quarta-feira, novembro 01, 2006

All Soul's Day

Fim de férias longuíssimas, quase três mêses fora. Naquela época terminávamos as aulas em novembro e só começávamos o ano letivo em março. No ônibus, refazendo o caminho em sentido oposto, lembro da sensação gostosa que sentia. Saudade grande. Queria andar pela rua arborizada, dormir na cama em que estava acostumado, rever os amigos, botar minha irmã pequena no colo, conversar com meus pais. A ansiedade que sentia era companheira ingrata. Sabia, porém, que por mais tempo que demorasse na estrada, por mais calor que sentisse, em breve chegaria ao meu destino. A impaciência juvenil, em nenhum momento, conseguia ofuscar a felicidade daquela viagem. Era bom voltar para casa.
Meu pai atendeu respondendo aos nossos apelos insistentes. Só de farra esquecêramos os dedos na campainha da porta, prolongando o chamado para nós festivo. Anunciávamos brincalhões nosso retorno. Pulei nos braços dele. O abraço que demos foi tão apertado que senti o acelerar dos dois corações disparados, atropelando-se colados, o meu e o dele. Jamais esqueci aquele reencontro. Com os olhos úmidos o velho declarou a falta que sentiu de mim. Beijou-me com carinho. Pude perceber o quanto eu era importante e querido. A magia daquele momento ainda é capaz de me comover, tantos anos depois. Me dá forças até hoje.
Amanhã, dia de Finados, tentarei não chorar.

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