Sou dos que vai atrás de seus direitos, sem orgulho. Se posso receber salário desemprego, por exemplo, verifico o que preciso fazer, faço.
Essa semana andei de metrô. Ando sempre, mas cumpri um trajeto mais longo, com troca de trens, baldeamento para linhas diferentes, distantes. Sentado, raramente o faço pois sempre desço logo, minha vida acontece entre estações próximas, ia quieto, resignado, em busca de um passe grátis para trabalhadores demitidos. Com ele poderei andar três meses sem pagar, achei razoável .
E então o passado entrou por minhas narinas. Uma fragrância que nunca mais tinha sentido insinuou-se, invadiu meus sentidos. Revi, dentro daquele vagão, sem mais nem menos, minha infância no Rio de Janeiro. Eu menino, no apartamento de meu bisavô Américo, no bairro do Flamengo. A manhã chegando ensolarada, minha tia-avó Helena entrando no quarto para me acordar, o café da manhã gostoso esperando. Rindo, feliz, carinhosa com o sobrinho-neto ali hospedado. Eles sempre me cobrindo de cuidados amorosos. E, com a presença dela, aquele mesmo perfume que agora sentia, no meu caminho estranho, inundava o ambiente e meu início de dia, férias escolares. Percebi-me, talvez pela fragilidade do momento que vivia, aquela viagem inusitada, mais emocionado que de costume. Alguém, quem sabe aquela senhora de vestido florido, preparando-se para desembarcar, estava usando Leite de Rosas.
44 comentários:
Ah, a memória olfactiva é tão poderosa! Pode transportar-nos para uma infância feliz, dentro de um metro apinhado de gente... basta um perfume, e zás!, a Máquina do Tempo a funcionar na perfeição!
Welcome back, meu amigo. Com memórias de infância ou não, queremos muito tê-lo de volta.
Um beijo
Parece mágica.Você falou e eu senti imediatamente o perfume.Querido Lord,que saudade!Um grande abraço.
Uau.Ricardo nas paradas!
Muito bom estes momentos de volta ao passado. Sabe que, toda vez que ando de metrô, me lembro de você me dizendo que é no meio do povo que estão as melhores histórias? Pois, é, saiu da toca, lá vem história, hehe.
abraço, garoto
Esses mergulhos nas boas memórias são poderosos.
E lindos.
Grande abraço.
Essas lembranças nos faz sentir vivos, nos faz pesar as coisas vividas e que estamos vivendo.
As vezes chegamos a conclusão que a felicidade é algo simples, e a simplicidade faz parte dela.
Um beijo grande e nosso carinho.
Fiquei emocionada com sua sensibilidade, em meio ao prosaico cotidiano de um "desempregado".
Grandes almas, grandes lembranças.
Admirável!
beijos
P.S. Ando mal educada demais, sem visitar os amigos. Mas, é o tempo e dois trabalhos simultâneos. Por favor, perdoe-me.
Ana, querida,
Acho que já voltei.
Beijo grande
Anunciação,
Fiquei muito feliz em ver você por aqui. Tenho-lhe muito carinho.
Beijo grande
Denise, querida,
Acho que é mais ou menos isso, eu aqui nas paradas, começando a olhar para os lados, redescobrindo as histórias. Que bom!
Beijo, garota
Peri, meu velho,
Põe poderoso nisso!
Grande abraço
Aninha, minha irmã,
Não sei se a felicidade é simples mas, sem dúvida, está em muitas coisas relacionadas com a simplicidade. Bom falar com você. Dá um abração no meu mano.
Beijo
Saramar,
As nossas ausências cotidianas são menos questão de educação e mais de possibilidades. Não se preocupe, amiga.
Grande beijo
Caco, Caco,
posso te dizer que adoro te ler, além de te adorar?
Beijo e carinho
Vivina.
Lord,
belo retorno.
Uma palavra, um cheiro, uma música nos transporta ao passado. Momento mágico.
Bjs
a memória olfativa é realmente 'uma coisa'! e ela está lá, mas a gente não sabe. quando se é invadido e se percebe, o momento é de felicidade pura.
Tb acho incrível esta gavetinhas do passado que se abrem com um simples "esmélio".E são sempre lembranças boas, como quase disse o Márcio.
Sempre me recordo do "o perfume" do Sunskind
abraços odorizados
cheiro saudoso da minha infância.
eram mulheres bem queridas que usam aquela fragrância.
quanto ao seu momento, só posso dizer que está passando como um verdadeiro lord.
creio que nenhuma situação é maior que nós mesmos.
É incrível como o olfato nos faz viajar, a memória olfativa é muito poderosa. Somada à memória afetiva, emociona mesmo. Abração,
Trabalhei em uma escola onde fizemos muitas feiras "alternativas"...uma delas, eram diferentes ambientes que representavam as relações das pessoas com diversos elementos. A sala de biologia era a relação com a natureza, cheirava floresta, tinha som de pássaros; um dos laboratórios eram as relações amorosas, perfumada de forma adocicada e sensual; a minha sala - a sala de História - eram as relações familiares....com um cenário de casa de avó, cheirava café.;0)
Foi demais.
beijos.
Lord,
é tão gostosa essa sensação de ser lançado involuntariamente e num momento não tão acalentador, para os braços felpudos de um passado amoroso. O incosnciente - será que é isso mesmo(?) - às vezes nos prega essas boas peças. Adorei todo o contraste. Bjs.
Lindo texto.
Minha avó usava...
Não sabia que ainda estava no mercado.
Um abraço.
O olfato nos leva longe no tempo, marca certos momentos da vida, restitui alegrias ou tristezas, às vezes com mais fidelidade que um rosto conhecido.
Bem-vindo, Lord! Que bom vê-lo de volta! Uma boa semana.
Seu texto evocou-me Em busca do tempo perdido (M Proust), quando sorveu chá com madeleines... reminiscências... por acaso, o tema de meu último post. Abração.
Vivina, querida,
Estamos quites. Também adoro te ler, além de te adorar. É claro, porém, que essa declaração assim pública, me deixou um pouquinho vermelho: “sou timidis”.
Beijo grande
Maria Helena,
Essa percepção da força, realmente mágica, que os cheiros têm, às vezes ainda me assusta.
Beijo grande
Marcio,
Você tem razão. Misturam-se, nesse caso, felicidade e nostalgia em doses muito parecidas. É muito legal quando acontece.
Grande abraço
Guga,
É mesmo! Bem lembrado...Só fiquei desconfiado com essa coisa de abraço odorizado.
Abraço inodoro
Anna,
A percepção que tenho, nessa fase de minha vida, é de que algumas vezes, as situações nos diminuem muito, deixando-nos pequenininhos.
Grande beijo
Jayme,
Foi como me senti, logo após o susto da recordação extemporânea: emocionado.
Grande abraço
Vivien, querida,
Lindo! Muito bacana associar-se perfumes aos ambientes. Legal essa alternatividade.
Beijo grande
Sibila,
Tenho trabalhado muito, ultimamente, o inconsciente. Será que é ele que nos lança? Talvez seja. De qualquer forma, a imagem dos braços felpudos de um passado amoroso é forte, gostei.
Beijo grande
James,
Pois é, desde 1939. Antes de escrever pesquisei para saber se ainda existia. Queria ter certeza de ter sentido o cheiro do mesmo perfume. Só mudou a embalagem. Agora é de plástico, o que daria um outro post.
Grande abraço
Claudio,
Sua percepção me emocionou. Depois que escrevi, e fui reler, tive a mesma sensação. Como sou um apaixonado pelo Proust, imagino-me sempre velhinho relendo “Em Busca do Tempo Perdido”, talvez tenha sido, sim, influenciado. Nesse caso, involuntariamente, prestei homenagem a um de meus escritores favoritos.
Grande abraço
Literatura é uma benção. Você foi abençoado. E nós, que o lemos, partilhamos essa felicidade.Nunca deixe de vir aqui fazer estes pedaços de céu.
Silvares, meu amigo,
Puxa, voce me envaidece! O melhor de tudo é sabermos que temos gente amiga, que gosta de nos ler.
GRande abraço
Queriiiiido Lord!
Volto já aqui.
Viva!!!!
Ai, estou tão nervosa de alegria.
Beijos, volto logo!
Meguita
Oba!oba! oba!
Ler o Lord: parece um sonho
Lord, quem disse que textos não tem cheiro? Este prova a todo mundo que eles têm. Estou com Adelaide: assim como um bom livro e uma música (ah, esta é poderosa!), os aromas nos transportam pelos meandros do tempo, trazendo-nos de volta lugares, situações e principalmente pessoas. Um perfume, reputo, tem tanto poder para tanto, como a canção mais marcante. Belo post, Lord, digno de você. Forte abraço.
Essas lembranças, assim, me dão uma certa tristeza por não ter mais muitas das coisas que eram importantes para mim. Mas ainda bem que existiram. Muito bonito seu post.
Beijos
Eu não acredito:
Voltei aqui e comentei. Agora venho ver, não está, perdi...
Mas vou dizer o mesmo com forma diferente:
=-=-=-=-=
Lord, Não sei se é um poder ou uma fragilidade, mas não somos *agentes* dessa sensação. E é ela que nos invade, é ela que nos assalta.
Como diz o Ery, música, odores, cenas, um timbre de voz...
Não decidimos: viajamos, somos levados de carona na evocação.
Mas, o mais importante é que isso pode acontecer com todos, agora o saber transformar isso em texto de fruição literária, só mesmo para os que têm dom de viajar e na volta dividir o espólio do revivido,
Como diz o Silvares, a bênção, o dom, os pedaços de céu, ou de qualquer outra coisa. Enfim a mesma magia de sempre.
É por essa partilha que quero agradecer e dizer o quanto estou feliz.
A Vivina tem absoluta razão: é impossível menos que adorar esses textos mágicos, esses recortes de vida.
Beijos, muitos beijos para o Amigo querido e mais dois outros: um para Lady C. e outro para Vivina.
P.S. Só saio daqui quando me certificar que o comentário ficou, entrou etc;-)))
Você deve ir atrás de seus direitos com muito orgulho, isso sim. Já há gente demais deixando barato.
Desbravar novos caminhos é um desafio e tanto. Sorte pra ti nesta nova jornada :¬)
Que bom que voltou a postar.
Beijo, Lord.
A Meg me disse e eu vim aqui, pela primeira vez, constatar que acabamos de postar na mesma linha de pensamento: Cheirinho de mulher! Diferem as fragrâncias, mas coincidem os motes...
Voltarei mais vezes.
Muito legal essa coincidência sua com o Nelsinho. Fiz um post pra vocês lá em casa.
=)
Gosto muito daqui, embora sempre visitasse em silêncio...
Uma das coisas que mais me impressionam na mente humana é a chamada memória olfativa. Acho que todos já passaram por situações semelhantes. É mesmo de emocionar quando somos atropelados por um aroma do passado e fazemos verdadeira viagem até àquele tempo de outrora. Bom fim de semana!
As tias-avó deveriam ser eternas, lembro-me de férias, fazenda, Santa Luzia, café da manhã no seu cheiroso fogão de " fogo de pau".
Obrigado pela carona , Hot Pottery Lord
ab.
Meg, queridíssima,
Seria um Sonho de Valsa? Então ler o Lord engordaria.
Beijo grande
Ery, meu amigo,
Você tem razão. Lembremos o nosso Paulo Coelho, de quem falávamos outro dia. Sempre que tento ler o que ele escreve, penso comigo mesmo, antes de interromper a leitura: “Isso aqui não está me cheirando bem!”.
Grande abraço
Sandra,
Entendo você. Também fico triste, até por ser mais velho. Todas essas coisas, essas da memória, olfativa ou não, a maioria delas, já não está mais aqui. Hoje são apenas saudade.
Beijo grande
Meg, querida,
Pronto, o comentário ficou, para me deixar envaidecido. Você tem o dom de me envaidecer, sabe ser amiga. Só posso agradecer, não é mesmo?
Beijo grande, viu?
Carol,
O problema de desbravar, de ser pioneiro, muitas vezes, é que acabamos levando flechadas. De qualquer maneira, às vezes, não existe outra maneira de sobreviver.
Agradeço o seu carinho.
Beijo grande
Nelsinho,
A Meg, como sempre, tinha razão. Já fui te visitar, coloquei um link ao lado pra facilitar o ir e vir, e comprovei. Provavelmente tivemos algum tipo de identidade internética. No caso, talvez, seriam bits e bytes carregados de memória e percepção olfativa.
Grande abraço
Mariilia (é mesmo assim, com dois ii?),
Venha sempre e faça muito barulho. Às vezes isso aqui fica muito quieto e silencioso. É necessário que gente inteligente faça alarde. Obrigado pela visita. Como faço para ir à sua casa? Vou ver se acho lá na Meg. Depois linkarei você.
Beijo grande
Mário, meu velho amigo,
Ver você por aqui é sempre uma alegria para mim. Talvez você não tenha a dimensão do apreço que lhe tenho. Agora fiquei contente.
Grande abraço
Fernando,
As tias-avós, as nossas, pelo menos, são, sim, eternas. Essas lembranças todas cheiram muito bem.
Grande abraço
Mesma coisa que disse ao Nesinho:
como convidar a ir a nossa casa e não deixar o endereço?!
Obrigada pelo esforço em me achar...
E também pelo link.
Voltarei mais vezes e sem silêncio...
Abç
marília
aindapodiaserpior.blogspot.com
espero que esteja tudo mais tranquilo e que vc continue forte. esses obstáculos inesperados da vida as vezes vêm pra nos mostrar o quanto somos fortes, porém, sensíveis, e nem sabíamos.
beijocasssssssss e saiba que estou torcendo por vc.
ps: o cheiro que lembra minha infância é leite de colônia, sabonete alma de flores e talco promessa.rs... uma lembrança maravilhosa da minha avó querida. aiai.
Hahaha!
Lord, essa Marília é mesmo uma danadinha.;-)
É um amor e claro, claro que ela e o Nelson tinham de vir aqui.
Eu não achei assim propriamente uma coincidência.
Mas que há uma ligação *ODORIZADA* ou odorizante (ah esse meu querido Gugala, hahahah)ah isso há.
É que eu logo arranjo uma coisa para deixar meus Amigos queridos conectados.
Rememoração e memória dos sentidos, no caso dele.
Memória dos sentimentos , no seu caso.
MARÍLIA
Muitos beijos. O de Lady Cordélia nem preciso lembrar.
A-do-ro essa caiza de comentários..ops.. esta saleta de conversa:-))). A-do-ro
Gostei, Lord. Leite de Rosas...
Ainda existe.
Abraços, e bom fim de semana.
Caro Lord, por aqui se vê que a madalena de Proust também anda de transportes colectivos... comovente evocação, um abraço!
Adoro cheiros. Adoro voltar ao passado. Bjkª. Elza
Adoro cheiros. Adoro voltar ao passado. Bjkª. Elza
Lord,
Sempre fico impressionado com a força do cheiro. Às vezes, sem razão aparente, estou andando na rua e um cheiro que nem consigo identificar me remete a épocas mortas. Belíssimo texto!
Abraço
Diego
PS: O endereço do Para Ler Sem Olhar mudou. O atual está no link com meu nome.
Marilia,
Não foi esforço e valeu à pena. Volte, sim, muitas vezes.
Beijo
Perdidinha,
Hoje, particularmente, não estou em um dia dos melhores, mas tenho conseguido tocar o barco mais ou menos bem. Os cheiros por você enumerados também me despertam carinho.
Beijo grande
Meg,
Ler o que você escreve, receber sua visita, é sempre uma alegria para mim.
Beijo grande
Adelino,
Sabia que você gostaria. Sempre que leio as coisas que você escreve percebo carinho pelas coisas da memória, não importa se ela nos visita em forma de perfume.
Grande abraço
Huck,
É claro que o Proust, jamais, encontraria madalenas em transportes coletivos. Não consigo imaginar Proust em um transporte coletivo brasileiro.
Grande abraço
Elza ,
Eu também. Tem coisa melhor?
Beijo grande
Diego,
Obrigado pela visita. Retribuirei, deixarei um link ao lado para poder te visitar mais facilmente.
Grande abraço
Estimado Lord,
Teus leitores podem pedir
uma dedicatória tua?
Quero estar lá para levar-te
meu CD como presente.
Um grande abraço.
J.Fernandes
Lord Caco,
quanta emoção!
Lindo mesmo.
Beijo
Maria
Maria, querida,
Muito bom ver vocÊ por aqui. Preciso, urgentemente, retribuir a visita nos conformes.
Beijo grande
Muito bonito!
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