Era uma vez um menino que não queria escrever. Na família dele o avô, o pai, todo mundo era escritor. Considerava falta de imaginação seguir o mesmo rumo. Seria diferente, original, inauguraria um novo caminho estudando outra coisa, nada mais oposto ao terreno das letras do que números. E o menino fez uma enorme força para gostar deles. Decorou a taboada, aprendeu a fazer contas, mergulhou no mundo dos logarítmos e da trigonometria. Passou um período resolvendo equações, solucionando problemas, encontrando o xiz de muitas questões. Embora continuasse tendo melhores notas quando escrevia, insistiu na área de exatas. Com muito esforço deu conta do recado. Entrou para faculdade, concluiu o curso de Matemática, formou-se, foi trabalhar na área de informática.
Um dia o menino, já adulto, acordou triste. Percebeu que o mundo, de repente, sem a menor explicação, tinha se tornado um lugar incômodo. Foi quando começou a conversar, falar sobre o que sentia, coisas que nem sabia que sentia. De uma especialista recebeu um conselho: escreva um livro! E como já tinha a história guardada na cabeça, e uma vontade enorme de se ver livre dela, foi só passar para o papel e aproveitar a vida.
Deixou o livrinho um período escondido. Obras desconhecidas sempre ficam um tempo abandonadas em gavetas. Quase esqueceu que ele existia. Criou então coragem para mostrar ao pai. Qual seria a opinião dele? De uma coisa tinha certeza, seria sincero. O velho sempre fora verdadeiro demais com essas coisas. Ainda guardava a opinião que ele dera à respeito de um soneto juvenil que escrevera: uma droga, vá ler poesia!
Ficou uns dias aguardando o veredicto, ansioso. E então veio a aprovação, embora rigorosa. Dizia que tinha gostado mas que era suspeito. Mandaria o livro para uma escritora amiga avaliar.
E a história teve final feliz. A escritora Vivina de Assis Viana leu, aprovou e indicou o livro para a editora Atual editar. O livro recebeu prêmio e o menino, mesmo não querendo, virou escritor.
20 comentários:
Atavismos: não vale a pena lutar contra eles.
Jayme,
Tenho que reconhecer que você está certo.
Abração
Lord, hoje se diz: esta no DNA. E nada mais se pode fazer!
Desculpe voltar, esqueci de dizer que morro de inveja da limpeza do seu blog. Só o essencial. Nem uma virgula a mais. Assim é que eu gosto das coisas. E não consigo. Em poucos dias encho de cacarecos, no caso do blog de pregadores de roupa e etc...Parabéns, o seu é perfeito. Desculpe, mas precisava dizer.
cadê o livro..??
Caro Lord, emociono-me. Tinha certeza que um dia leria algo assim aqui. Lí hoje.
O Jayme está certo. Não adianta lutar contra.
Fico muito feliz de frequentar este canto. É aqui que me sinto bem.
Forte abraço
Eduardo,
Houve uma frase no passado que provocou muito os escritores, deixou-os danados da vida: uma imagem vale mais do que mil palavras. Esse espaço é, de certa forma, uma reação à frase. Tudo o que for dito será apenas com palavras. Lembre-se que você acaba de ganhar um merecido prêmio.
Grande abraço
Vivien,
O livro saiu em 1992. Chama-se Computador Sentimental e recebeu o prêmio Adolpho Einzen da UBE do Rio como literatura juvenil. Foi publicado pela Atual e assinei Ricardo Filho.
Beijão
Valter,
Você é meu irmão. Aqui você está em casa.
Grande abraço
Meu querido Lord Caco,
fui lendo e me lembrando do menino que -constava- gostava de matemática, mas não perdia um segundo da conversa dos "mais velhos", que só sabiam falar de livros. Menino que vivia por ali, rondando. Ouvindo como ninguém. Muitas vezes me perguntei o que tanto fazia ali, sentado no chão, aquela criaturinha que, todos sabiam, pertencia aos números. (Quem gostava de livros não era o irmão mais novo?)
Como a verdade sempre aparece, um dia recebi os originais do "Computador Sentimental" (o livro é esse, viu Vivien?), que li com duplo prazer: eu era amiga do pai -de certa forma trabalhávamos juntos- e o filho, o autor, era o menino dos cálculos!
Lord, meu amigo, estou emocionada por fazer parte de suas lembranças.
E te leio hoje com a mesma alegria
da época do primeiro livro.
Beijo da
Vivina.
Vivina,
Quem ficou emocionado fui eu. Bom relembrar aqueles tempos tão nossos.
Beijo carinhoso
ôpa, parabéns, parabéns querido!Literatura! E que seria da matemática se descobrissem a perfectibilidade da lógica?
... nós e nossas circunstâncias ...
1) Lord, vou procurar e ler, depois comento.
2) Vivina, lembro de ver vc falando na Bienal nestle de literatura bras, nos anos 80. Chiquérrima, aliás.
Sibila,
Pois é. A matemática entrou pela minha vida de um jeito esquerdo, mas até que não foi ruim.
Beijão
Peri,
Pois é circunstâncias circunscritas.
Grande abraço
Vivien,
Se não encontrar me avisa. Bienal Nestlê, você não calcula o reboliço que acontecia em casa nessa época.
Beijão
Lord, já escrevi um post sobre isso, vou colocar no ar amanhã. Imagino como deveria ser, se não estou enganada, seu pai era o organizador.
Então amanhã conto como foi, na ótica da então garota de 16 anos.;0)
Vivien,
O velho, Ricardo Ramos, era o idealizador e organizador. Ele vibrava muito com e adorava o evento.
Beijão
Lord e Vivien,
pois é, a Bienal Nestlé de Literatura Brasileira.
Paricipei dela durante alguns anos (de 84 a 91?), a convite do Ricardo, idealizador, organizador, coordenador, e uma espécie de "chefe" de três dos quatro responsáveis pelos concursos, seminários,júris, etc, assim distribuídos:
Poesia: José Paulo Paes;
Romance: Bella Josef
Infanto-juvenil: Vivina de Assis Viana...
Conto: Ricardo Ramos
Vivien, viu por que você se lembra de mim?
Ah! Chiquérrima? Você não estaria me confundindo? Ou será que já me esqueci de mim?
Beijos aos dois
Vivina.
Puxa Lord, que emocionante sua história!
Eu acho gostoso ver pessoas que conseguem ter seus sonhos realizados assim, isso mostra, que embora muitas vezes somos temerosos, vamos à luta, e o que foi feito para brilhar não pode ficar guardado na escuridão.
Parabéns.
Um beijo
Vivina,
Chiquérrima, com certeza.
Beijão
Aninha,
Não sei se fui feito para brilhar, mas escrever me faz bem. Obrigado pelo seu carinho.
Beijão
Ainda bem.
Que sorte a nossa!
Que sorte a minha que te achei!
Beijuca
Van,
Puxa! Legal você ter lido isso. A sorte é minha.
Beijo
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