quarta-feira, fevereiro 28, 2007

A Brain Wave

Sábado participei de uma exaltada discussão em sala de aula. O tema era inspiração. Existiriam momentos especiais que surgem do nada, como se daria o processo artístico criativo? Para minha surprêsa a turma dividiu-se em dois grupos distintos, sem meio termo. Uns acreditando em instantes mágicos, quando os caminhos aparecem de maneira extemporânea outros, talvez menos sonhadores, insistindo na força do trabalho.
Posicionei-me com os últimos. Arte é suor. Sem planejamento, dedicação total ao esforço de se produzir, empenho em reservar, metodicamente, parcela importante do tempo ao ato inventivo, nada se concebe de importante.
Na busca insistente e criteriosa pela melhor forma de expressão o belo aparece. É necessário isolamento, disposição, coragem para encarar a frustração quando o objetivo não é alcançado. Recomeçar, insistir, experimentar, refazer, são verbos cotidianos na vida de quem cria. Nenhum verso cai do céu, inexistem quadros famosos pintados ao acaso, o fortuito passa ao largo da qualidade.
Embora a afirmação tire o glamour de muita gente o artista é um operário.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Full Stop

Acabamos de enviar o último capítulo para o Brincando na Rede. É sempre instigante a interação com crianças. Escrever uma história infantil em um site, recebendo opiniões que vem das mais variadas localidades, é uma experiência original em termos do trabalho criativo. Podemos sentir o pulso dos leitores mirins quase que imediatamente. O desenrolar das páginas que produzimos, sujeitas às sugestões de meninos e meninas que participam lendo, torcendo pelas personagens, interferindo diretamente no resultado, torna a jornada uma aventura inesquecível.
Já estou sentindo falta do período em que estivemos no ar. Os dez capítulos passaram rápido. Fica uma espécie de vazio, como se alguém muito querido tivesse partido. Apesar de ter sido minha terceira história para o grupo, a emoção se renova. Pra quem não conhece, segue o link: http://www.brincandonarede.com.br/Conto/VerContoAspFr.aspx?cdl=42

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Overbooking De Ministros

O título não é meu. Enquanto as discussões sobre segurança, maioridade penal e violência, ocupam a cabeça do cidadão médio brasileiro, o homem preocupa-se em acomodar ministros. Do jeitinho dele, tatibitate. Tentando não se comprometer, avançando, recuando, prometendo, voltando atrás, querendo, de todas as maneiras, agradar ao maior número de partidos possível. Não há dúvida de que sobrarão candidatos a canditado. Incrível o apetite pelo cargo. O povão, aos poucos, começa a perceber. Fátima, a mocinha que me serve na padaria, comenta que deve ser muito bom ser ministro: "Tem tanta gente querendo...".
Incrível como esse governo é dissociado das mais simples aspirações públicas. Desde que voltou de suas merecidas férias no Guarujá o nosso presidente, enrolado na difícil escolha de seus auxiliares, jamais tentou sentir pelo que pulsa o coração de seus eleitores. Brasília é uma ilha cada vez mais distante dos problemas reais. Nove em dez jovens internados por crimes no Brasil não tem ensino médio. Mas isso... É claro que é outra história. Deixa o homem trabalhar!

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Zimbo Trio

O ano de 1964 foi inesquecível para o bem e para o mal. Trouxe-nos o golpe militar e um longo período ditatorial, deu-me uma irmã, a Mariana, viu nascer o Zimbo Trio.
Não podia deixar de fazer minha homenagem ao Luiz Chaves, maravilhoso contrabaixista, falecido ontem, aos 75 anos. Junto com Rubinho Barsotti na bateria e Amilton Godoy no piano, formou um dos mais importantes e sólidos grupos musicais que já tivemos. Ouvindo, maravilhado como sempre fico ao escutá-los, O Morro Não Tem Vez escrevo essa postagem. Parece que vejo a figura esguia abraçada ao instrumento de madeira, os dedos precisos fazendo as cordas gemerem a melodia, beliscando a canção dolentemente. Comovo-me relembrando o passado. As noites em família, a televisão em branco e preto, a casa onde morávamos. O programa "Fino da Bossa" e o palco dividido com Elis Regina. A elegância competente dos músicos que ajudaram a criar o samba-jazz, terno escuro e gravata fininha.
Tomo a liberdade de incluir, sei que o poetinha Vinícius não se incomodaria, Luiz Chaves no Samba da Bênção.
A bênção, Luiz Chaves!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Treasure Island

Quando eu era menino li a Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson. Passei por Moby Dick e Robinson Crusoe com igual entusiasmo. Era um tempo de Mark Twain; Jack London; Rudyard Kipling; autores de fôlego literário. Grandes escritores.
Interessado que sou em literatura juvenil e infantil, tenho lido muito do que se faz atualmente. Considero porém que mudou-se o foco. Antes, no passado, atraía-se o leitor pela excelência. Agora, como tudo em nosso mundo, inventam-se fórmulas, modelos adotados para atrair.
Existem assuntos que gostaria de ter conversado com meu pai antes que ele morresse. Tendo crescido em uma casa de literatos, vivendo a palavra escrita diariamente, estranho nunca ter ouvido falar em Talkien. Haveria razões políticas? Seria considerado menor? Sinceramente não sei. O fato é que O Senhor dos Anéis já estava escrito por volta de 1954.
Hoje a base da literatura juvenil escrita tem origem em Talkien e em J. K. Rowling. Os elfos e Harry Potter estão por toda parte. Se pegarmos Terry Brooks e sua trilogia A Viagem, deliciosa por sinal, veremos anões, gnomos, bruxos, druídas, tudo o que existe nos dois primeiros citados. E isso só para dar um exemplo.
Será que está errado? Acho que não. A grande magia é fazer nossos jovens lerem. A imaginação levada ao mais extremo limite tem conseguido atraí-los. Não há como se criticar a perda de qualidade. É lendo que se aprende a ler.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

What A Lark 2!

Apesar de ter acabado a folia podemos continuar no mesmo assunto, falando de coisas alegres. A quarta-feira, embora de cinzas, não afastou meu conhecido espírito carnavalesco. Mas com certo cuidado, é claro. Desde que em 1989, o escritor britânico Salman Rushdie, por meio de um fatwa do aiatolá Khomeini, foi condenado à morte, não ponho a mão em cumbuca. Evito escrever sobre coisas que possam ferir suscetibilidades muçulmanas, podem não me interpretar corretamente. Não nasci para ser explodido.
Já repararam como nossas marchinhas carnavalescas passeiam por temas curiosos? Com o nosso bom humor peculiar, em nossa festa pagã anual, desde que me entendo por gente, cantamos temas ligados ao pensamento islâmico. E nunca tivemos problema. Eles entendem nossos bons propósitos. Quem não cantou Alá-Lá-Ô de Haroldo Lobo e Antônio Nássara? O povo gritando nos salões: Alá, meu bom Alá... , e reclamando do calor, nunca foi incomodado. E a Cabeleira do Zezé? Vai entender o que João Roberto Kelly e Roberto Faissal queriam dizer com: Será que ele é Maomé? Até hoje não captei, mas tudo bem.
Os sobrenomes Nássara e Faissal, prováveis pezinhos no Oriente, poderiam dar o aval necessário. Simples? Talvez...

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Checkmate

Leio sobre as aprovações na Câmara relativas à segurança. Fala-se em redução de maioridade penal. Sou contra. Não acredito em ações tomadas no calor da emoção. Temos que ser racionais e técnicos na hora de legislar. Crime é reduzir a verba para educação.
Antes de pensarmos em alongar o período em que as pessoas ficam presas deveríamos refletir. Para que servem as prisões? Basicamente para tentar corrigir o indivíduo. Prepará-lo para que possa ser reintegrado à sociedade sem colocá-la em risco. E como estão as nossas instituições? Menores infratores entram na FEBEM analfabetos e saem de lá analfabetos. O que aprenderam no período em que lá estiveram? Adultos, ladrões de galinha, saem dos presídeos assassinos. O que aprenderam? Nada. Aprimoraram-se na violência, ganharam mestrado e doutorado em crime.
É triste ver crianças brutalmente assassinadas. Os jornais de hoje mostram um menino de doze anos, drogado, sendo preso por matar a facadas a avó. Outra violência infantil. O que leva um garoto a fazer isso? Mais simples e fácil é trancafiá-lo, pela lógica imediata dos afoitos.
Sem um projeto sério que passe por minorar as desigualdades sociais não adianta. Com a crônica carência de pleno emprego, o orgulho das classes menos favorecidas lá em baixo, e sem educação de boa qualidade nas escolas, o futuro é o pior possível. No jogo de xadrez em que nossas vidas se transformaram há muito tempo foi dado cheque-mate.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

I Swear

- Não é possível!
- O que?
- Você é ateu?
- Sim.
- Não acredita em nada?
- Em várias coisas, mas não em Deus.
- No que, por exemplo?
- Na força do homem, na capacida de construir e, principalmente, destruir.
- Hah, mas você não reza?
- Rezar pra quem?
- Pra Deus!
- Mas se não acredito...
- Jura!
- Claro que juro!
- Por Deus?

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Freshman

Também fui calouro. A experiência foi traumática, não guardo boas recordações dela. Considero a prática de receber alunos novos com trotes humilhante. Sempre fui da paz, não gosto de violência. Quando jovem, bem mais esquentado do que sou hoje, não admitia falta de respeito. Como resultado arrumei confusão em meu primeiro dia de aula. Bati em um veterano, xinguei a mocinha que insistia em me pintar, não houve acordo para que me cortassem os cabelos. Como conseqüencia da valentia exagerada, fiquei meio que proibido de aparecer na PUC. Passei os seis primeiros mêses do curso me escondendo. O maior prejudicado, claro, fui eu. Devia ter tido mais jogo de cintura.
Todo ano é a mesma coisa. Jovens inteligentes, recém aprovados no vestibular, felizes da vida, são recebidos por uma turba de veteranos sádicos, loucos para descontar neles as frustrações dos anos letivos. Apanham, machucam-se, correm riscos desnecessários em nome de uma tradição idiota. Muitos perderam a vida com essa prática ignóbil.
As ruas estão cheias. Ontem, caminhando pela avenida Paulista, pude ver no chão cachos de cabelos cortados. Meninos e meninas esmolando dinheiro para suas baladas. Simpáticos. Um clima festivo tomou conta do meu horário de almoço. Apesar de tudo, senti saudade do meu tempo.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

The Queen

Sou fã do cinema Inglês. Filmes como Billy Elliot, Vera Drake e Full Monty, só para citar alguns, fizeram minha cabeça. Gosto de ouvir o idioma de Shakespeare bem falado. O sotaque americano, como a maioria das coisas yankees, cada vez mais me irrita. A ambientação, o clima, a paisagem, os costumes, tudo que é britânico me cativa, faz com que sinta saudades, enorme vontade de estar na Inglaterra.
Acabo de assistir The Queen de Stephen Frears, que já havia feito o ótimo High Fidelity em 2000. O filme provocou-me mixed feelings. Oscilo. Boas obras muitas vezes me deixam assim: pensando.
Sempre gostei de Helen Mirren. Conheço-a desde o tempo em que fazia, na televisão, a detetive Jane Tennison, na série Prime Suspect. Maravilhosa intérprete. Se não levar o Oscar estaremos testemunhando mais uma grande injustiça. A própria Elizabeth II deve ter se visto muitas vezes na bela atuação, como no espelho. Também gostei de Michael Sheen fazendo o Tony Blair.
Somos colocados no centro de uma grande batalha. O mundo tradicional e antigo representado pela família real e o moderno por Lady Di. O recém empossado governo mediando a questão. O povo querendo homenagear sua princesa morta e a monarquia relutando em assumir o luto. A ficção nos traz uma rainha humanizada, em conflito interior, e um primeiro ministro aproveitando bem o momento. No fim os dois ficam bem na foto.
Lembro de chegar em Londres pouco depois do acidente. No aeroporto fizemos dois minutos de silêncio em homenagem à Princesa Diana. Muita emoção no ar. Vi o colorido do mar de flôres no palácio de Buckingham. Lágrimas semelhantes às derramadas aqui, quando perdemos Ayrton Senna. O povo escolhe seus deuses.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

What A Lark!

A folia está próxima, mais uma semaninha e o carnaval terá chegado. Não que mude muita coisa, afinal vivemos em constante confusão. O próprio presidente declarou que não pensa em mais nada. Provavelmente tem sonhado com mulatas, passistas e pandeiros. Se o saudoso Sergio Porto fosse vivo comporia o Samba do Presidente Doido. Começaria mais ou menos assim: "Foi em Garanhuns, onde nasceu Lula lá...". O homem disse que ministério só depois da quarta-feira de cinzas. Dizem que a Marta proibiu que usassem o telefone em casa. Aguarda, ansiosa, o importante Ministério da Educação, por isso a linha deve estar desocupada sempre.
E já que falei nas maravilhas da nossa maior festa popular, deixo uma pequena explicação, afinal o blog do Lord Borgen Pottery também é cultura. Sabem de onde vem a palavra frevo? De ferver. As coisas começam a "frever", agora falta pouco. No Recife o povo já "freve" ouvindo Vassorinhas. E eu também "frevo", de raiva, quando penso nesse nosso país.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Bathed In Blood

Estamos cansados de nos banhar em sangue. Tocam fogo em ônibus ocupados, seqüestram, assaltam, prendem crianças em carros e depois incendeiam, estupram, arrastam meninos pendurados em cintos de segurança pelas ruas, destruindo pequenos e frágeis corpos no asfalto. Há um mal estar generalizado: revolta, dor, ódio, vontade de vingança. Emoções à flor da pele.
Impossível fugir. Temos vasta conta a ser cobrada. Embora não possa justificar a violência dos crimes perpetrados, não há como evitar se constatar a realidade que nos rodeia. A nação se apequena. Jovens sem perspectiva, perdidos em lares desfeitos pela miséria, agredidos pelo desamor, dominados pelas drogas, lançam-se à batalha final. São os nossos homens bomba. Explodem a sociedade vil, o mundo, a vida, as ladeiras, os becos, a escuridão das favelas. Utilizam a matemática do horror para dividir as lágrimas. Eu choro, tu choras, nós choramos. A rotina apocalíptica que nos visita era e é previsível. A desigualdade fermenta o modelo que nos cerca espicaçando a inveja, a vingança, o acerto de contas final.
Andar vestido, ter onde morar e comer é demais. Entendo os bandidos presos sem camisa, descalços, julgados e condenados desde que nasceram. É o Brasil mostrando a cara.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Ill Breeding

Ouço o deputado Clodovil Hernandez falando na Câmara. Em seu primeiro discurso encontra platéia inquieta que não lhe dá a menor atenção.
Não é a primeira vez que reparo na total falta de educação com que os deputados brindam seus pares. Volta e meia aparece na televisão alguém esquecido atrás de um microfone, solitariamente esbravejando, sem que lhe ofereçam escuta.
O nobre representante do povo, marinheiro de primeira viagem, em tom divertido, conta que temia o tal do decoro parlamentar. Repreende os presentes perguntando onde está a compostura? Chama o recém eleito presidente da casa de mal educado. Tem toda razão.
O Dicionário Houaiss da língua portuguesa nos ensina muito bem. Apresenta os seguintes verbetes para a palavra decoro: recato no comportamento; decência; acatamento das normas morais; dignidade, honradez, pundonor; seriedade nas maneiras; compostura; postura requerida para exercer qualquer cargo ou função, pública ou não.
Mais tarde, instado a falar sobre a declaração do colega, o deputado Arlindo Chinaglia, agastado, pautando o repórter, pergunta se ele acha aquilo relevante. Eu acho.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Dog's Life

Vida de cachorro não é fácil, agora entendo melhor a expressão.
Almoço sábado na casa de amigos. Ambiente alegre, muita gente falando, comida deliciosa. Faço o prato e acomodo-me em uma poltrona. O cachorrinho para em minha frente. Não tira os olhos do garfo, acompanhando o ir e vir do talher com grande interesse. Em alguns momentos um tremor percorre todo o seu corpo. Espécie de arrepio de ambição. O bicho é educado e não exige, como tantos, parte de alimento. Controla-se com olhar pidão.
Reparo na posição estática, toda ela desejo, do pequeno animal. Como seria se vocês tivessem que comer ração sempre, já imaginaram? Diariamente o mesmo cardápio balanceado. Nada de carnes assadas, tortas, doces e sorvetes. Apenas aqueles grãozinhos marrons que parecem borracha. Avaliem estar em uma sala, ter o olfato muito mais apurado que o nosso, sentir a fartura de odores maravilhosos e não poder provar. Imaginem ter fome e se contentar com plástico sabor churrasco. Dog's life.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Talking About Politics

Não é sempre que consigo ficar distante da política. Uma de minhas primas parou de me visitar nesse blog por discordar das opiniões que emito. O que posso fazer?
Acordo ouvindo a voz irritante da Senadora Ideli Salvatti. Afirma ao repórter da rádio que foram as forças reacionárias desse país que cassaram o Zé Dirceu. Daquele jeito explicadinho e exaltado de sempre revela, em tom didático, que nunca se provou nada contra ele.
Para isso foi eleito o Arlindo Chinaglia. É tudo muito previsível nas articulações do grupo a que ele pertence. Vencidas as eleições para a presidência da Câmara já são dados os próximos passos. Agora é iniciar o processo para reverter o processo que afastou o pai do mensalão. Tem muita gente pesada envolvida nessa espécie de pizza retroativa: Marta Suplicy e José Genoíno, só para citar dois exemplos.
Cuidado! Se cochilar o cachimbo cai.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Missing

Muitas saudades. Do bivô Américo que me levava para cortar cabelo assim que eu chegava. Eram castanhos e cheios, escuros, não ralos e grisalhos como agora. Dos amigos do Colégio Dante Alighieri, o pátio da escola, o recreio, o Mariano tocando sino. Sinto falta do violão de Rosinha de Valença no fino da bossa. Saudades muitas. Das férias que iam até março, do trânsito de gordinis e "decavês", da garoa de São Paulo. E drops dulcora de limão nas matinês: Tarzan o Rei dos Macacos. Nunca mais decorei Pessoa e Bandeira, esqueci as palavras de Vinícius no Samba da Bênção. Onde está você, a voz linda de Alaíde Costa. As velhas tardes de domingo, o Santos de Pelé, a branquinha no bar da esquina, a calça boca de sino, o arroz de forno de Alice. Saudade do abraço do meu pai, conversas, voz, cheiro, tato, de tudo dele. E de minhas avós tão parecidas e diferentes. A casa de Pinheiros, meu quarto de adolescente, do poster do Guevara, página do meio da revista Fairplay, as vizinhas de frente, pastel de chinês na Teodoro Sampaio, futebol de salão aos sábados. Nunca mais as músicas italianas: Endrigo, Nico Fidenco e Gianni Morandi. Férias em Itanhaém, Salvador, Rio, Cachoeira Paulista. Meus primos e primas queridos. Tom Jobim, Baden Powell, Elis Regina. Muitas saudades. Por onde foi que eu me deixei? O tempo voou.