quinta-feira, abril 12, 2007

Snapshot

Também vou em festas, quando não consigo evitar. É muito divertido. Gente rindo e falando alto, música bombando a ponto de deixar qualquer cristão surdo, e um caminhão de comida. Na última em que fui estava previamente bem humorado. Prometi a mim mesmo que iria tentar me integrar, ser simpático, aproveitar aquela oportunidade maravilhosa de me sociabilizar com as pessoas. Minha analista, um dia antes, convencera-me de que seria o comportamento adeqüado. Se conseguisse relaxar, olhar direitinho para o tempo presente em volta de mim, sair do controle neurótico que sempre quero exercer sobre as coisas, certamente iria passar por momentos agradabilíssimos. Vesti uma roupa que fazia uma presença legal e fui à luta. Cheguei muito cedo, por volta de meia noite. A maioria, mais experiente, começaria a aparecer depois.
Procurando lembrar de sorrir comecei a conversar com as pessoas. Embora não conseguisse ouvir quase nada do que dissessem, meio que na base da intuição, concordei e discordei, simpaticamente seguro de mim. Imagino ter feito bonito papel já que a galera me queria em suas fotos. Máquinas das mais variadas marcas surgindo em todos os cantos. Difícil imaginar o número de pixels presentes. O dono da festa quis me registrar com os seus filhos. Para isso entrei numa espécie de fila. Primeiro esperamos que a cunhada fotografasse os meninos com os avós, depois com os primos, em seguida com os pais, com a cachorrinha, e então chegou minha vez. Como já tinha fixado a alegria no rosto com indevida antecedência, senti um pouquinho de câimbra no queixo. Depois um casal conhecido me convidou para posar junto com um grupo: os garotos, já não tão garotos, da escola. Tudo muito emocionante. Uma dezena de senhores abraçados, apoiando-se. Quando saboreava delicioso canapé de camarão puxaram-me pelo braço. Devo ter sido reproduzido mastigando.
Hoje em dia, felizmente, não perdemos mais nossos momentos emotivos. As nossas câmeras, democraticamente distribuídas, interrompendo, intrometendo-se, registram centenas, milhares de situações digitais inesquecíveis. As festas parecem-me mais divertidas. Fleches espocando, pessoas correndo para todo canto ajeitando os cabelos, retocando a maquiagem, naturalmente satisfeitas. Um barato!

21 comentários:

Vivien Morgato : disse...

outro dia eu comentava com uma amiga sobre a naturalidade com que os adolescentes posam, criam, recriam, transformam imagens. Uma olhada curta no orkut mostra isso.
O momento é flagrado, captado, modelado e remodelado. São diversas formas de construção da memória e eu acho incrivel.
Mas confesso que saio com sorriso amarelo e meio sem graça, todas as vezes.

Lord Broken Pottery disse...

Vivien
Eu também e, confesso, bastante irritado com a insistência. Ultimamente tenho viajado sem máquina. Cansei de perder momentos com o objetivo de registrá-los.
Beijão

Anônimo disse...

Alguém mencionou outro dia que, ao contrário dos japoneses, que fotografam do táxi à porta dos fundos do museu, os indianos privilegiam a memória.

valter ferraz disse...

Lord, fez a sua parte, concedeu algumas fotos e foi embora feliz, ou bem perto disso.
Hey, não vai postar nenhuma aqui? Tá na moda agora, meu caro.
Um abraço

a. disse...

festa com ou sem foto, prá mim sempre é chata.
fico quase invisível, estrategicamente posicionado, longe do som, perto da fonte de comes e bebes, se tiver que escolher uma fonte escolho a dos bebes.

prá agüentar festa só com muitos bebes.

ah! prá evitar constrangimento com as fotos sempre levo minha máscara óculos-sobrancelhas-nariz-bigode (do groucho).

O Meu Jeito de Ser disse...

Lord, você mostrou algumas da fotos para sua analista?
Se sim, ela te achou feliz ou não?
Quer saber de uma coisa, relaxa, como diz os meninos.
Agora as fotos acho que todos nós gostaríamos de ver.
Um beijo

Anônimo disse...

Há festas e festas, não? Têm as de doer, em q vc ñ tem intimidade c/ quase ninguém e, então, ñ rola nem conversa e nem dança, mesmo se o som estiver do bótimo. Adoro dançar, mas fico meio sem jeito se não encontro uma tchurminha de amigos pra sacudir junto (meio adolescente? Pode ser). Fico tar quar 2 de paus, meio perplexa ao ver a explosão vital alheia e eu ñ sentido nada... uma vontade de fugir! Melhores festas, então: acompanhada de um punhado de amigos! Pode ter som alto (pra gente dançar bte) e se tiver 1 cantinho pra tagarelar 1 pouco, lugar q dê pra ouvir o outro, jóia. "Adequado", despretensiosa e delicadamnete, pergunto: esse ñ é um termo estranho pra se usar em sessão de psicanálise? Bj.

Lord Broken Pottery disse...

Jayme,
O problema é que não dá pra falar em cultura, as duas são milenares. Nesse caso fico com os indianos: a minha arma é o que a memória guarda.
Abração

Valter,
Esse blogg tem compromisso com as letras. Nada de imagens. Além disso não o iria poluir com uma imagem minha, mesmo sabendo da importância da moda.
Abração

Alberto,
Seja bem vindo! O problema se acentua no meu caso, pois não bebo. Agora, aqui comigo, nem se fantasiando de Groucho os caras deixam a gente em paz.
Grande abraço

Aninha,
Parece que a curiosidade fotográfica é um questão de família. Nem eu mesmo vi as fotos. Apenas compareci à festa. Quem fotografou foram aquelas pessoas (a maioria) que só vão às festas para fotografar, viajam para fotografar, descansam fotografando, se filmam fazendo... Bem deixa pra lá.
Beijão

Anônimo disse...

Ah, para se ir mesmo a "boas" festas, é necessário estar no espírito... e tem gente q ñ gosta de festa mesmo. Nada contra. Bjs.

Lord Broken Pottery disse...

Sibila,
Realmente não gosto muito de festas. Prefiro estar com os amigos em ocasiões mais tranqüilas, onde possa conversar, adoro, como se diz hoje em dia, trocar uma idéia. O objetivo desse post, porém, foi chamar a atenção para o exagero no fotografar. As pessoas, na ânsia de registrar os momentos, não os aproveitam.
Beijão

Anônimo disse...

Ah, Lord, DE MO RÔ - como se diz hoje - ou a ficha ñ caiu (essa expressão denuncia a idade!). Qto a esse tipo de foto, detesto! E acho nesse excesso, total desperdício do estar c/ as pessoas. E detesto ser fotografada, fico desenxabida, sempre achando q sou + bonita do q "aquilo" q sai.. rárárá. Ai, ai, ilusões.

valter ferraz disse...

Lord, só para contrariar: detesto ser fotografado. Cedo aos apelos para não parecer chato e me arrependo sempre.

anna disse...

acho importante qdo a gente se expõe a situações particularmente desconfortáveis.

e pelo jeito, vc se saiu muito bem.

Lord Broken Pottery disse...

Sibila,
Essa questão de não gostar de ser fotografada me parece ser feminina. Conheço muito poucas mulheres que gostem.
Beijão

Valter,
Não ligo para ser fotografado. O que não gosto é de ser interrompido. Imagine estar num grupo, a conversa animada, você dizendo alguma coisa importante (pelo menos pra você), aí chega alguém e pede pra que a galera sorria para a máquina. Dá vontade de mandar...
Abração

Anônimo disse...

O melhor de uma foto,é aquela em que vc fotografa sem que a pessoa perceba.
Aqui é assim,o Valter detesta fotos, eu ao contrário nem ligo, saio comendo, brincando, beijando, que eu gosto muito, cozinhando. Sei la´, acho que é o meu jeito, nada me incomoda.
Agora de festas também não sou muito fã não, prefiro um encontro com amigos, sentar em qualquer lugar, e bater um longo e bom papo.
De preferência na minha casa, onde fico à vontade, vou para cozinha, faço algo bom para acompanhar a conversa.
Pronto,já está convidado.
Um beijo.

Lord Broken Pottery disse...

Aninha,
Ótimo! Hora dessas pinto aí no pedaço. Obrigado pelo convite.
Beijão

Lord Broken Pottery disse...

Anna,
Desculpe-me, não tinha visto sua participação. Saír-me bem em situações desconfortáveis é minha especialidade. Trabalhar para mim é um total desconforto.
Beijão

Anônimo disse...

Lord, li seu texto com um sorriso maroto no canto dos lábios. Em certos momentos "da caimbra no queixo" desatei a rir sózinho. Nós, nesse item FESTA, empatamos. Parecia você descrevendo meu ser em festas. Há muito não vou mais. Chega. Não tenho mais idade para me aborrecer. Agora reunião de seis pessoas acho o máximo, quando o som é baixo, a bebida honesta e a conversa diversificada!Começando cedo e terminando na hora de se ir para cama. Quem dorme de manhã é guarda noturno. Abraços.

Lord Broken Pottery disse...

Eduardo,
É isso, mais do que seis pessoas já considero tumulto. Bom que você tenha gostado.
Abração

Anônimo disse...

Adorei este post!
Eu me sinto um E.T. em festas cheias de pessoas esfuziantes...

Lord Broken Pottery disse...

Rosa,
Eu também, a melhor hora é a de ir embora.
Beijão