Acordei com saudades de Hastings. Abri os olhos ainda mal acomodado na poltrona world travel da British Airways. A noite arrastara-se entre impaciências e dores nas costas. Difícil acomodar alguém que mede mais do que um metro e meio naquelas cadeiras. Nem mesmo o entretenimento valera, já vira Russell Crowe em melhores filmes do que Master and Commander: The Far Side of the World. Após o britânico desejum, ainda com o travo gorduroso de salsichas, ovos e tomates amargando a boca, preparei-me para aterrissar em Heathrow.
No saguão do aeroporto, aguardando a conferência do passaporte, aconcheguei as orelhas no cachecol. A mesma excitação e felicidade de sempre. Emprenhando os ouvidos com o idioma estranho reprogramei-me para entender e responder on the spot.
A caminho da tube station, arrastando a bagagem de rodinhas, pude deliciar-me com o frio. Após semanas de uma São Paulo descaracterizada por calor estranho e ameaçador, nada como um clima normal. Desci na Victoria Station para pegar o trem, mais duas horas de viagem me aguardavam. Embalado pelo sacolejar do vagão, o ar quente amornando os sentidos, lutei para manter-me acordado. O velho medo de perder a cidade, dormir e seguir além do destino. East Sussex e suas plagas litorâneas enchendo a janela de mistério, desfilando o verde de UK, como não vi mais bonito, abrigando ovelhas úmidas e borradas de terra.
E então cheguei. A pequenina Hastings, lá desde 1066, recebeu-me gentilmente, old lady, very British. A modesta estaçãozinha, pendurada no alto da cidade, revelou-me as ruas tranqüilas friorentas. O comércio de sábado funcionando. Lá em baixo, quase no horizonte, o mar cinzento, mau humorado e belo, emocionou meu olhar jogando em meu rosto um vento gelado. Respirei fundo enchendo os pulmões de ares e cheiros.
Lentamente desci em direção à Warrior Street. No coração a imagem de Cordélia, minha mulher, batia apressada, aguardando-me no Clevedon Hotel. Nada como reencontrá-la.
14 comentários:
Lord, obrigado por me levar à Inglaterra. Não tenho passaporte. Mas fui assim mesmo. Cheguei a sentir o frio nas orelhas, quase puxei as abas do boné para proteger as "ouças"(essa aprendí com meu amigo Fernando Cals). Por pouco esqueço-me do calor abafado aqui de Mongaguá que não se parece em nada com Hastings. Bom, desembarco.
Abraço grande
Valter,
Realmente precisamos estar com as ouças protegidas em terras de Sheakspeare. Bom que você gostou da viagem. Estamos mesmo precisados de um clima mais ameno.
Big hug
já já vou eu. valeu, pois já sei o que vai na mala.
belo texto. já tô me aclimatando.
Anna,
Obrigado. Na mala um gorro, cachecol, luvas e pounds, muitos pounds, o mais difícil.
Kisses
Oi, Lord.
Obrigada pelo comentário tão gentil,lá no meu blog,aliás, já respondido. Esquecera-me de que já conhecia este teu cantinho. Que falha imperdoável!
Gostei das reflexões sobre a nossa língua e os rumos que a linguagem do dia-a-dia anda traçando.
Ah, observei o link para o meu blog, o que será devida e imediatamente retribuído.
abraço, garoto
Denise,
Bom te ver por aqui. Esteja em casa. Obrigado pelo garoto, faz tempo que não me chamam assim.
Kisses
Ano que vem , quem sabe, espero encontrar a Sra. P.S.C. em Venezia, no inverno. Podemos marcar um jantar ali pela Lombardia, no meio do caminho.
Peri,
We've got a deal!
Big hug
Quase um Dr Jivago. Chiquetérrimo.
abraço
Gugala, é bom ter o Lord por perto, não?
Abraço
Guga,
Bem lembrado, belo filme!
Abraço
Valter,
Bondade sua.
Abraço
Lord, vim retribuir os votos de paz pra todos nós.
abraço, garoto
Milord, ainda em Hastings?
Big Hug
Denise,
Nós merecemos.
Beijo
Valter,
Pronto, já voltei!
Abraço
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