas.
"Oh tempora,Oh mores".
Abraços
Günther.
O mais desagradável alem de tudo é que sempre haverá panacas que fazem comentários panacas dessas situações. Quando chegar a vez dêles dirão:
Ô meu , pô.
abs.
Lord,
obrigada pelas palavras.
Vi um programa com um psicanalista inglês em que ele dizia que o ser humano contemporâneo está quase no mesmo estágio de desenvolvimento emocional que o homem da pedra. O acontecimento que narrou com grande sensibilidade é gélido - embora vivermos em tempos de aquecimento global- merecedor das épocas das grandes glaciações.
Beijo.
Oi Lord, posso entrar? Primeira visita para um blog super recomendado.
Sobre essa cena, que medo. Já passei por algo um pouco mais complicado e no fim ainda me vi tentada a considerar a velha máxima do conformismo, vão se os dedos...Vão se o caramba, quero a civilização de volta. Quanto custa mesmo?
Gostei muito daqui. Melhor do que foi me recomendado.
Bjs
Lembrei de uma vez em que ao entrar no ônibus,uma moça me puxou e ofereceu o lugar ao lado dela;o cara que estava atrás de mim veio e deu-lhe uma "escacelada"na cabeça e lhe disse pra deixar de ser metida;ele estava enfiando a mão na minha bolsa e ela me puxou pra evitar o furto.
Oi, Lord!
Não sei há quanto tempo ando afastado de visitar blogs! Mas é sempre um prazer, quando o tempo permite.
Onde estou presentemente, educação e discliplina são coisa seríssima. O resultado é segurança absoluta para que todos os cidadãos possam usufruir o que produzem.Veja o post que já há algum tempo coloquei sobre o assunto.
Sou fervorosamente favorável à punição exatamente no mesmo nível do crime cometido.
Um grande abraço
Maria Helena,
O ideal é ter calma. Já fui assaltado algumas vezes e consegui me controlar. Já me levaram, inclusive, um carro velhinho, que não tinha seguro, nunca mais achei. Não me arrependo de não ter reagido. Sobrevivi. Os assaltantes, provavelmente, já estão mortos.
Beijo grande
Peri,
A sua história fala de um assalto em cadeia. E falando em cadeia...
Abração
Vivien
Acho que o mundo caminha para a especialização. No futuro encontraremos cursos que ensinarão os mais apavorados a se controlarem.
Beijo grande
Vivina, querida,
A maior verrdade de tudo o que você escreveu diz respeito ao trabalho, dedicação e respeito. Realmente me esforço pra escrever direito. O resto é carinho, amor, grande amizade que, por sinal, são recíprocos. De qualquer maneira, sempre irei agradecer.
Beijo grande
Anna,
O perigo maior é ela se confundir, abrir o vidro e fechar o coração.
Beijo grande
Günther,
A minha impressão é que você disse mais do que consegui entender. Quem é Alexandre Numas?
Grande abraço
Fernando,
Panacas haverá sempre, em qualquer situação. Temos que estar preparados para eles.
Grande abraço, amigo
Sibila,
Não pude deixar de sentir pena do homem da pedra.
Beijo grande
Patty,
Fico honrado com sua visita, e com o carinho. A civilização, no estágio em que estamos, custa bem baratinho. Irei visitar você também.
Beijo
Anunciação,
O que vem a ser escacelada?
Beijo grande
Nelsinho,
A maior punição de todas é o tempo. Acostumei-me a pensar que aqui a gente faz, e aqui mesmo pagamos.
Grande abraço
Lord,
se encontrar TEMPO vá mesmo ver as esculturas e o Livro do Israel. Vale a pena!
E se TEMPO sobrar escreva duas linhas sobre ele, e participe da Tertulia amanhã! Como é domingo, talvez tenha um TEMPO.Sem querer criar um contra-tempo!
Forte abraço,
Há muito o Drummond escreveu:
"Stop
A vida parou
Ou foi o automóvel?"
Hoje eu diria:
"Stop
A moto quebrou
Ou fui assaltado?"
Lord,
concordo com o Peri, profissionalismo nessa área é fundamental. Reagir nem pensar. Passei por isto que vc relata duas vezes, só que nem o celular me deixaram. Outra vez (a terceira) foi um terror absoluto. Não sei se dá para voltar a ser civilizado, não tem volta... Era o que eu pensava enquanto eu pedia aos céus proteção e luz para aquelas coisas que pareciam ser humanos, mas não eram. Como civilizar alguém que mata pelo prazer de matar? Dificil.
Caco
Conheci agora seu blog
Estou em busca de um lugar pra você, roteirista.
Bjs
caia
Eduardo,
Sempre procuro ser obediente, principalmente quando é um amigo, tão importante pra mim, quem pede. Infelizmente não houve tempo. Tenho estado feito cachorro tolo, correndo atrás do rabo.
Grande abraço
Claudio,
É isso aí, mundo, mundo, vasto mundo.
Grande abraço
Hélio,
Estes que sentem prazer em matar, já estão mortos há algum tempo.
Grande abraço
Caia,
Tudo bem com você? Legal que você veio me visitar. Estou cruzando os dedos com relação ao trabalho como roteirista. É uma coisa que gosto de fazer.
Beijo grande
Eu pressinto assaltos. E evito-os. Coisa estranha, as pessoas encaram a violência naturalmente, banalizam-na. Mas, não aceito isto. Acredito que o bem ainda possa vencer o mal.
abraço, garoto
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